Telescópio Espacial JWST pode reconhecer existência de civilização através da atmosfera

por Nuno Patrício - RTP
Ilustração: ESA/ATG medialab

O mais recente telescópio espacial foi concebido para explorar e ir mais longe do que qualquer dos seus antecessores. Se o Hubble conseguiu ver bem longe, chegando a revelar pela primeira vez uma imagem dos "Pilares da Criação", a milhões de anos-luz do nosso planeta, o James Webb pode ir ainda mais além nas suas leituras. O JWST tem a capacidade de analisar as atmosferas de exoplanetas e informar-nos se estes comportam, de alguma forma, civilizações "inteligentes".



Estas são duas imagens do Hubble dos "Pilares da Criação" na Nebulosa da Águia. A imagem da esquerda captura uma visão de luz visível, mostrando uma nuvem opaca de gás e poeira. À direita, a luz quase infravermelha penetra grande parte do gás e da poeira, revelando estrelas atrás da nebulosa e escondidas dentro dos pilares. NASA, ESA, Hubble Heritage Project (STScI, AURA)


Depois da correção e do alinhamento do espelho primário do JWST, os cientistas que estão à frente do programa de observação espacial deste telescópio estão já a identificar os primeiros exoplanetas a serem observados.

Nos finais de março, a NASA - agência espacial norte-americana – deu conta de que tinha já em carteira cerca cinco mil exoplanetas confirmados para serem eventualmente observados pelo JWST.

E uma das principais tarefas do novo telescópio será estudar as atmosferas dos exoplanetas para procurar sinais de vida.

Este espectro simulado do telescópio Webb ilustra os tipos de moléculas que podem ser detectadas em regiões de formação de estrelas como a Nebulosa da Águia (fundo). Créditos: NASA, ESA, Michael McClare (Universidade de Amsterdão), A. Boogert (UH Manoa), Hubble Heritage Project (STScI, AURA)

Entre os vários candidatos está o Kepler-442b, na constelação de Lyra. Um exoplaneta descoberto em 2015 pelo telescópio Kepler e que se encontra a 1.200 anos-luz da Terra.

Trata-se de um provável mundo rochoso, com uma massa 2,35 vezes à da Terra e que se encontra na zona habitável da sua estrela. Uma escolha recomendada pela astronauta canadiana Chris Hadfield como um primeiro alvo planetário ideal para uma análise na gama dos infravermelhos do novo telescópio.

Kepler-442 é uma super-Terra e um dos mundos mais promissores em termos de possivelmente abrigar vida.

Hadfield selecionou este planeta com base num estudo de 2015 publicado por The Astrophysical Journal, no qual um grupo de cientistas classificou os planetas descobertos por Kepler e K2 como sendo mais propensos a ter água líquida em suas superfícies.

Conceção artística do exoplaneta Kepler-442b ao lado da Terra (dir.) Créditos:  Ph03nix1986/Wikicommons

“Basicamente, criámos uma maneira de juntar todos os dados observados disponíveis e desenvolver um esquema de priorização, de modo a que, à medida que avançamos para um momento em que há centenas de alvos disponíveis, possamos dizer: Ok, é neste que queremos começar”, referiu o principal autor do artigo, Rory Barnes, da Universidade de Washington, em 2015.

Com base neste sistema de classificação, alguns cientistas acreditam que Kepler-442b é um planeta com fortes probabilidades de ser habitado, tal como a Terra.

“Classificamos os planetas conhecidos Kepler e K2 quanto à habitabilidade e descobrimos que existem vários valores elevados de índice H [probabilidade de existência de uma civilização] com base nas regras de evolução terrestre”, escreveram os autores do artigo.

Mas este não será o único.

Um outro potencial alvo planetário e importante para análise do JWST é o sistema TRAPPIST-1, localizado a apenas 41 anos-luz da Terra.

Este sistema planetário hospeda sete planetas em órbitas muito estreitas em torno de uma estrela anã vermelha de baixa massa. Três ou quatro destes planetas estão localizados na zona habitável da estrela. E acredita-se que todos os sete sejam mundos rochosos.

O telescópio espacial James Weeb tem capacidade de estudar as atmosferas dos planetas e identificará os componentes presentes.

Webb deteta comprimentos de onda de luz no espectro eletromagnético do vermelho visível ao infravermelho médio. Os seus quatro instrumentos fornecem cobertura de comprimento de onda de 600 a 28.500 nanómetros, ou 0,6 a 28,5 mícrons (1 mícron é um milionésimo de um metro). A parte infravermelha do espectro abrange cerca de 0,75 mícrons a algumas centenas de mícrons. Créditos: NASA, Elizabeth Wheatley (STScI)

Na busca por sinais de vida, o telescópio tem a capacidade para detetar, por exemplo, poluição atmosférica produzida por hipotéticas civilizações inteligentes e com essa leitura deduzir-se a existência de vida fora do ambiente familiar a que chamamos Terra.

“O desempenho ótico do telescópio é absolutamente fenomenal. O desempenho é tão bom, se não melhor, do que nossas previsões mais otimistas”, disse o administrador do telescópio óptico JWST , Lee Feinberg, do Goddard Space Flight Center da NASA, depois da captura de uma imagem nítida da estrela 2MASS J17554042 + 6551277 no início deste mês.

Os planos atuais exigem que as operações científicas do JWST comecem no final de junho.
Primeira imagens do JWST reveladas amanhã no Pavilhão do Conhecimento
As primeiras imagens do Universo obtidas pelo Telescópio Espacial James Webb estão prestes a ser reveladas e Portugal poderá, já esta terça-feira, conhecê-las em primeira mão.

A iniciativa terá lugar no Auditório José Mariano Gago, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, e será comentada por um painel de quatro investigadores que irão explicar a importância científica das imagens apresentadas, respondendo às perguntas do público.

Com a parceria da ESERO Portugal, a Ciência Viva e a Portugal Space, estas instituições foram selecionadas para acompanhar em direto a comunicação oficial da ESA – Agência Espacial Europeia sobre as primeiras observações do James Webb no infravermelho.

Convidados para esta revelação científica estão os investigadores Alexandre Cabral, do Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, José Afonso, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Ana Afonso, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, e Cláudio Melo, Science Officer na Agência Espacial Portuguesa - Portugal Space.

A moderação estará a cargo de Ana Noronha, diretora executiva da Ciência Viva.

O Telescópio Espacial James Webb foi lançado a 25 de dezembro de 2021 e foi concebido para responder a várias questões em aberto sobre o Universo.

A comunidade científica e muitos dos apreciadores deste tipo de conhecimento aguardam agora com expectativa as descobertas revolucionárias em todos os campos da astronomia: imagens únicas vindas do JWST, que se encontra a 1,6 milhões de quilómetros da Terra num local batizado como Lagrange point 2 (L2).
Tópicos
pub