Uma em cada cinco espécies de pássaros na Europa à beira da extinção

por RTP

De acordo com uma lista vermelha realizada pela BirdLife International, espécies de pássaros como o andorinhão preto, a narceja-comum e a gralha estão em vias de extinção na Europa. O documento revela que uma em cada cinco espécies está em risco no continente.

Desde os Açores até aos Montes Urais, muitos pássaros têm sido cruciais para manter vários ecossistemas por toda a Europa. Agora, de acordo com a BirdLife, uma em cada cinco espécies de pássaros estão em risco de desaparecer do continente europeu. A conclusão chegou através da observação de 544 espécies nativas.

Desde o último relatório, em 2015, três espécies tornaram-se regionalmente extintas: o cortiçol-de-pallas, o toirão-do-mato e a estamenha do pinheiro.

No total, 30 por cento das espécies estudadas têm tido um declínio na sua população, com estudos a serem realizados em mais de cinquenta territórios europeus. Na Europa, 13 por cento dos pássaros estão em vias de extinção e outros seis por cento estão ameaçados.

“Os resultados são alarmantes ,mas não estamos surpreendidos”, declarou Anna Staneva, uma das responsáveis pela BirdLife na Europa e Ásia Central. Os resultados obtidos dos últimos relatórios (1994, 2004 e 2015) mostram que o número de pássaros tem decrescido de forma sustentada.

“Estamos a ficar sem tempo, o relógio não para. Não queremos ver as mudanças drásticas que vemos agora a acontecer nos próximos cinco ou dez anos”.

Estas são conclusões que corroboram um outro relatório da Agência Europeia do Ambiente. Nesse documento foi explicado que apenas um quarto das espécies de pássaros estão a ser conservadas. Perda de habitat, intensificação da agricultura, exploração massiva de recursos, poluição e práticas florestais insustentáveis estão a levar ao declínio, com as mudanças climáticas a não ajudarem à situação.

“Estas são ameaças em larga escala, que denominamos de ameaças sistémicas, porque estão relacionadas com o modo como a sociedade funciona e como usamos os recursos naturais. É um sinal de que algo de muito errado está a acontecer perto de nós. Temos de mudar a maneira como vivemos, essa é a mensagem-chave destes resultados”, complementou Staneva.

O andorinhão preto está seriamente ameaçado e a narceja-comum e as gralhas estão a tornar-se espécies vulneráveis, quando antes não mostravam ser motivo de preocupação. Para uma espécie passar para a categoria de quase ameaçada, a sua população precisa de decrescer 25 por cento em pelo menos três gerações. Se o decréscimo for de mais de 30 por cento, estas espécies tornam-se seriamente ameaçadas.

Anna Staneva mostrou grande preocupação pelo facto de estas espécies serem agora motivo de preocupação. “Existem, provavelmente, muitas coisas que todos e cada um de nós podem fazer na nossa vida diária para mudar a maneira como consumimos recursos naturais. No entanto, como cidadãos ativos o mais importante que podemos fazer é chamar a classe política à ação”.

Uma espécie é considerada extinta quando não é vista pelo menos durante cinco anos. Pensava-se que espécies como a tarambola do mar Cáspio e a toutinegra do deserto tinham desaparecido de forma definitiva mas voltaram a reaparecer na Europa.

Apesar do declínio em espécies mais comuns, a verdade é que existem populações de pássaros que estão a reaparecer e a crescer. Pássaros como o abetouro, o priolo (endémico da região dos Açores) e o grifo mostram como uma ação concertada pode ajudar á recuperação de espécies.

O milhafre-real é outro tipo de pássaro que tem beneficiado de nova legislação para banir o uso de pesticidas e a caça.

Outras espécies estão a mudar as suas rotinas devido ao tempo mais quente e estão a recolher benefícios devido às temperaturas mais amenas. Caso do maçarico-de-bico-direito que passou de uma espécie vulnerável para uma espécie não ameaçada desde 2015. Isto deve-se, principalmente, ao aumento da temperatura na Islândia, onde está cerca de 47 por cento da população de maçaricos.

Um relatório de 2020 revelou que espécies mais habituadas ao clima mediterrânico, como o abelharuco europeu e a garça-branca europeia estão a migrar para o Reino Unido, onde os invernos se estão a tornar mais amenos.

Martin Harper, responsável máximo da BirdLife Europa e Ásia Central, disse que espera que este relatório seja o catalisador para que mais pessoas e organizações tomem ação para proteger os pássaros europeus. “Governos por toda a Europa precisam de traduzir a nova ambição global para restaurar a natureza para trâmites legais, tudo apoiado pelo financiamento e políticas corretas”, concluiu.
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