Um galinheiro pode fazer a diferença no Quénia

por Lusa

Numa aldeia africana onde são várias as necessidades básicas, um simples galinheiro pode ser o início de uma vida melhor para as famílias.

É precisamente em Makongeni, no sul do Quénia, que a organização não-governamental (ONG) finlandesa Home Street Home mostra que as pequenas coisas podem fazer uma grande diferença.

Criada pela finlandesa Viola Wallenius, em 2014, com o objetivo de construir um centro de acolhimento para crianças, aquela ONG tem em curso múltiplos projetos de ajuda ao desenvolvimento com o apoio de quatro voluntários estrangeiros e sete locais.

É o caso de Salim Abdala, 28 anos e natural de Makongeni, que está com a ONG desde o início.

"Fui nascido e criado nesta aldeia e aqui costumamos dizer que a caridade começa em casa. Queremos ajudar a resolver os problemas", justifica, enquanto guia a reportagem da Lusa pela aldeia do condado de Kwale, onde a Home Street Home já pôs em prática programas educativos, de permacultura e jardinagem, acesso à água potável e alimentação escolar.

"Somos uma organização pequena e tentamos fazer pequenas coisas. Trabalhamos com a comunidade e de forma muito próxima com as crianças, que são particularmente vulneráveis. Por isso, estamos a construir um centro de acolhimento para receber os casos mais urgentes em Kwale, até encontrarmos uma solução sustentável para que possam regressar às suas famílias.

Salim Abdala recorda que este são os mesmos problemas que enfrentou enquanto crescia: "falta de satisfação de necessidades básicas, falta de apoio... por isso achei que era importante começar por ajudar as pessoas da minha aldeia".

Diariamente, a ONG fornece papas a cerca de 200 crianças em idade escolar para complementar a alimentação.

"O rendimento diário das famílias ronda um a dois dólares e é muito difícil sustentar casas que chegam a ter 12 irmãos. As crianças acabam por saltar refeições, por isso decidimos adotar este programa alimentar na escola", explica o voluntário.

Duas jovens finlandesas, Jenna Katarina Niemi-Korpi, de 20 anos e Ilda Josefiina Autio, de 19, empenham-se na construção de um galinheiro, moldando o barro em pequenas bolas, que depois de cozidas ao sol, formarão as paredes da estrutura.

"Este projeto está a ser desenvolvido em articulação com o governo, essencialmente para aumentar os rendimentos e promover a segurança alimentar e a melhoria da nutrição, apoiando as famílias de várias maneiras: podem iniciar um negócio, usar a carne ou comer os ovos", adianta Salim Abdala.

Depois da construção da capoeira vão ser adquiridas 20 galinhas e ração para três meses, para que se possa iniciar a criação de galinhas que possam ser vendidas no futuro, de forma a que o projeto seja "sustentável e que a comunidade se possa ajudar a si própria, sem depender da ONG", insiste Salim.

A finlandesa Elina Valtonen, de 31 anos, é jornalista e durante três semanas está a trabalhar como voluntária para a Home Street Home.

É a primeira experiência de voluntariado e a primeira vez que está em África e admite que, "no início", sentiu "o choque cultural".

"O mundo é tão diferente, foi uma espécie de choque não vale apena negar. Mas esta é a minha segunda semana e começo a sentir-me muito confortável", diz, sorridente.

Escolheu a Home Street Home por ser uma organização pequena "onde de facto podia fazer a diferença" e participa nas diferentes tarefas: prepara as papas da alimentação escolar, molda as bolas de barro com as quais se constrói o galinheiro, ajuda a escavar um aterro sanitário que faz parte do futuro centro de acolhimento.

Junto desta infraestrutura que está a ajudar a construir, Elina Valtonen explica o que a motivou: "queria fazer algo completamente diferente, queria ser útil".

Mas juntar-se à ONG foi também uma forma de unir o útil ao agradável.

"Queria ir para fora, conhecer outras culturas e viajar. Quis vir para África porque senti que as pessoas realmente precisam de ajuda, ou melhor, podemos trabalhar em conjunto com elas", salienta Elina, demonstrando como os laços de solidariedade ajudam a encurtar os 7.000 quilómetros que separam a Finlândia do Quénia.

 

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