Tusk: Brexit é "um dos erros mais espetaculares" na história da UE

por RTP
Tusk aproveitou para lançar críticas a Emmanuel Macron pela sua posição acerca da NATO Foto: Yves Herman - Reuters

Na primeira entrevista desde que deixou o cargo de presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk confessou que o Brexit constitui "um dos erros mais espetaculares" na história da União Europeia e que se seguiu a uma campanha marcada "por uma prontidão sem precedentes para mentir". Tusk aproveitou para lançar críticas a Emmanuel Macron pela sua posição acerca da NATO e pela recusa na adesão da Macedónia do Norte e da Albânia à UE.

Em declarações a sete jornais europeus no segundo dia como presidente do Partido Popular Europeu, Donald Tusk considerou a saída do Reino Unido da UE “a mais triste e dolorosa experiência” dos seus cinco anos de presidência do Conselho, período também marcado por uma crise na Grécia, discussões em torno da migração e a vitória eleitoral de Donald Trump.

Tusk, que recentemente admitiu que será sempre a favor da permanência do Reino Unido na União Europeia, considera que o melhor para ambas as partes é que o Brexit não se realize. Por outro lado, muitos diplomatas europeus receiam que, se um segundo referendo levar à permanência, esse resultado possa originar uma divisão no Reino Unido que impeça o bloco de tomar decisões.

Donald Tusk rejeita essa visão, considerando que “a única diferença seria que o Reino Unido continuaria aqui”. “Eles vão ficar divididos de qualquer das formas, é 50/50. É pura ilusão pensar que será mais fácil construir uma boa relação com o Reino Unido se este estiver de fora”.

O ex-presidente do Conselho Europeu criticou o antigo primeiro-ministro britânico, David Cameron, por ter organizado um referendo que “não tinha hipóteses de ganhar”. Tusk confessou que, no dia seguinte à votação desse referendo, perguntou a Camerou se era “obrigatório seguir o resultado”.

“A minha intenção era, pelo menos, prolongar o debate sobre o Brexit na Europa e também no Reino Unido. Talvez tenha sido um pouco ingénuo acreditar que a decisão podia ser revertida”, admitiu.
Dedo apontado a Macron
O antigo presidente do Conselho Europeu aproveitou para criticar Emmanuel Macron pela sua posição acerca da NATO, que considerou estar em “morte cerebral”, e por se ter recusado a abrir negociações com a Macedónia do Norte e a Albânia para a adesão à UE.

“Penso que, estratégica e politicamente, foi um erro dizer não [à adesão da Macedónia do Norte e da Albânia], depois de tanto esforço e sacrifício, especialmente por parte de Skopje [capital da Macedónia do Norte]”.

Donald Tusk considera que a Europa pode tornar-se menos segura se os dois países não aderirem ao bloco, sendo que as regiões podem criar instabilidade em toda a UE.

“Se queremos tratar Macron como um futuro líder para toda a Europa, num sentido político, então precisamos de um político que se sinta mais responsável pela UE como um todo e não apenas pela França”, defendeu Tusk.

O antigo primeiro-ministro da Polónia descreveu, porém, Macron como “uma esperança para o futuro da Europa” e disse considerá-lo um verdadeiro amigo, mas tem problemas “com as suas mais recentes ideias e opiniões”.

Tusk opôs-se também à abordagem de Macron sobre a Rússia. “Se não conseguirmos proteger a Ucrânia da agressão russa, esse não será apenas um problema para a Rússia, mas para a Europa como um todo. A minha esperança era que Emmanuel Macron fosse consistente nesta questão”, sustentou.
Os maiores desafios para a UE
Donald Tusk declarou que a migração continua a ser “o maior problema” que a União Europeia enfrenta, considerando que, atualmente, não existe solução possível.

“Esta nova versão da migração, os números, a determinação das pessoas que querem vir para a Europa, é algo muito novo mas é também uma situação permanente para o futuro”, explicou.

Para o antigo líder do Conselho Europeu, a maior ameaça à União Europeia vem dos governos, entre os quais o polaco e o húngaro, que “não querem tratar de forma séria os nossos valores” mas que querem receber todos os benefícios da UE.

Tusk acredita, no entanto, que Bruxelas não deve possuir mais poderes que permitam atacar este problema. “Sem boa vontade, não temos hipótese de sobreviver. Esta é parte da beleza da União Europeia”, afirmou.
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