Síria: Organizações humanitárias e rebeldes acusam o governo de ter usado armas químicas

por RTP
EPA

Dezenas de pessoas morreram na Síria, entre as quais várias crianças. As organizações humanitárias e os rebeldes acusam o governo sírio de ter usado armas químicas neste ataque. Damasco e a Moscovo desmentem.

O Observatório Sírio de Direitos Humanos denunciou que os bombardeamentos em Douma foram retomados de madrugada, após uma breve pausa.

A aviação síria bombardeou hoje, pelo terceiro dia consecutivo, a última bolsa de resistência rebelde perto de Damasco.

Segundo esta organização não-governamental (ONG), os ataques aéreos tiveram uma interrupção de cerca de duas horas, intervalo que terá coincidido com o reinício das negociações entre a Rússia, a Síria e o Exército do Islão, que controla Douma.

A ONG relata, contudo, que de madrugada já se registaram bombardeamentos e ataques com mísseis e explosivos contra a cidade.

As novas ocorrências acontecem horas depois de ataque químico contra a cidade de Douma ter provocado dezenas de mortos, entre os quais mulheres e crianças.

Segundo os Capacetes Brancos, ONG dedicada ao resgate de vítimas das zonas sob controlo dos rebeldes, registaram-se pelo menos 40 mortos e centenas de feridos devido à utilização de “gás cloro tóxico”.

Já a organização médica síria e americana, outra ONG, falou num total de 41 mortos e também em centenas de feridos.

Por sua vez, o Observatório Sírio de Direitos Humanos assegurou que morreram 80 civis, metade dos quais devido a asfixia resultante do colapso das infraestruturas (inclusive de abrigos).

A agência oficial síria, SANA, negou qualquer responsabilidade das forças sírias e assegurou que "as denúncias do uso de substâncias químicas em Douma são uma tentativa clara de impedir o progresso do exército", que na sexta-feira iniciou uma ofensiva contra os rebeldes naquela zona.
Rússia nega “veementemente” ataque químico
A Rússia negou hoje que o regime sírio tenha usado armas químicas em ataques na cidade de Douma, último bastião rebelde nos arredores de Damasco, na Síria, após acusações dos Estados Unidos e denúncias de várias associações.

“Nós negamos veementemente essa informação”, disse o general Yuri Yevtushenko, chefe do departamento russo que está em negociações sobre o conflito na Síria, citado por agências noticiosas russas.

O responsável acrescentou que, “assim que Douma for libertada”, a Rússia enviará para o local “especialistas em armas nucleares, químicas e biológicas para recolherem dados que confirmem que as acusações [dos Estados Unidos] são falsas”.
EUA exigem fim imediato do apoio “incondicional” da Rússia
Os Estados Unidos denunciaram hoje a “proteção incondicional” da Rússia ao regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, e exigiram o “fim imediato” deste apoio, após um ataque químico contra a cidade de Douma que provocou dezenas de mortos.

Em comunicado, a porta-voz do departamento de Estado norte-americano, Heather Nauert, vinca que a Rússia “violou os compromissos” que tem para com as Nações Unidas e “atraiçoou” a convenção sobre as armas químicas ao “proteger incondicionalmente” Bashar al-Assad.

“A proteção do regime de Assad por parte da Rússia e a sua incapacidade para impedir o uso de armas químicas na Síria está a levantar dúvidas sobre o seu compromisso em responder à crise global e às necessidades de não-proliferação”, acrescenta a responsável.

Heather Nauert salienta que a Rússia, com o seu “inquestionável apoio ao regime [sírio], é em última instância responsável por estes ataques brutais, que atingiram vários civis e sufocaram comunidades vulneráveis da Síria com armas químicas”.

Assegurando que os Estados Unidos estão a acompanhar este ataque, a porta-voz falou num “número potencialmente alto de vítimas”.

“Se se confirmarem estes números chocantes, deve haver uma resposta imediata da comunidade internacional”, adiantou.
Papa diz que “nada pode justificar” uso de armas químicas
O Papa Francisco considerou hoje, no Vaticano, que "nada pode justificar" a utilização de armas químicas, que classificou de "instrumentos de extermínio", contra populações indefesas na Síria, e apelou aos responsáveis para que iniciem negociações.

"Chegam-nos da Síria notícias terríveis, com dezenas de vítimas, entre as quais mulheres e crianças (...) pessoas fustigadas pelos efeitos das substâncias químicas contidas nas bombas", declarou o Papa perante milhares de fiéis reunidos no Vaticano para a tradicional missa de domingo.
Para Francisco, "não há uma boa e uma má guerra".

"Nada, nada pode justificar o uso deste tipo de instrumentos de extermínio contra pessoas e populações indefesas", acrescentou Francisco após ter celebrado missa na Basílica de São Pedro.

“Oremos para que os responsáveis políticos e militares escolham a outra via, a da negociação, a única que pode trazer a paz, que não escolham a via da morte e da destruição", disse ainda.

C/Lusa
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