Seis meses de guerra. Unicef alerta para crise de "proporções alarmantes" na Faixa de Gaza

por Cristina Sambado - RTP
Ashraf Amra - Anadolu via AFP

Desde 7 de outubro de 2023, mais de 32 mil pessoas perderam a vida em toda a Faixa de Gaza e na Cisjordânia, incluindo 13 mil crianças, e mais de 74 mil ficaram feridos. Cerca de 1,7 milhões de pessoas – quase 80 por cento da população da Faixa de Gaza – foram deslocadas, das quais 850 mil são crianças. Os números foram confirmados esta terça-feira pela Unicef, que está no terreno a apoiar os menores e as famílias.

Segundo a agência das Nações Unidas para a Defesa e Direitos das Crianças, “nos últimos seis meses, a crise humanitária na Faixa de Gaza atingiu proporções alarmantes”.

Até ao momento, 155 unidades de saúde foram danificadas, o que corresponde a 84 por cento das instalações de saúde na Faixa de Gaza. Mais de 170 membros das equipas da Organização das Nações Unidas perderam a vida.

A insegurança alimentar intensificou-se com a interrupção contínua das cadeias de distribuição e a destruição de infraestruturas”, lê-se no comunicado da Unicef enviado às redações.

A agência da ONU frisa que, cerca de 1,1 milhões de pessoas estão em risco iminente de enfrentar a fome, sobretudo no norte da Faixa de Gaza. A falta de acesso a água potável afeta 81 por cento dos agregados familiares, com disponibilidade média de três litros de água por pessoa por dia, muito abaixo do padrão mínimo de 15 litros, aumentando o risco de doenças infeciosas e problemas de saúde graves, principalmente entre crianças”.
Na área da educação, foram destruídas 386 das escolas na Faixa de Gaza, o que afetou 625 mil estudantes.
Apesar dos ataques, da escassez de combustível e dos bloqueios de comunicação, a agência da ONU permanece no terreno, a entregar ajuda. “Até ao momento, ajudámos mais de um milhão de pessoas com a entrada de 594 camiões e 43 voos charter da Unicef na Faixa de Gaza”.

Entre as ações realizadas nos últimos seis meses, a estrutura destaca:

  • A distribuição de suplementos nutricionais para 36.866 crianças e 21 mil mulheres grávidas;


  • Fornecimento de água potável para mais de 1,6 milhões de pessoas e melhoria dos serviços de saneamento e higiene para 495.187 pessoas, incluindo 4.400 pacotes de fraldas para bebés só nas duas últimas semanas;


  • Assistência médica para 609.785 pessoas, incluindo a entrega de 50 incubadoras e mais de um milhão de doses de vacinas;


  • Apoio psicossocial, educação de emergência e atividades recreativas para 164 mil estudantes e professores;


  • Serviços de emergência e proteção infantil para 151.802 crianças e cuidadores;


  • Distribuição de roupas de inverno para 160.205 crianças;


  • Apoio financeiro humanitário para 555.331 pessoas (83.890 famílias).

Desde o início do conflito, a agência das Nações Unidas reforçou as suas equipas no terreno de 92 para 126 pessoas. “Atualmente, estamos preparados para aumentar imediatamente o número de camiões disponíveis de quatro para 30, caso haja melhorias nas condições de acesso ou um cessar-fogo”.

Neste momento crítico, a Unicef apela “à implementação imediata e duradoura de um cessar-fogo humanitário, garantindo acesso sem obstáculos à ajuda humanitária e a libertação imediata, segura e incondicional de todas as crianças raptadas; ao fim das graves violações contra todas as crianças, incluindo assassinatos e mutilações, assegurando um ambiente seguro e protegido para o seu desenvolvimento; e ao fornecimento urgente de serviços médicos essenciais e tratamento médico para crianças feridas ou doentes, incluindo a evacuação médica de emergência quando necessário”.

A agência apela ainda “ao respeito e proteção das infraestruturas civis, incluindo hospitais e escolas, que devem ser áreas seguras para crianças e suas famílias durante conflitos armados”.

“É urgente garantir o financiamento necessário para continuar a fornecer ajuda vital às crianças e famílias afetadas pelo conflito”.


No mesmo comunicado, a Unicef apela “à generosidade de todos para ajudar a proporcionar água potável, alimentos, cuidados médicos, educação e proteção para as crianças que enfrentam situações de extrema vulnerabilidade”.
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