Trudeau evoca perda de "liderança" dos EUA em primeira reunião com Biden

por Inês Moreira Santos - RTP
Pete Marovich - EPA

Na primeira reunião entre o primeiro-ministro canadiano e o Presidente norte-americano, para começar a pôr de parte a tensão nas relações transfronteiriças dos últimos anos, Justin Trudeau lamentou a perda de "liderança" internacional dos Estados Unidos durante o mandato de Donald Trump.

Justin Trudeau reuniu-se na última noite - juntamente com a vice-primeira-ministra canadiana - por videoconferência com Joe Biden e a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, para discutir a situação pandémica, a recuperação económica e as alterações climáticas.

Neste primeiro encontro desde que a Administração do democrata iniciou o mandato, Biden confirmou que planeia trabalhar com Trudeau no combate à pandemia, à crise climática e ao flagelo da imigração e dos refugiados, defendendo que os dois países podem "lutar pelos seus valores no cenário global e fortalecer as democracias" internamente.

"Espero vê-lo pessoalmente no futuro. Os Estados Unidos não têm nenhum amigo tão próximo como o Canadá"
, disse o Presidente norte-americano no início da videoconferência.

O primeiro-ministro canadiano respondeu no mesmo tom, destacando "a extraordinária amizade" que une os países vizinhos e demonstrando vontade de ambos "vencerem a Covid-19" e de assegurarem a recuperação "com rapidez" das economias.

Mas quando Biden declarou que os EUA iam aumentar os esforço "para combater as alterações climáticas", anunciando um fórum de para coordenar as políticas dos dois países para que possam alcançar a neutralidade das emissões até 2050, Trudeau criticou indiretamente o antecessor de Biden, Donald Trump, pelo que considerou ser a inação da Casa Branca no plano geopolítico internacional durante os últimos quatro anos.

Embora tenha elogiado o regresso de Washington ao Acordo Climático de Paris, o chefe do Executivo canadiano afirmou que os EUA "perderam a liderança" que detinham plano diplomático durante os últimos anos.

"Sentiu-se muito a falta da liderança dos Estados Unidos nos últimos anos", apontou Trudeau, referindo-se à Presidência de Trump. "E devo dizer que, enquanto estávamos a preparar o lançamento conjunto do comunicado sobre isso, é bom quando os norte-americanos não estão a retirar todas as referências às alterações climáticas e, em vez disso, a acrescentar".

"Agora que os Estados Unidos estão de volta ao Acordo de Paris, pretendemos demonstrar a nossa liderança para estimular outros países a elevar as suas próprias ambições", respondeu Biden no final da reunião.
"Vamos trabalhar juntos"

Impedidos de realizar a reunião presencialmente, como seria habitual, o Presidente norte-americano e o primeiro-ministro canadiano comprometeram-se com um plano ambicioso para revitalizar e expandir a relação histórica entre as duas nações.

"O encontro de hoje com o presidente Biden fortalece ainda mais os laços fortes e históricos dos nossos dois países. Espero que continuemos a trabalhar juntos para acabar com a covid-19 e recuperar para fazer a classe média crescer e criar bons empregos", lê-se num comunicado de Trudeau.

Depois de reunirem durante cerca de duas horas, os dois líderes surgiram e afirmaram que planeiam trabalhar juntos para vencer a pandemia e combater as alterações climáticas, com o objetivo de atingir emissões zero até 2050.

"Diante da Covid-19, das alterações climáticas, da crescente desigualdade, este é o nosso momento de agir", disse Trudeau após o encontro de terça-feira. "O trabalho continua a ser manter as pessoas seguras e acabar com esta pandemia".

Em debate estiveram ainda temas como as "práticas económicas injustas" da China, o histórico com os direitos humanos e a detençaõ de dois cidadãos canadianos em Pequim.

Biden reiterou a libertação dos dois canadianos, Michael Spavor e Michael Kovrig, detidos na China, recebendo o agradecimento do seu homólogo.

"Os seres humanos não são moedas de troca", disse Biden. "Vamos trabalhar juntos até conseguirmos que eles regressem seguros".

"O Canadá e os Estados Unidos estão juntos contra o abuso dos direitos universais e das liberdades democráticas. Vamos fortalecer o nosso compromisso comum de oferecer refúgio seguro para refugiados e requerentes de asilo, e muito mais", continuou o presidente norte-americano.

Os dois líderes também discutiram o fortalecimento da Organização Mundial de Saúde e o envolvimento com instituições multilaterais para fortalecer as normas globais, de acordo com Biden.

"Comprometemo-nos a trabalhar juntos para ajudar a prevenir futuras ameaças biológicas, fortalecendo a Organização Mundial da Saúde, apoiando as nossas metas ousadas da Agenda de Segurança Sanitária Global, cooperando na Parceria Global contra a Propagação de Armas [e Materiais] de Destruição em Massa, e envolvendo-nos com outras instituições multilaterais para promover a transparência, aumentar a capacidade e fortalecer as normas globais", acrescentou.

Trudeau ecoou o mesmo sentimento e reiterou a necessidade de apoiar os organismos internacionais que lideram o combate à pandemia, concordando também que o alívio económico deve ter como alvo aqueles que a pandemia atingiu com mais força.
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