Os serviços secretos da Venezuela detiveram durante a madrugada desta quinta-feira Roberto Marrero, chefe de gabinete do autoproclamado presidente interino, confirmou Sergio Vergara, líder do grupo parlamentar da Vontade Popular, partido de Juan Guaidó. A operação do SEBIN foi denunciada no Twitter pelo próprio presidente da Assembleia Nacional.
#ALERTA Pueblo de Venezuela y Comunidad Internacional:
— Juan Guaidó (@jguaido) 21 de março de 2019
Desde las 2:24 am funcionarios del SEBIN asedian las casas del Diputado y jefe de fracción de VP Sergio Vergara y el Jefe de mi Despacho, abogado Roberto Marrero.
En estos momentos los mantienen secuestrados en el sitio.
Secuestraron a @ROBERTOMARRERO, jefe de mi despacho. El denunció a viva voz que le sembraron dos fusiles y una granada, se lo dijo al diputado @SergioVergaraG, su vecino. El procedimiento comenzó a las 2 am aprox. Desconocemos su paradero. Debe ser liberado de inmediato.
— Juan Guaidó (@jguaido) 21 de março de 2019
Os operacionais do SEBIN terão entrado sem mandado judicial nas casas de Marrero e Vergara no bairro de Las Mercedes, em Caracas.
O momento da partida das viaturas do serviço de informações foi captado em vídeo.
Sergio Vergara e Roberto Marrero - à esquerda e à direita, respetivamente, na fotografia - acompanharam Juan Guaidó no périplo que este realizou, em fevereiro, por países da América Latina, assim como Francisco Sucre, presidente da Comissão de Política Externa da Assembleia Nacional da Venezuela.
Sucre, que tem operado como um ministro dos Negócios Estrangeiros de Juan Guaidó, está ao corrente desta operação. O responsável esteve em Lisboa até quarta-feira, tendo entretanto partido para Rabat, na Argélia.
A RTP apurou que o presidente da comissão parlamentar não conta regressar a Caracas a breve trecho.
O testemunho de Vergara
O líder da bancada parlamentar da Vontade Popular descreveu os acontecimentos da madrugada em Las Mercedes.
“Mantiveram-me no chão, entraram em casa e perguntaram-me se estava com mais alguém. Perguntaram-se se sabia onde vivia Roberto Marrero, ao que não respondi. Repeti-lhes que estavam a violar um direito constitucional, como a imunidade parlamentar, pelo que de nenhuma forma tinha de obedecer a ordens inconstitucionais”, contou Sergio Vergara.
“Entraram mais de 15 na minha vivenda, encapuzados”, acrescentou o deputado.
A RTP obteve um registo em áudio do momento em que os elementos dos serviços secretos arrombam a porta da casa do chefe de gabinete de Juan Guaidó.
“Roberto Marrero gritou-me que lhe tinham apontado duas armas e uma granada. Eles mandaram que se calasse e eu disse-lhe que tivesse muita força”, relatou ainda Sergio Vergara.
“Estamos nesta luta para libertar a Venezuela. Fica claro que a ditadura continua a sequestrar os corpos de segurança, continua a sequestrar os cidadãos, que estes funcionários, tal como nós, padecem das mesmas penúrias, que não entendem a situação que estão a viver, mas continuam a cumprir estas ordens inconstitucionais”, afirmou.
A RTP teve igualmente acesso a um vídeo que mostra como ficou a casa de Roberto Marrero após a operação denunciada pelo campo de Guaidó.
País em colapso e debaixo de sanções
Na quarta-feira, um dia depois do anúncio de novas sanções por parte do Tesouro dos Estados Unidos contra o Governo de Nicolás Maduro, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, advertiu contra o impacto desta via sobre um país a viver uma crise profunda – social, política e economicamente.
“A dimensão e a gravidade das crises nos domínios alimentar, sanitário e dos serviços de base não foram plenamente reconhecidas pelas autoridades [venezuelanas], da mesma forma que as medidas que adotaram foram insuficientes”, avaliou a antiga Presidente do Chile perante o Conselho dos Direitos Humanos da ONU.
A Administração Trump e meia centena de países – entre os quais a maior parte dos Estados-membros da União Europeia, incluindo Portugal – reconheceram a legitimidade ao autoproclamado presidente interino da Venezuela.
Para acrescentar: “Ainda que esta crise social e económica devastadora tenha começado antes da imposição das primeiras sanções económica, em 2017, preocupa-me que as recentes sanções sobre transferência financeiras ligadas à venda de petróleo venezuelano aos Estados Unidos possam continuar a agravar a crise económica, com possíveis repercussões sobre os direitos fundamentais das pessoas e o seu bem-estar”.
Em causa está um embargo de Washington ao petróleo venezuelano que deverá entrar em vigor a 28 de abril, garroteando assim exportações vitais para a economia daquele país da América Latina.
Na terça-feira, em Genebra, a secretária de Estado adjunta dos Estados Unidos para os Assuntos Interamericanos, Carrie Filipetti, procurava garantir que as sanções não teriam por finalidade depauperar ainda mais a população venezuelana: “Tentámos direcionar ao máximo as nossas sanções para que possam afetar o regime e preservar, dentro do possível, os venezuelanos”.
Michele Bachelet, cujo gabinete conta publicar em junho um relatório sobre a Venezuela, denunciou também o que disse ser a contração “do espaço democrático” no país, “em particular a criminalização contínua de manifestações pacíficas e de dissidentes”.
Dados recolhidos pelo Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos indicam que as forças especiais de segurança da Venezuela foram responsáveis, em 2018, pelas mortes de pelo menos 205 pessoas. Outras 37 foram abatidas em janeiro de 2019 em Caracas.