Trump confiante na cimeira com Kim Jong-un mas disposto a abandonar negociações inúteis

por Christopher Marques - RTP
Kevin Lamarque - Reuters

Com o primeiro-ministro japonês ao lado, Donald Trump mostra-se confiante no seu encontro com Kim Jong-un. Apesar do otimismo, o Presidente dos Estados garante que está disposto a abandonar a cimeira ou a cancelá-la, caso a mesma seja improdutiva ou caminhe para o fracasso. No início de abril, o diretor da CIA reuniu-se com Kim Jong-un para preparar a inédita reunião. “Correu muito bem e criou-se uma boa relação”, garante Trump.

A cerca de dois meses da data apontada para a inédita cimeira entre os líderes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte, Donald Trump apresenta-se otimista mas deixa avisos. O Presidente afirma que, no caso de as conversações não serem produtivas, abandonará a cimeira.

“Se acharmos que não será um sucesso, não o realizaremos”, começou por dizer. Trump completou depois que “se um encontro no qual estou não for produtivo, irei respeitosamente abandonar a reunião”.

As declarações foram proferidas durante uma conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro japonês, que tem apresentado dúvidas com a nova postura dos Estados Unidos em relação à Coreia do Norte

Apesar de admitir que as conversações possam fracassar, Donald Trump mantém-se otimista com os passos que têm sido dados. O líder norte-americano pretende manter alguma flexibilidade e insiste que “nunca tivemos num ponto como este com o regime, fosse com o pai, o avô ou o filho”, em referência aos homens da dinastia Kim que têm conduzido os destinos da nação comunista desde 1948.

Na quarta-feira, Donald Trump confirmou que enviou o diretor da CIA à Coreia do Norte para um encontro com Kim Jong-un. Mike Pompeo, que é também o escolhido de Trump para assumir a chefia da diplomacia norte-americana, encontrou-se com Jong-un no início de abril para começar a preparar o encontro entre o ditador norte-coreano e o Presidente dos Estados Unidos.

“A reunião correu muito bem e criou-se uma boa relação. Os detalhes da cimeira estão agora a ser trabalhados. A desnuclearização será uma coisa boa para o mundo mas também para a Coreia do Norte”, revelou Trump na rede social Twitter, confirmando assim a notícia avançada pelo The Washington Post.

A ida de Mike Pompeo à Coreia do Norte mostra o empenho norte-americano neste processo negocial. Pompeo é o mais importante representante dos Estados Unidos a reunir-se com um líder norte-coreano desde 2000, ano em que a então secretária de Estado Madeleine Albright se encontrou com Kim Jong-il, pai do atual ditador.

Com o primeiro-ministro japonês ao lado, Donald Trump reforçou que espera que o encontro seja um sucesso. “Faremos tudo o que for possível para fazer dele um sucesso à escala mundial”, insistiu.
"Pressão máxima"
Menos confiante parece estar o Japão. Tóquio está entre os grandes aliados de Washington, mas tem dúvidas quanto à nova postura norte-americana para com Pyongyang. O Japão tem defendido uma linha dura com o regime comunista. “É preciso manter pressão máxima”, afirmou Abe, alegando ainda que ele e Trump estão em “perfeito acordo”.

O Japão tenta assegurar que tem uma palavra a dizer na resolução deste conflito e que um eventual acordo irá salvaguardar a segurança e os interesses japoneses. Outro tema caro a Tóquio é o caso dos japoneses que foram raptados pelo regime, alegadamente para treinar espiões. A Coreia do Norte admite ter raptado 13 cidadãos nos anos 70 e 80 mas o Japão acredita que são muitos mais.

Donald Trump garantiu que os Estados Unidos trabalharão afincadamente para garantir o regresso dos japoneses raptados por Pyongyang. “Estes raptos são um assunto muito importante para mim porque é algo muito importante para o vosso primeiro-ministro”, insistiu o Presidente norte-americano.

Apesar da cordialidade que marcou o encontro, outro assunto separa ainda os Estados Unidos e o Japão. Donald Trump anunciou recentemente que vai impor taxas aduaneiras à importação de aço e alumínio, tendo posteriormente decidido isentar todos os seus principais aliados do pagamento das mesmas. O único aliado que ficou de fora da isenção foi precisamente o Japão.

Na conferência de imprensa com Shenzo Abe, Donald Trump avisou contra os riscos do que classifica de práticas económicas “injustas”. Washington recusa ainda regressar ao Tratado Trans-Pacífico (TPP), o grande acordo comercial que Barack Obama promoveu com as nações do Pacífico, nomeadamente com o Japão.
Cimeira das Coreias
As revelações sobre os preparativos para o encontro entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte surgem a uma semana da realização de uma cimeira entre as duas Coreias. Este será o primeiro encontro entre os líderes dos dois países desde 2007.

O Presidente da Coreia do Sul e o líder norte-coreano vão encontrar-se a 27 de abril na zona desmilitarizada que separa os dois países. Será a primeira vez, desde a assinatura do armistício, que o mais alto dirigente da Coreia do Norte pisa solo sul-coreano.

Esta quinta-feira, o presidente da Coreia do Sul insistiu que é preciso trabalhar para que as duas nações consigam assinar um tratado de paz. Este tratado significaria oficialmente o fim da Guerra das Coreias. Apesar de o conflito ter terminado em 1953, o armistício então assinado nunca foi transformado em acordo de paz. Ou seja, oficialmente, Norte e Sul permanecem em guerra.

Na quarta-feira, o porta-voz da Presidência sul-coreana tinha já defendido que um acordo de paz não poderia fazer-se apenas entre Seul e Pyongyang, defendendo que deve ser alargado a outros países. Donald Trump já disse que dará a sua “bênção” à paz entre as Coreias.

As relações entre Pyongyang e Seul entraram numa nova fase no início deste ano que contrasta com os meses de tensão que marcaram o fim de 2017, alimentados pelos ensaios nucleares e por uma guerra de palavras com Washington.

As mudanças foram, no entanto, ocorrendo, impulsionadas pela chegada de Moon Jae-in à Casa Azul, a residência oficial do presidente da Coreia do Sul. Também Kim Jong-Un mudou de discurso, tendo defendido no início do ano que a Coreia do Norte é um país defensor da paz e uma “potência nuclear responsável”. O ditador apelou ainda a uma redução da tensão militar e à melhoria das relações com o Sul.

Os Jogos Olímpicos de Inverno deste ano representaram outra etapa fundamental na aproximação entre as duas Coreias. Pyongyang enviou uma delegação à cidade sul-coreana de PyeongChang, liderada pela irmã do próprio Kim Jong-un, e que culminou depois nos convites feitos a Seul e Washington para que se realizassem cimeiras ao mais alto nível.

A primeira está marcada para 27 de abril, entre Moon Jae-in e Kim Jong-un. O encontro entre Kim Jong-un e Donald Trump deverá realizar-se em junho.
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