segurança progride "na direção certa" - líder da EUTM

por Lusa
Jean Bizimana - Reuters

O vice-almirante Hervé Blejean responsável pela missão de treino militar da União Europeia (UE) para as tropas moçambicanas disse hoje que a segurança em Cabo Delgado, norte do país, progride "na direção certa", após uma visita ao terreno.

"A impressão é que as condições progridem, nomeadamente em redor das cidades, que é do que precisam", assim como "no norte, em que a coordenação com a SAMIM [missão da África Austral] e o Ruanda será chave para a avaliação de segurança. Acredito que está a ir na direção certa", referiu o diretor-geral da Capacidade Militar de Planeamento e Condução da UE.

A avaliação baseia-se "tanto nas discussões" realizadas, como "pela impressão no terreno". 

"Por exemplo, em Pemba, não me senti de forma alguma inseguro", sublinhou hoje em entrevista à Lusa e RTP-África em Maputo, após visitar a província a convite das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM).

No terreno, Blejean pôde acompanhar tropas da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SAMIM) e apesar de considerar que está a ser feito "um grande trabalho com as FADM", eficiente e bem coordenado, a situação "ainda é um desafio" com insurgentes agora dispersos que continuam a saquear povoações e a atacar civis.

Blejean refirmou em Maputo a vontade já expressa a eurodeputados em janeiro: pretende levar para Cabo Delgado o treino e aconselhamento da UE que está sedeado nas bases de Catembe e Maputo, dois mil quilómetros a sul (no extremo oposto a Cabo Delgado), e também no Chimoio, centro de Moçambique.

"Vou advogar junto dos estados-membros para abrir a área de missão a Cabo Delgado, respeitando o mandato não-executivo", ou seja, "não é um mandato de combate".

Tal alargamento permitiria ter uma "ligação ao terreno" mais eficaz e até realizar treinos dedicados em Pemba para determinadas unidades em ação, num modelo mais flexível, como já acontece noutras missões da UE em África, disse.

Quando a UE decidiu em 2021 aceitar o pedido para treinar tropas moçambicanas, foram escolhidas bases para o fazer fora de Cabo Delgado devido à insegurança na província, na altura ainda sem tropas da SAMIM e do Ruanda. 

Mas a situação "melhorou" e Hervé Blejean espera que nos próximos tempos os países da UE autorizem esse alargamento no mandato.

No terreno, as forças africanas são parceiros de confiança na segurança, "absolutamente", sublinhou, apelando também ao seu financiamento.

"Há interesse de estados-membros para dedicar dinheiro do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz para apoiar a SAMIM e as discussões continuam", referiu.

"Não é dar dinheiro para fazerem o que quiserem, é dar equipamento e outras coisas de que necessitem através desse mecanismo: estou confiante em que os estados-membros concordem apoiar a SAMIM dessa forma", detalhou.

O mecanismo é o mesmo que financia a EUTM e através do qual um primeiro lote de equipamento deve chegar em junho para as tropas moçambicanas ficarem apetrechadas depois de treinadas: equipamentos completos, do capacete às botas, veículos e outros componentes não-letais.

"O financiamento é crucial nestes assuntos. As onze companhias de reação rápida que estamos a treinar estarão todas equipadas, graças a financiamento da UE", que, neste capítulo, ascende a 89 milhões de euros, destacou, em linha com os anúncios que têm sido feitos.

Durante a visita a Cabo Delgado na última semana, Hervé Blejean esteve em Macomia, vila do centro da província que já foi tomada por rebeldes mais que uma vez e que agora é considerada uma zona segura.

Mas nos arredores ainda há medo. O líder militar europeu passou pela aldeia Quinto Congresso (nome em alusão à antiga reunião magna da Frente de Libertação de Moçambique) que tinha sido atacada no dia anterior, provocando vários feridos, prova de que "os desafios" persistem, referiu.

Blejean esteve em Pemba, capital provincial, onde visitou a base naval e dali seguiu num helicóptero sul-africano até Macomia, sobrevoando "matas e florestas" onde os grupos "ainda se podem esconder".

Aquele responsável vê sinais positivos, com as empresas a fazer as suas avaliações de segurança e considera que o regresso de investimentos, promovendo emprego, será um momento de viragem.

Mas a resposta sobre quando isso acontecerá, nomeadamente quanto aos projetos de gás suspensos há um ano (após o ataque a Palma), ainda não foi tornada pública.

 

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