Trump ataca Irão e Venezuela na Assembleia Geral da ONU

por Andreia Martins - RTP
"A minha Administração alcançou mais do que quase qualquer outra administração na história do nosso país", argumentou Donald Trump Carlo Allegri - Reuters

O Presidente norte-americano aproveitou o discurso perante as Nações Unidas para apelar ao “isolamento” do regime iraniano e denunciar a “ditadura corrupta” em Teerão. Sem deixar de mencionar a situação na Síria e a "desnuclearização" da Península Coreana, outro grande alvo de Donald Trump foi a China, no contexto da guerra comercial com Pequim. O Presidente norte-americano apelou ainda à luta contra o “socialismo” que causou “tragédia humana” em Caracas e anunciou a imposição de novas sanções contra a Venezuela.

Um ano depois do primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente norte-americano dirigiu-se esta terça-feira à câmara da organização com um discurso mais amistoso e prudente, em que louvou "a bela constelação de nações" presente naquela sessão. Donald Trump não deixou, no entanto, de louvar as grandes batalhas e conquistas na agenda da Presidência.

Na visão do Presidente, a atual administração e os quase dois anos de mandato permitiram alcançar "mais do que quase qualquer outra" Presidência na história dos Estados Unidos. A frase foi acolhida na assembleia com risos, a que Donald Trump respondeu bem disposto: "Não estava à espera dessa reação, mas tudo bem", disse.

Donald Trump sublinhou o “enorme progresso” alcançado durante os últimos 12 meses, a nível económico e na criação de empregos, mas também com a maior proteção das fronteiras norte-americanas. Prometeu para breve uma força militar norte-americana “mais forte que nunca”. “Hoje os Estados Unidos são um país mais forte, mas seguro e mais rico”, apontou.  

Ao nível externo, o Presidente norte-americano não deixou de aludir às negociações "audaciosas" com a Coreia do Norte, que decorreram nos últimos meses. Aqui, o contraste com as ameaças de "destruição completa" dirigidas à Coreia do Norte no discurso de 2017 foi notável.

Donald Trump lembrou a cimeira de Singapura e as conversações diretas com Kim Jong-un. Desde esse encontro, assinala o líder norte-americano, que os mísseis "deixaram de voar por todos os lados" e os testes nucleares do regime norte-coreano cessaram, e iniciou-se também o desmantelamento de instalações nucleares.

Agradeceu ainda a "coragem" do líder da Coreia do Norte, bem como a ajuda concedida por outros países envolvidos, mas reconheceu que "muito continua por fazer", e por isso as sanções contra o regime norte-coreano mantêm-se em vigor.

Em relação ao Médio Oriente, o Presidente norte-americano prometeu uma resposta firme dos Estados Unidos em caso de utilização de armas químicas pelo regime de Bashar al-Assad, na Síria.

Como já era esperado, algumas das mais duras palavras proferidas pelo Presidente norte-americano tiveram como destinatário o regime de Teerão. Na visão de Donald Trump, a liderança iraniana "semeia o caos, morte e destruição" no Médio Oriente, sem respeito por Estados vizinhos e fronteiras.

"A tragédia na Síria é desoladora. Mas todas as soluções para a crise humanitária na Síria devem também incluir uma estratégia para lidar com o regime brutal que a alimentou e financiou. A ditadura corrupta que vigora no Irão", apontou.

O Presidente norte-americano saiu ainda em defesa da decisão, anunciada em maio, de retirar os Estados Unidos do "horrível" acordo sobre o programa nuclear iraniano, assinado há três anos por várias potências a nível global.

"Não podemos permitir que o principal patrocinador do terrorismo em todo o mundo tenha em sua posse as armas mais perigosas do planeta", apontou.

Refere que, desde o levantamento das sanções económicas, em troca de uma maior limitação e escrutínio do programa nuclear estabelecido pelo acordo de 2015, o orçamento militar do Irão cresceu "cerca de 40 por cento". 

"Pedimos às nações de todo o mundo que nos ajudem a isolar o regime iraniano enquanto este prosseguir a sua política de agressão", referiu Donald Trump, lembrando as sanções contra o país que entraram em vigor durante o mês de agosto e as que serão impostas já no início de novembro.
"Tragédia humana"

A Venezuela foi outro país na mira de Donald Trump neste discurso anual perante as Nações Unidas. O Presidente norte-americano lembrou que a Venezuela era até há pouco tempo "um dos países mais ricos do mundo" e que foi o "socialismo" que levou o país à bancarrota.

Trump apelou à restauração da democracia na Venezuela de forma a por fim à "tragédia humana" vivida naquele país e anunciou a imposição de novas sanções contra o regime de Caracas que visam cirurgicamente o líder do Governo venezuelano, Nicolás Maduro.

No campo comercial, a China também mereceu palavras pouco amistosas de Donald Trump. O Presidente norte-americano recordou as taxas alfandegárias recentemente aplicadas a 250 mil milhões de dólares em artigos produzidos por Pequim.

"Nutro grande respeito e afeto pelo meu amigo, o Presidente Xi, mas deixei claro que o nosso desequilíbrio comercial não é aceitável", salientou.

Trump deixou também acusações à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC): "Defendemos muitos destes países, e eles depois aproveitam-se de nós, impondo altos preços no petróleo. Não é bom. Queremos que parem de aumentar os preços", frisou o Presidente norte-americano.

Com efeito, um dos temas transversais do discurso de Donald Trump foi a possibilidade de cada país e nação do mundo seguir o seu caminho e "ser grande outra vez", em referência ao grande mote adotado na campanha presidencial e nestes quase dois anos de presidência.

"Honro o direito de todas as nações do mundo a seguirem e respeitarem os seus costumes, crenças e tradições. Os Estados Unidos não vos vão dizer como viver, trabalhar ou rezar. Apenas vos pedimos para que respeitem também a nossa soberania", frisou Donald Trump.

O ataque velado ao multilateralismo - em particular ao papel do Tribunal Penal Internacional - contrastou com o apelo deixado pelo secretário-geral António Guterres, fez mesmo com que Marcelo Rebelo de Sousa optasse por não aplaudir o homólogo norte-americano no fim do discurso.

Ainda na defesa do patriotismo e contra os valores do multilateralismo, Donald Trump deixou largos elogios a países como a Índia, Arábia Saudita e Israel, mas também à Polónia, destacando a sua luta pela independência energética. Uma situação que, refere, contrasta completamente com a dependência que a Alemanha terá em relação à Rússia, após a construção do novo gasoduto Nordstream.

Esta crítica aos aliados germânicos não é de hoje e já tinha sido apontada com estrondo durante a última cimeira da NATO. "A Alemanha vai ficar totalmente dependente dos recursos russos se não mudar imediatamente de direção", apontou o Presidente norte-americano.
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