Truth Social. Rede social de Trump continua a patinar no vácuo

"Vivemos num mundo onde os taliban têm uma grande presença no Twitter, mas o seu presidente americano favorito foi silenciado" - foi com esta ideia em cabeçalho que a equipa à volta de Donald Trump lançou a Truth Social, uma rede social que permitiria ao ex-presidente manter uma presença assídua no espaço virtual depois da expulsão do Twitter e do Facebook. Mas as coisas não estão a correr bem.

Paulo Alexandre Amaral - RTP /
Emily Elconin - Reuters

O ex-presidente, baluarte dos republicanos, foi banido do Twitter, Facebook e YouTube no ano passado. Em causa, eventuais responsabilidades na invasão do Capitólio a 6 de janeiro de 2021. O Twitter apontou a quebra de regras sobre a glorificação da violência. Trump tinha, só nesta rede, mais de 88 milhões de seguidores.

“Criei a Truth Social... para enfrentar a tirania das grandes tecnológicas”, disse Trump, mantendo o seu habitual tom de desafio. A app foi lançada a 21 de fevereiro, no Dia do Presidente, ficando disponível na Apple Store, a loja de aplicações do iOS, sistema operativo dos iPhone.

Donald Trump tem milhões de seguidores fiéis e seria de esperar que uma grande parte migrasse das redes habituais para a nova casa do ex-presidente, mas seis semanas depois o espaço parece atolado em problemas e o próprio Trump, célebre pela sua língua solta noutros espaços, tem também ele mantido o silêncio naquele que se esperava ser um púlpito fervilhante.
 
Com uma lista de espera de 1,5 milhões de potenciais utilizadores congelada, a rede parece atolada em problemas que não são claros e incapaz de descolar. Problemas em criar conta logo no início e o stand by das contas entretanto criadas mantêm a rede num limbo que não era expectável se recordarmos a atividade frenética de Trump no Twitter.

Lançada originalmente para o iPhone, a Truth Social começou desde logo a deixar de fora os aparelhos com sistema Android, browser da web e qualquer utilizador fora dos Estados Unidos. Trata-se, logo aqui, de uma exclusividade que aparenta riscar os pressupostos iniciais de Donald Trump e apresenta uma enorme desvantagem face ao Twitter, que terá sido o modelo seguido pela equipa que trabalhou na aplicação.

“Está a ser um desastre”, considera Joshua Tucker, diretor do Center for Social Media and Politics da Universidade de Nova Iorque. No seio da própria entourage de Trump, a ideia é, segundo um dos seus elementos, de que “ninguém parece saber o que é que se passa”.
Fora do top 100

Os números vêm dar sustento ao desânimo latente entre os republicanos fiéis ao ex-presidente, já que o YouTube, o TikTok, o Instagram e o Facebook se matêm entre as dez apps com mais downloads, enquanto a Truth social não aparece sequer no top 100.

A nova rede, muito semelhante ao Twitter, deverá permitir a partilha de mensagens, vídeos ou imagens, aqui chamadas de truths (verdades) em vez de tweets. É neste modelo que está a trabalhar o Trump Media and Technology Group (TMTG), a equipa coordenada por um luso-descendente, o antigo congressista norte-americano Devin Nunes.

Nunes prometera que a plataforma, criada para ser uma “experiência livre de censura”, estaria a todo o vapor até final do passado mês de março.
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