Trump arrasa "Parasitas" e pede regresso de velhas glórias da América

por RTP
Kevin Lamarque, Reuters

Foi com a voz mortificada que o presidente dos Estados Unidos abordou a temática dos Óscares. Perante a multidão que o recebeu no Colorado, Donald Trump atirou-se a "Parasitas", o grande vencedor dos Óscares, "um filme sul-coreano", lamentou-se.

“Não podemos voltar a ter um ‘E Tudo o Vento Levou?’”, perguntou Trump aos seus apoiantes de Colorado Springs.

“Já não temos problemas suficientes com as relações com a Coreia do Sul e ainda por cima dão-lhe o prémio de melhor filme?”

O filme “Parasitas” fez história na edição deste ano dos Óscares em quatro categorias (melhor filme, melhor realizador, melhor argumento e melhor filme em língua estrangeira). Mas não foi o número de estatuetas o que colocou o filme nos anais da história. A surpresa veio com o Óscar de melhor filme, o primeiro sem ser em língua inglesa, com que a Academia distingiu “Parasitas”.

Os amuos e críticas do presidente norte-americano nem sempre parecem seguir uma lógica comum ou, neste caso, poderá ter sido apenas uma forma de entrar em comunhão com a multidão sem outra intenção escondida nas suas palavras.

Há, no entanto, um pormenor que não passa despercebido: Trump pergunta se não podemos voltar a ter filmes como “Sunset Boulevard” (O Crepúsculo dos Deuses, 1950) ou “Gone With The Wind” (E Tudo o Vento Levou, 1939).

Se a primeira escolha não suscita qualquer questão – Sunset Boulevard trata do tema da estrela em decadência que procura um novo fôlego para a sua carreira –, já o segundo encaixa de forma não inocente em toda a cartografia política de Trump e da ala mais radical dos republicanos: as feridas (ainda) da Guerra Civil, a escravatura e as relações entre os brancos e negros nos Estados Unidos desse período, uma estruturação da sociedade que ainda subsiste, em alguns Estados do país de forma mais ostensiva, noutros de forma mais latente.

“E Tudo o Vento Levou” remete para cenários de uma América branca que ganharam nova visibilidade com a vitória de Donald Trump, apoiado pelos setores ao mesmo tempo mais radicais e mais tradicionais do Partido Republicano e de uma certa altright – um interior rural do país que tem sido o esteio da Administração Trump.


Os estúdios Neon, que distribuem o filme nos Estados Unidos, aludiram ao facto de o filme ser traduzido e legendado para responder às críticas de Trump: “[As críticas] são compreensíveis. Ele não consegue ler”.

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