Últimos dias na Casa Branca. Trump divide-se entre execuções e perdões a amigos

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Cheriss May - Reuters

As últimas semanas da Administração Trump têm sido um retrato fiel do perfil humano do Presidente que liderou a Casa Branca nos últimos quatro anos. As execuções federais em série – suspensas há vários anos - que Trump acelerou nas últimas semanas, um caderno de encargos que o presidente cessante não dispensa, são o oposto da lista de perdões do círculo próximo e de amigos que está a ser apurada na Sala Oval. Uma escolha sujeita a critérios duvidosos, que em muitos levantou a suspeita de esquemas de interesses privados.

O ano de 2021 arrancou com três execuções que ajudam a deixar uma marca indelével na Presidência. Trump reativou as execuções federais, que estavam em pausa há 17 anos, sendo uma das condenações à morte a de uma mulher, o que não acontecia há quase 70 anos.

Só na semana passada, o Governo Federal levou a cabo duas execuções, perfazendo um total de 13 desde julho passado. Esta noite foi levada a cabo nova execução. Trump é um defensor declarado da pena capital, ao contrário do presidente eleito, Joe Biden, que toma posse esta quarta-feira, dia 20.

O Departamento de Justiça da Administração Trump deu luz verde ao maior número de execuções federais em seis décadas, teimando em deixar uma marca muito particular no que diz respeito aos corredores da morte. No ano passado, o Governo Federal executou dez pessoas, número que é mais do que o triplo das últimas neste período desde 1963: três pessoas. Há cerca de uma semana, na quarta-feira, Donald Trump teve uma outra decisão inédita ao dar luz verde à execução de uma mulher em quase 70 anos.
Indultos

Uma questão que está a fazer correr tinta é a lista final de perdões que está a ser trabalhada pelo Presidente, que já perdoou entretanto quatro membros de uma equipa de segurança privada que operou no Iraque e que numa operação assassinou 17 civis no que ficou conhecido como o Massacre da Praça de Nisour. A lista de perdões do Presidente inclui esses quatro seguranças da empresa Blackwater – Paul Slough, Evan Liberty, Dustin Heard e Nicholas Slatten –, o que já suscitou fortes críticas quando este último integrou um perdão de Donald Trump em 2019.

Apesar de a lista de indultos ser uma tarefa em desenvolvimento, e poder ser alvo de alterações até ao último minuto, a carga pessoal dos perdões não causa já qualquer surpresa nem há sequer espaço para a indignação, face às posições assumidas pelo presidente não só na semana em que o Capitólio foi alvo de um ataque pelos seus apoiantes como nos quatro anos de comando da Sala Oval.

O episódio poderá entretanto ter funcionado como um entrave às intenções iniciais de Trump, empancando a máquina de indultos inicialmente preparada, de acordo com os analistas. O facto de os acontecimentos de 6 de janeiro terem originado um segundo processo de impeachment dificultará aquilo que muitos anteviam como intenção do presidente de emitir um perdão para si próprio, para os seus filhos e para o advogado pessoal, Rudy Giuliani. Os analistas advertem contudo que, apesar de tudo, nunca é fácil com Trump fazer uma previsão assente na racionalidade. Muito menos nos cânones da política.

Sabe-se entretanto que serão à volta de uma centena os beneficiários do perdão presidencial, em particular condenados de colarinho branco, visados por processos de fraude e corrupção.
Lista em aberto

Na imagem pintada por aliados e inimigos do Presidente, este é um dossier em que Trump está no seu meio natural. Vestirá o papel de líder magnânimo, uma espécie de demiurgo todo-poderoso que poderá definir – através dos perdões – para futuro uma rede de favores que ficarão no seu crédito pessoal enquanto homem de negócios – que nunca deixou de ser – e que não deixará de cobrar quando bem entender.

Uma prova de que todos os cenários estão em aberto nesta matéria é, na mesma leva do perdão aos implicados da Blackwater no massacre de Bagdade, o indulto a George Papadopoulos, um antigo conselheiro de política externa de Trump e um dos primeiros visados na investigação do procurador especial Robert Mueller à interferência russa nas eleições de 2016.

Condenado por prestar declarações falsas à equipa de Mueller, Papadopoulos foi um dos elementos da campanha eleitoral de Trump mais visados pela investigação por suspeita de ser a ponte de contacto entre elementos da equipa Trump e o Kremlin. Detido em 2017, acabaria por aceder em cooperar com as autoridades, dando-se como culpado por declarações falsas aquando de um interrogatório do FBI.

Apesar de a equipa de Trump ter feito todos os esforços por se distanciar das iniciativas de George Papadopoulos, o antigo colaborador acaba, três anos depois, por beneficiar de um indulto que chega da mão do próprio presidente.
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