Serviços secretos da Dinamarca ajudaram EUA a espiar Angela Merkel

por Andreia Martins - RTP
A chanceler Angela Merkel e o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Streinmeier, foram alguns dos políticos alvos de espionagem. Michael Sohn - Reuters

De acordo com a investigação levada a cabo pela estação pública dinamarquesa Danmarks Radio com o apoio de outros órgãos de comunicação social europeus, os serviços secretos dinamarqueses terão ajudado a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos a colocar escutas nos telemóveis da chanceler Angela Merkel.

O escândalo sobre estas escutas já tinha sido revelado em 2013 e afetou na altura as relações entre Berlim e Washington. Agora, a dias da visita de Joe Biden ao continente europeu, foram revelados novos pormenores desta investigação que se iniciou durante a Administração Obama, quando o atual inquilino da Casa Branca era vice-presidente.

Estes novos dados mostram que os Estados Unidos recorreram a uma parceria com os serviços secretos dinamarqueses para espiar líderes europeus, desde logo a chanceler alemã Angela Merkel.

A informação surge com base numa investigação interna dos serviços de inteligência e defesa em 2014 e 2015. De acordo com a investigação, a NSA colaborou com as autoridades dinamarquesas para espiar várias entidades políticas da Alemanha, França, Noruega e Suécia entre 2012 e 2014.

Na Alemanha, para além de Angela Merkel, a NSA também vigiou o então ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, atualmente presidente do país.

A investigação descobriu que a NSA teve acesso a extensos fluxos de dados que passam por cabos de e para a Dinamarca, tendo intercetado desde mensagens de texto e chamadas telefónicas até mesmo ao tráfego da Internet, incluindo pesquisas, conversas instantâneas e serviços de mensagens.

Uma das fontes consultadas pela investigação refere mesmo que o acesso a esses cabos tem “uma importância estratégica” nas relações entre Copenhaga e Washington. A investigação interna dos serviços secretos dinamarqueses, de nome “Operação Dunhammer”, surgiu após a divulgação de informações por parte do whistleblower Edward Snownden, em 2013.

Em agosto de 2020, o ministro dinamarquês da Defesa, Trine Bramsen, foi informado sobre estas recentes conclusões do relatório interno, tendo ordenado a suspensão do chefe do Serviço de Inteligência e Defesa da Dinamarca e de três outros oficiais.

O governante não quis comentar o relatório em concreto, mas disse à emissora pública dinamarquesa que “a escuta sistemática de aliados próximos é inaceitável”. A partir de Washington, nem a NSA nem os serviços de inteligência norte-americanos comentaram as conclusões desta investigação.

No dia em que foram reveladas estas informações, o antigo funcionário da NSA que acabaria por denunciar o modo de operar desta agência, Edward Snowden, denunciou o papel central de Joe Biden nesta operação de espionagem.


“Biden está bem preparado para responder por isto quando visitar a Europa em breve, já que, é claro, estava profundamente envolvido neste escândalo. Deve haver uma exigência explícita de divulgação pública total, não apenas da Dinamarca, mas também do seu parceiro sénior”, escreveu no Twitter em relação a esta história.

Das várias reações europeias, destaque para a do Governo francês, que considera que se trata de acusações “extremamente graves” caso sejam provadas.

“Isto é muito sério, temos de perceber se os nossos parceiros na União Europeia, os dinamarqueses, cometerem erros ou falhas na cooperação com os serviços norte-americanos. Entre aliados deve haver confiança, uma cooperação mínima, por isso estas alegações são muito sérias”, disse o ministro francês para as questões europeias, Clement Beaune.
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