Trump quer EUA isolado à frente da corrida às armas nucleares

por RTP
Kevin Lamarque, Reuters

O presidente Donald Trump deixou claro numa entrevista à Reuters que a corrida ao armamento é uma das suas prioridades nesta administração. A Rússia e a Coreia do Norte encimam a lista de razões invocadas por Trump para sublinhar a necessidade de manter os Estados Unidos acima de todos os outros elementos que fazem parte do grupo das nações com capacidade nuclear.

Num discurso que ronda os temas em frases muitas das vezes vagas e vazias de conteúdo, o presidente americano abriu o dossier nuclear com um desejo pessoal seguido de um aviso: “Seria fantástico, o desejável era que nenhum país tivesse armas nucleares, mas já que os países vão ter armas nucleares, então nós temos de ser os mais bem equipados desse grupo”.

“Eu sou o primeiro a dizer que gostaria que ninguém tivesse armas nucleares, mas nós nunca iremos ficar atrás de nenhum país, mesmo que seja um país amigo, nós nunca iremos ficar para trás em questões de capacidade nuclear”, explicou.

Na realidade, nada se altera no discurso de Donald Trump. Em Dezembro passado, como assinala a Reuters, um tuite do presidente já fazia numa única frase todo o percurso entre o sim e o não: enquanto o mundo não resolver o problema das armas nucleares, os Estados Unidos devem reforçar e expandir o seu arsenal.

Trump tem a ideia de que os norte-americanos se deixaram ultrapassar nos últimos anos, em particular pelos russos, e fala ainda de uma fraqueza que não permitiu controlar os avanços recentes dos norte-coreanos na sua capacidade balística.
Maus acordos com o KremlinOs Estados Unidos “deixaram-se ultrapassar em termos de capacidade nuclear”.

Estima-se que actualmente a Rússia possua 7.300 ogivas nucleares, contra menos de 7.000 dos Estados Unidos.

Sobre a corrida com Moscovo, o novo presidente norte-americano queixou-se dos “maus acordos” assinados entre a Casa Branca e o Kremlin para cortar a corrida ao armamento. Trump referiu-se em concreto ao New START, classificando-o de “acordo apenas para um dos lados”

Negociado entre a Rússia e os Estados Unidos, o New START foi assinado por Barack Obama e Dmitry Medvedev, chefes de Estado russo e americano, a 8 de abril de 2010, num encontro que teve lugar em Praga. Sob a designação mais explicativa de Measures for the Further Reduction and Limitation of Strategic Offensive Arms, este acordo veio substituir anteriores documentos que estavam a expirar ou que nunca chegaram a ter efeito.

O novo tratado de limitação de armas estratégicas impõe que até fevereiro de 2018, dentro de um ano, os dois países devem limitar os respectivos arsenais, mantendo o mesmo nível por uma década. Trata-se de um documento que impõe restrições tanto à proliferação de equipamentos e capacidade logística em terra como no mar.

No entanto, para Trump o New START é apenas “mais um mau acordo feito pelo país, quer seja o START, quer seja o acordo com o Irão… Nós vamos começar a fazer bons acordos”. Uma afirmação que não dissipa as dúvidas dos analistas sobre uma intenção de Trump de revogar o New START, deixando este território nuclear russo-americano por cartografar.
Coreia do Norte é um assunto para Pequim
Sobre os testes realizados nos últimos tempos por Pyongyang, Trump não descarta uma acção americana para salvaguardar a integridade dos aliados na região – estava a falar do Japão e da Coreia do Sul – mas parece de momento preferir despachar esse dossier para as mãos de Pequim.

“Um sistema de defesa de mísseis é uma das muitas coisas que podem ser feitas” para ajudar Tóquio e Seul, “mas há outras coisas. Veremos o que vai acontecer”, avançou Trump nesta entrevista à Reuters.

Considerando que Pyongyang constitui “um problema muito grave para o mundo”, o presidente americano diz que “a China tem uma enorme capacidade de controle sobre a Coreia do Norte e poderiam resolver o problema facilmente, se quiserem”.

A desnuclearização da Península Coreana tem sido defendida pela China, mas a aliança geo-estratégica com Pyongyang parece vir impedindo medidas mais convincentes por parte de Pequim. Os norte-coreanos têm nas delegações chinesas do Conselho de Segurança da ONU uma couraça contra qualquer tentativa de castigo e não há história recente de se conformarem às resoluções levadas à mesa das Nações Unidas pelas nações ocidentais.

Trump não perdeu também aqui a oportunidade de apontar o dedo ao seu antecessor, Barack Obama. Sem descartar um encontro com o líder coreano, Kim Jong-un, o presidente sublinharia no entanto que “agora é demasiado tarde. Estamos muito zangados por aquilo que ele fez [a sucessão de testes norte-coreanos] e, francamente, isto devia ter sido tratado durante a administração Obama”.
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