UE lamenta que nem todas as potências mundiais estejam do lado da sociedade civil

por Lusa

Bruxelas, 18 out (Lusa) - A chefe da diplomacia da União Europeia lamenta que nem todas as potências mundiais estejam do lado da sociedade civil e garantiu que a Europa irá continuar a apoiar os defensores dos direitos humanos em todo o mundo.

No prefácio do Relatório Anual da União Europeia (UE) sobre Direitos Humanos e Democracia no Mundo em 2016, a que a Lusa teve hoje acesso, a alta-representante da UE para as Relações Externas, Federica Mogherini, recordou que nesse ano o mundo testemunhou o regresso de tendências autoritárias e um ataque generalizado contra a sociedade civil.

"Os conflitos, a instabilidade política e também fenómenos globais como a migração colocam novos desafios aos direitos humanos em todo o mundo", alertou, lamentando que, neste contexto, as organizações da sociedade civil estejam a "passar tempos difíceis em muitas partes do mundo".

"Infelizmente, não há assim tantas potências globais que estejam prontas a pôr-se do lado da sociedade civil", lamentou, garantindo que os europeus "não irão seguir um certo espírito dos tempos".

A União Europeia, insistiu, "vai continuar a apoiar os defensores dos direitos humanos, fornecendo-lhes apoio legal ou ajudando-os a escapar às ameaças à sua vida".

Considerando que a sociedade civil é "um parceiro indispensável da política externa" da União, Mogherini garantiu que a UE "continuará a ser um parceiro indispensável para sociedades fortes, resilientes e livres - em todo o mundo".

O relatório da UE agora divulgado recorda que "2016 foi um ano difícil para os direitos humanos e a democracia, com uma diminuição do espaço para a sociedade civil e a emergência de complexas crises humanitárias e políticas".

Lembra também que alguns países - África do Sul, Burundi e Gâmbia - anunciaram a intenção de sair do Tribunal Penal Internacional (TPI) e lamenta que a Rússia tenha decidido retirar a sua assinatura do estatuto do TPI no início deste ano.

"As crises e os conflitos armados continuaram a multiplicar-se em 2016, com consequências humanitárias terríveis. Durante o ano, as pessoas deslocadas à força atingiram um número sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial e a proteção de civis em conflito manteve-se como uma preocupação significativa", pode ler-se no relatório.

O documento recorda que as taxas de migração continuaram elevadas, com 387.000 migrantes a entrar na Europa ao longo do ano de 2016.

Lembra que naquele ano a Europa sofreu grandes atentados terroristas que resultaram na perda de vidas humanas e na perturbação da vida diária dos cidadãos europeus.

Apesar de todos os desafios, Federica Mogherini lembra que nem tudo é mau, recordando que o número de raparigas com acesso a educação de qualidade, apesar de ainda ser demasiado baixo, é o mais alto da história da humanidade.

Recorda também que em 2016 a Colômbia pôs finalmente fim a um conflito com 50 anos, "mostrando ao mundo inteiro que a paz é sempre possível".

A chefe da diplomacia da UE termina por isso o seu prefácio com uma nota de esperança e um apelo ao envolvimento: "O progresso é possível e está a acontecer. Mas as boas tendências não irão vencer sem o nosso compromisso constante".

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