Sul-africano indiciado por ataques no norte de Moçambique morre em hospital

por Lusa

O empresário sul-africano Andrew Hannekon, detido pelas autoridades de Moçambique como um dos suspeitos de incitar ataques armados no norte do país, morreu hoje no hospital de Pemba, disse a mulher à Lusa.

Francis Hannekon referiu que já teve acesso ao corpo, depois de avisada da morte, durante a madrugada, pela unidade de saúde da capital provincial de Cabo Delgado.

A mulhr do empresário não soube detalhar as causas da morte, que aconteceu depois de Andrew Hannekon ter sido retirado da cadeia para o hospital, no sábado, inconsciente e com convulsões.

"Ele caiu doente na cadeia, no sábado. Tinha convulsões" e foi transportado para o hospital "inconsciente", sendo sujeito a manobras de reanimação naquela unidade, explicou.

"Tinha dificuldade em respirar", recordou.

Andrew Hannekon aparentava melhorias na terça-feira, acrescentou, referindo que o homem estava consciente, apesar de ainda não conseguir falar.

Fonte da direção do hospital confirmou hoje, aos jornalistas, a morte, mas escusou-se a prestar mais esclarecimentos, alegando que Hannekon deu entrada como detido, cabendo às autoridades gerir a informação.

A detenção foi um dos assuntos debatidos pelo Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, num encontro mantido no dia 14 de janeiro, em Maputo, com o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi.

No encontro, a acusação contra Hannekon esteve na agenda a par da detenção, na África do Sul, de Manuel Chang, antigo ministro das Finanças de Moçambique, a mando da justiça norte-americana que investiga o caso das dívidas ocultas do Estado moçambicano.

"Em ambas as situações os dois chefes de Estado observaram a necessidade de aguardar pelo curso normal da justiça e deixar as instituições competentes realizarem o seu trabalho no âmbito da separação de poderes", referiu o comunicado final do encontro.

Na acusação do Ministério Público moçambicano, que data de 24 de dezembro, o empresário sul-africano foi apontado como "financiador, logístico e coordenador dos ataques" a locais remotos do norte do país, cujo objetivo era "criar instabilidade e impedir a exploração de gás natural na província" de Cabo Delgado

Hannekon, prossegue a acusação, pagaria aos membros do grupo um valor mensal de 10 mil meticais (142 euros), além de providenciar medicamentos, que eram supostamente administrados por um antigo funcionário do Hospital Rural de Mocímboa da Praia.

Na altura, Francis Hannekon considerou as acusações "totalmente falsas" e referiu que o marido estava preso ilegalmente.

A organização Human Rights Watch descreveu na última semana o caso como um exemplo de "abusos e excessos" na forma como as forças de segurança estão a deter arbitrariamente cidadãos em Cabo Delgado.

"Quaisquer que sejam os crimes, os acusados têm direitos, têm de ser presentes a um juiz e ser formalmente acusados em determinados prazos e isso não aconteceu", apontou Zenaida Machado, membro da HRW.

Os ataques armados no norte de Moçambique reacenderam-se em novembro.

Desde outubro de 2017, já terão morrido pelo menos 140 pessoas, entre residentes, supostos agressores e elementos das forças de segurança.

A onda de violência em Cabo Delgado (2.000 quilómetros a norte de Maputo, no extremo norte de Moçambique, junto à Tanzânia) eclodiu após um ataque armado a postos de polícia de Mocímboa da Praia por um grupo com origem numa mesquita local que pregava a insurgência contra o Estado e cujos hábitos motivavam atritos com os residentes desde há dois anos.

Depois de Mocímboa da Praia, têm ocorrido vários ataques que se suspeita estarem relacionados com o mesmo tipo de grupo, sempre longe do asfalto e fora da zona de implantação da fábrica e outras infraestruturas das empresas petrolíferas que vão explorar gás natural.

 

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