Trump teme "armadilha de perjúrio" na investigação a laços russos

por Carlos Santos Neves - RTP
O Presidente dos Estados Unidos reivindicou, em entrevista à Reuters, o poder de intervenção no inquérito conduzido por Robert Mueller Leah Millis - Reuters

Donald Trump admite estar preocupado com o desfecho de um eventual depoimento perante o procurador especial Robert Mueller, titular da investigação sobre a presumível ingerência russa na eleição presidencial de 2016. Em entrevista à Reuters, o Presidente dos Estados Unidos sustenta ainda que cabe à sua esfera de poderes gerir, “se quiser”, o inquérito.

Um face-a-face com Robert Mueller pode constituir, na perspetiva do círculo de Donald Trump, uma “armadilha de perjúrio”. O Presidente norte-americano ecoou esta posição durante uma entrevista exclusiva à agência Reuters, quando questionado sobre a possibilidade de vir a ser indiciado por falso testemunho.Segundo Trump, a investigação de Robert Mueller “faz o jogo dos russos”.


Trump deu assim corpo a inquietações recentemente manifestadas pelo número um da sua equipa de advogados, Rudy Giuliani. Foi o antigo mayor de Nova Iorque quem empregou a fórmula da “armadilha” para defender a blindagem da Presidência.

Concretamente, Donald Trump receia o que pode resultar de uma comparação entre as suas declarações e outros testemunhos já recolhidos na investigação. Desde logo o depoimento da James Comey, o ex-diretor do FBI demitido pelo punho do 45.º Presidente.

“Se eu disser uma coisa e ele disser uma coisa, é a minha palavra contra a dele e ele é o melhor amigo de Mueller. Por isso Mueller poderia dizer: Bem, eu acredito em Comey. E mesmo que eu esteja a dizer a verdade, isso faz de mim um mentiroso. Isso não é bom”, anteviu Trump.

O Presidente norte-americano continua, ainda assim, sem esclarecer se admite ou não sentar-se diante do procurador especial que está a investigar se houve ou não conluio entre membros da campanha presidencial republicana e agentes russos na eleição de há dois anos e, ao mesmo tempo, se o sucessor de Barack Obama procurou obstruir a justiça.
“Posso fazer o que quer que seja”

Entrevistado na Sala Oval, Trump repetiu boa parte do vocabulário que os seguidores da sua conta na rede social Twitter podem encontrar a um ritmo diário, referindo-se à investigação de Robert Mueller como uma “vergonha” conduzida por um procurador especial com opinião formada à partida.

A dado momento, o Presidente sustenta mesmo que tem o poder de intervir na investigação. Algo que, pelo menos por agora, não pretende fazer. A atual Administração, defendeu, é “uma máquina oleada, exceto nesse mundo”.

“Decidi ficar de fora. Agora, não tenho de ficar de fora. Posso entrar e posso fazer o que quer que seja – posso mandar naquilo, se quiser. Mas decidi ficar de fora”, argumentou. “É-me completamente permitido envolver-me, se quiser. Até agora, não optei por me envolver. Ficarei de fora”, insistiu.

No decurso da entrevista, Trump, que continua a ignorar dados dos serviços secretos dos Estados Unidos a apontar para a ingerência de Moscovo, afirma ainda que o trabalho da equipa do procurador especial está a causar danos aos esforços para melhorar as relações com a Rússia de Vladimir Putin, a par da polarização dos norte-americanos.

c/ Reuters
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