Singapura. Migrantes em dormitórios são principais alvos da Covid-19

por Joana Raposo Santos - RTP
Singapura possui 1,4 milhões de trabalhadores migrantes, dos quais 200 mil habitam em apenas 43 dormitórios. Foto: Edgar Su - Reuters

Em Singapura, quase 91 por cento dos casos confirmados de Covid-19 são de trabalhadores migrantes que habitam em dormitórios partilhados. O Governo do país está a aumentar o ritmo de testagem nessas instalações numa tentativa de controlar o surto, numa altura em que a restante população do país vê a situação acalmar e começa a regressar à normalidade.

No início de abril, Singapura contava com cerca de mil casos de Covid-19. Agora, mês e meio depois, tem mais de 26 mil pessoas infetadas, na sua maioria trabalhadores migrantes de países do sul da Ásia, como o Bangladesh e a Índia, que foram infetados em dormitórios sobrelotados.

Singapura possui 1,4 milhões de trabalhadores migrantes, que representam assim uma parte significativa da população ativa. A maioria trabalha na área da construção, trabalhos manuais e limpezas domésticas.

Desse total, 200 mil habitam em apenas 43 dormitórios, de acordo com a ministra da Mão de Obra da Singapura, Josephine Teo. Cada quarto desses dormitórios abriga entre dez a 20 migrantes, que dormem a centímetros de distância uns dos outros e partilham áreas comuns, como casas de banho ou zonas de refeição.

Por estas razões, torna-se praticamente impossível cumprir o distanciamento social nas instalações, o que terá originado uma escalada no número de casos confirmados de Covid-19 no país. São quase mil as novas infeções diárias registadas diariamente na Singapura desde o mês passado.

As autoridades têm tentado responder a esta crise encerrando dormitórios e realojando os habitantes infetados. Ainda assim, o número de trabalhadores migrantes infetados ascende já a 23.758.
Medidas para controlar surto
A 14 de abril, o Governo de Singapura decidiu colocar em quarentena todos os trabalhadores residentes nestas instalações. Agora, enquanto a restante população do país se prepara para regressar gradualmente à normalidade, os trabalhadores permanecem isolados nos dormitórios até pelo menos 1 de junho.

Todos os que já testaram positivo para a Covid-19 ou mostraram sintomas foram retirados desses edifícios para serem tratados em unidades de saúde. As autoridades tentaram ainda criar mais espaço entre residentes, transferindo sete mil deles para instalações alternativas como campos militares, hotéis ou apartamentos vagos do Governo. O Governo de Singapura está a testar cerca de três mil pessoas por dia nos dormitórios e pretende aumentar esse número nas próximas semanas.

Zasim, um trabalhador de 27 anos vindo do Bangladesh, disse no final de abril à CNN sentir-se acalmado pelos esforços do Governo, que lhe forneceu máscaras, gel desinfetante, produtos de limpeza, ligação wi-fi gratuita e fruta. “Sinto-me muito seguro no dormitório. A situação está controlada”, afirmou.

Duas semanas depois, porém, Zasim testou positivo para a Covid-19 e está agora a ser tratado num hospital. Sente-se preocupado, contando à CNN que “os dormitórios têm muitas pessoas e por isso é muito fácil apanhar o vírus”, mas a baixa taxa de mortalidade por Covid-19 na Singapura tranquiliza-o. De acordo com o Governo desse país, apenas 21 pessoas morreram até ao momento.

“No caso dos trabalhadores migrantes, prevê-se que demore três a quatro semanas até que os casos diminuam significativamente”, defendeu à CNN o professor de saúde pública Teo Yik Yang.
Resto do país alivia medidas de contenção
Fora dos dormitórios, a situação em Singapura inspira maior otimismo. “Estamos agora numa boa posição para aliviar algumas restrições, permitir o regresso de algumas pessoas ao trabalho a partir de 1 de junho e, depois, tomar mais passos para reabrir gradualmente a economia”, disse esta semana Lawrence Wong, membro da task force do Governo de Singapura para o combate à Covid-19.

No dia 5 de maio alguns negócios considerados essenciais puderam reabrir e, na terça-feira, outros serviços não-essenciais, como cabeleireiros ou lojas de animais, também retomaram a atividade, apesar de manterem regras apertadas de contenção, como a utilização de máscaras e redução de horário. Para a próxima terça-feira está prevista a reabertura das escolas.

“Esta batalha contra o vírus não é uma corrida de velocidade, é uma maratona, e não vamos sequer a meio”, alertou Wong. “Se já correram maratonas, saberão que a segunda metade é tipicamente mais difícil do que a primeira, portanto devemos esperar mais desafios pela frente. Não podemos dar-nos ao luxo de relaxar”.

Em Singapura, dos mais de 26 mil casos confirmados, quase cinco mil são de pessoas recuperadas. As mortes, apenas 21, representam 0,8 por cento do total de casos, de acordo com os dados do Governo.
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