Berlim, 14 Jan (Lusa) - A cadeia alemã Tchibo e a Esso anularam uma campanha de publicidade conjunta que usava a frase "Jedem den Seinen" (A Cada Um Os Seus), que os nazis colocaram no portão do campo de concentração de Buchenwald.
A frase tem origem na expressão latina "suum cuique", e quem a tornou famosa foi o Filósofo Cato, o Velho, há mais de dois mil anos, mas foi utilizada abusivamente pelos nazis no famigerado campo de concentração, que hoje é um memorial perto de Weimar.
O filósofo recorreu à frase de forma positiva, para dizer que cada pessoa deve levar a vida de que mais goste.
O regime hitleriano, porém, deu-lhe um uso bem diferente, e ao colocá-la sobre os portões de Buchenwald pretendia amedrontar os prisioneiros, proclamando que cada um tem aquilo que merece.
Uma porta-voz da Tchibo disse hoje ao jornal Frankfurter Rundschau que a empresa "nunca teve intenção de ferir os sentimentos de ninguém", admitindo que a frase publicitária foi uma escolha infeliz.
Por sua vez, o porta-voz da Esso, Olaf Martin, afirmou que a frase tinha sido escolhida pela agência de publicidade encarregada da campanha, que não se apercebeu do seu fardo histórico.
O incidente provocou reacções de desagrado do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, cujo presidente, vice-presidente, Salomon Korn, considerou a escolha da frase "de um mau gostos inultrapassável".
O dirigente judaico atribuiu a opção publicitária "em grande parte aos insuficientes conhecimentos de História transmitidos aos alunos nas escolas alemãs".
O Frankfurter Ruindchau lembrou, no entanto, que a Tchibo e a Esso não são as primeiras firmas a usar a famigerada frase para publicitar os seus produtos.
Em 1998, a Nokia recorreu à mesma expressão para anunciar capas permutáveis de telemóveis, e depois de protestos de várias organizações judaicas, colou por cima do "Jedem den Seinen" o título de uma peça de Shakespeare, "Was Ihr Wollt" (O que Querem Vocês).
Pouco tempo depois, o consórcio alemão Rewe teve também de se desculpar por utilizar "Jedem den Seinen" na publicidade a grelhadores.
Já em 1999, a Burger King de Erfurt (Turíngia) foi também criticada por ter usado a mesma frase em panfletos publicitários, e em 2001 os clientes do Merkur-Bank, de Munique, ficaram chocados ao ler a expressão numa campanha para publicitar vários modalidades de contas bancárias.
FA
