Trump confessa-se "desapontado" com Putin, Moscovo desvaloriza "ultimato teatral"

Em entrevista à BBC horas depois de ter ameaçado a Rússia com "sanções severas", o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse estar "desapontado" com o seu homólogo russo mas admite que ainda não desistiu de procurar um acordo com Moscovo para pôr fim à guerra na Ucrânia. Moscovo desvaloriza o que descreveu como "ultimato teatral" de Trump.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Marcos Brindicci - Reuters

“Estou desapontado com ele, mas ainda não desisti. Mas estou desapontado com ele”, disse Trump sobre Vladimir Putin.

Em entrevista à BBC, o presidente norte-americano lamenta que Putin tenha dado a entender que estava disponível para um entendimento, para logo a seguir ordenar o bombardeamento de cidades ucranianas.

“Temos uma boa conversa, eu digo: Boa, estamos perto de conseguir [um acordo], e de seguida ele destrói um edifício em Kiev”, disse.

Questionado sobre se confia em Putin, Trump respondeu: “Para ser sincero, não confio em quase ninguém”.
Desde que regressou à Casa Branca, Donald Trump procurou uma aproximação a Moscovo, prometendo um fim rápido à guerra na Ucrânia.

A sua Administração recuou nas políticas pró-Ucrânia, tendo suspendido a entrega de armas a Kiev. No entanto, Putin ainda não aceitou a proposta de Trump para um cessar-fogo incondicional, que foi aceite de imediato pela Ucrânia.


Por este motivo, Donald Trump não tem escondido o seu descontentamento em relação ao seu homólogo russo e mudou a sua política. Na segunda-feira, o presidente dos EUA anunciou o envio de armas para a Ucrânia, incluindo mísseis Patriot, e ameaçou Moscovo com “sanções severas” caso não avance com um acordo com Kiev em 50 dias.

“Estou muito dececionado com a Rússia e iremos impor tarifas deveras gravosas se não obtivermos um acordo no prazo de 50 dias”, disse Trump numa conferência de imprensa na Sala Oval, na Casa Branca, ao lado do secretário-geral da NATO.
Rússia desvaloriza “ultimato teatral” de Trump
O vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, Dmitry Medvedev, disse esta terça-feira que Moscovo “não está preocupado” com o que descreveu como “ultimato tetral” de Trump.

"Trump emitiu um ultimato teatral ao Kremlin. O mundo estremeceu, à espera das consequências", escreveu Medvedev no X. "A Europa beligerante ficou desiludida. A Rússia não se importou", acrescentou.


Em Bruxelas, a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, disse que o prazo de 50 dias era um período "muito longo", em que "civis inocentes morrem todos os dias".

Kallas anunciou que os 27 estão muito próximos de aprovar um novo pacote de sanções contra Moscovo, sendo este o décimo oitavo pacote de sanções económicas contra a Rússia.

O secretário-geral da NATO iniciou na segunda-feira uma visita de dois dias aos Estados Unidos para debater as contribuições dos países da NATO e a crise na Ucrânia e prepara já um acordo para compra de armas aos norte-americanos.

"Este é um acordo muito importante que fizemos”, disse Trump, sublinhando que as armas para entregar a Kiev pela aliança atlântica serão pagas pelos europeus.

Questionado pela BBC se ainda considera a aliança transatlântica “obsoleta”, o presidente dos EUA respondeu: “Não. Acho que a NATO agora está a tornar-se o oposto disso” porque a aliança está “a pagar as suas próprias contas”.
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