Stela Moris arrasa John Bolton em debate sobre a extradição de Julian Assange

por RTP
Henry Nichols, Reuters

A advogada de direitos humanos Stela Moris debateu com o ex-conselheiro da Casa Branca John Bolton a situação do marido, Julian Assange, e acusou Bolton de minar o direito internacional, entre outros motivos para não ter de responder pelo seu papel na invasão do Iraque.

O debate entre Stela Moris e John Bolton teve lugar no programa Uncensore, de Pier Morgan, transmitido pelo canal britânico de televisão TalkTv e girou em torno da situação do jornalista australiano Julian Assange, que os Estados Unidos querem ver extraditado do Reino Unido, para o submeterem a um processo em que será pedida uma pena de 175 anos de prisão.

Bolton, que foi conselheiro de Segurança Nacional sob as administrações Bush e Trump, comentou a pena pedida nos Estados Unidos contra Assange, afirmando que esta é ainda uma pena minimalista e que Assange merecia mais: "Espero que ele apanhe pelo menos 176 anos de cadeia por aquilo que fez", disse. Moris não se ficou e a dada altura disse que, num quadro de respeito pelo direito internacional, Bolton teria de ser julgado pelo papel que desempenhou como "chefe de claque" da invasão do Iraque.


O moderador, Pier Morgan, começara por recordar que Assange está desde há quase quatro anos fechado na prisão britânica de alta segurança de Belmarsh, depois de já ter estado fechado durante sete anos na Embaixada equatoriana em Londres. 

Ao pedido de comentário sobre a situação do marido, que o mesmo Morgan lhe dirigiu, Stela Moris respondeu: "Julian enfrenta nos EUA uma potencial sentença de 175 anos por ter feito trabalho de jornalista. Por receber informação de uma fonte e publicá-la, no interesse do público. Tratava-se de crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão, e ele revelou dezenas de milhares de mortes civis que antes não tinham sido admitidos".

Quando o moderador passou a palavra a Bolton, pedindo-lhe que comentasse a pena de prisão reclamada pelo Departamento de Justiça norte-americano contra Assange, o ex-conselheiro respondeu: "Bem, eu acho que isso é uma parte pequena da sentença que ele merece". Sustentou em seguida que Assange tinha realizado "actividades criminosas", que tinha posto pessoas "em perigo" e, finalmente, que não é "mais jornalista do que esta cadeira em que estou sentado".

Bolton lamentou-se além disso pelos danos causados pelas publicações de Wikileaks ao "interesse nacional" dos Estados Unidos, ao revelar telegramas trocados entre Embaixadas norte-americanas e o Departamento de Estado, com observações às vezes cínicas, outras vezes ofensivas e pejorativas, dos diplomatas dos EUA sobre os dirigentes de outros países.

Em resposta, Moris lembrou que, "durante o seu tempo na Administração Bush e mais tarde na Administração Trump, ele [Bolton] fez o possível por minar o sistema jurídico internacional, fez o possível para que os EUA não ficassem sob a jurisdição do Tribunal Penal Internacional. E, se tivessem ficado. o sr. Bolton poderia, com efeito, ter sido acusado pelo TPI. Ele foi um dos chefes de claque da guerra no Iraque, que Julian desmascarou através destes leaks, de modo que ele [Bolton] tem um conflito de interesses".
pub