Telemóvel de líder catalão alvo de espionagem

por RTP
Albert Gea/Reuters

O telemóvel do presidente do Parlamento da Catalunha, Roger Torrent, foi alvo de um programa de espionagem que acedia a todos os contactos, conversas e mensagens. O ex-presidente do governo autónomo da Catalunha, Carles Puigdemont, alerta para que o "escândalo" sobre a alegada espionagem não fique "impune".

O smartphone de Roger Torrent foi alvo do 'software' Pegasus, um programa de espionagem desenvolvido pela empresa israelita NSO Group, segundo avança uma investigação conjunta do El País e do The Guardian.

Foi numa investigação a uma falha da aplicação do Whatsapp que um instituto canadiano de segurança cibernética descobriu que o número de Roger Torrent foi atacado em 2019, assim como o de centenas de outras personalidades da sociedade civil de todo o mundo.

O presidente do Parlamento catalão foi um dos alvos no caso de "espionagem" que atingiu pelo menos 1.400 pessoas em todo o mundo, entre abril e maio de 2019, tendo sido a invasão forjada através de uma violação de segurança do WhatsApp.

Na altura, era pedido aos utilizadores que fizessem a atualização para a versão mais recente da aplicação, depois de ter sido descoberta uma vulnerabilidade que permitia injetar um spyware (software de espionagem) no telefone dos utilizadores através da função de chamadas da aplicação - o truque para se infiltrarem nos telefones das pessoas era uma chamada de vídeo "que não exigia resposta".

O spyware conseguia invadir os smartphones dos visados, mesmo que os utilizadores não atendessem as chamadas pela aplicação. Além do mais, estas chamadas muitas vezes desapareciam dos registos de chamadas perdidas ou atendidas.

O El País e o Guardian tiveram acesso a um relatório pelo Citizen Lab (grupo de segurança cibernética da Munk School da Universidade de Toronto que investigou a falha da aplicação) que revelava que o número de telefone do presidente do Parlamento catalão foi atacado com o programa de espionagem da israelita NSO.

"A investigação identificou que o número pertence a Roger Torrent", indica o documento.

Mas além do independentista, pelo menos outros dois apoiantes pró-independência catalã - a ex-parlamentar Anna Gabriel e o ativista Jordi Domingo - foram avisados de que podem ter sido alvo de um "possível caso de espionagem política doméstica" na Europa.
Torrent acusa "Estado espanhol" de estar envolvido

Os investigadores canadianos associam o "misterioso" desaparecimento das mensagens e chamadas do WhatsApp no telemóvel de Torrent em 2019, como uma evidência de que o aparelho "poderia ter sido violado por terceiros e infetado".

O programa Pegasus só pode ser comprado por governos e forças de segurança para combater o crime e o terrorismo e permite ativar remotamente o microfone e a câmara de um telemóvel, processar emails e mensagens, aceder ao disco rígido e recolher dados.

Em declarações aos jornais que avançam com a notícia, Torrent referiu que parece claro que o "Estado espanhol" está por trás do suposto ataque ao telemóvel, o que aconteceu provavelmente sem nenhuma autoridade judicial.

Durante o período em que o telemovel de Torrent foi alvo de espionagem, o líder da independentista participou em dezenas de reuniões políticas e testemunhou perante o Supremo Tribunal.

Em maio de 2019, Roger Torrent terá notado "coisas estranhas", e que "as mensagens do WhatsApp e o histórico de conversas foram eliminados", o que "não aconteceu" com as pessoas que estavam com ele na altura.

O gabinete de Pedro Sanchez, primeiro-ministro espanhol, já respondeu às acusações afirmando que "o Governo não tem provas" de que os independentistas "tenham sido alvo de hackers (piratas informáticos) através dos seus smartphones".

"Além disso, devemos lembrar que qualquer operação que envolva um telefone móvel é sempre conduzida de acordo com autorização judicial".


Entretanto, Carles Puigdemont, pediu para que o "escândalo" sobre a alegada espionagem ao telemóvel do presidente do Parlamento de Barcelona não ficasse "impune".

"Há muito tempo que o Estado espanhol não respeita o Estado de Direito. O problema é que nem com provas tão irrefutáveis é possível investigar a fundo para que sejam dirimidas responsabilidades. É um escândalo que não pode ficar impune. Toda a solidariedade com Roger Torrent", escreveu o ex-presidente do governo autónomo da Catalunha no Twitter.


O WhatsApp, pertencente ao grupo do Facebook, alega que mais de 100 membros da sociedade civil, incluindo jornalistas na Índia, ativistas de direitos humanos em Marrocos, diplomatas e altos funcionários de governos, foram supostamente afetados por este "software".

A NSO, por sua vez, garante que só o faz para ajudar a apanhar "terroristas e criminosos", mas recusa-se a esclarecer se o governo espanhol está incluída na sua carteira de clientes.

"Devido à confidencialidade, não podemos confirmar quais as autoridades que usam a nossa tecnologia". Contudo, garante que será iniciada uma investigação "se for justificado" que os seus produtos foram mal utilizados no país.

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