Venezuela. Uma mulher assassinada a cada 27 horas

por Lusa
Uma mulher assassinada a cada 27 horas, na Venezuela D.R.-Will Mullery

A cada 27 horas é assassinada uma mulher na Venezuela, denunciou o embaixador da União Europeia (UE) em Caracas, Rafael Dochao Moreno, alertando que homens e mulheres devem trabalhar juntos para combater o flagelo.

"Há um femicídio (...), estas são estatísticas terríveis e por isso quero destacar esta questão, e o número de órfãos que ficam, após os seus ataques", disse o diplomata.

Rafael Dochao Moreno falava em Caracas, durante uma conferência de imprensa em que anunciou que a UE estava a preparar, para sábado a 4.ª Corrida da União Europeia contra a Violência contra as Mulheres, na qual tradicionalmente participam milhares de pessoas.

"Tento sempre dar um tom mais jovial às minhas apresentações, mas no caso de violência de género não posso ser muito jovial", exclamou o diplomata, que se referiu a expressões que são símbolo de violência.

"Infelizmente, diz-se muitas vezes que 'caladinha te vês mais bonita'. Já ouvi dizer em Espanha centenas de vezes. (Também) aqui, no Peru e no Chile, nos países onde estive (...). Infelizmente, no mundo latino-hispânico, estas expressões parecem-nos normais, mas (...) já é um nível bastante elevado de machismo", disse Rafael Dochao Moreno.

O diplomata começou a conferência de imprensa a afirmar que a violência de género, "é um flagelo mundial".

"Ou somos capazes de o enfrentar juntos, homens e mulheres, ou não poremos um fim a este flagelo", acrescentou, frisando que "trabalhar em conjunto, denunciar a questão da violência contra as mulheres é responsabilidade de todos".

União Europeia procura combater flagelo

Por outro lado, explicou que a União Europeia "tem um plano de ação de género, que leva à realização de atividades em muitos países do mundo, particularmente na América Latina e Venezuela, financiando organizações da sociedade civil".

"Durante a pandemia (da covid-19), a violência contra as mulheres aumentou mais de 25%. O estar confinados em casa, a dificuldade de movimento, infelizmente, tem provocado muita mais violência contra as mulheres, e por isso também devemos estar conscientes desta questão", sublinhou.

"As estatísticas, mesmo na Europa, não são muito fiáveis, porque nem todos os países querem divulgar estatísticas fiáveis. Há países, mesmo países muito sérios (...) que ocultam ou não divulgam as mesmas estatísticas. Em Espanha, um dos países que melhor conheço, ou na Bélgica, os números são espantosos, talvez não sejam 200 mulheres por ano, uma a cada 27 horas, mas uma a cada dois ou três dias", disse.

"Em todos os países europeus, mesmo nos mais avançados em termos de igualdade de género, como os países nórdicos, como a Suécia, a Finlândia, a Dinamarca e a Noruega, apesar de não ser membro da União, existe violência contra as mulheres (...) é um flagelo que não está apenas na América Latina, África ou Ásia, está nos países mais desenvolvidos e o machismo mata no Japão, nos EUA e Canadá, na Espanha, França, Alemanha e Suécia, por isso a preocupação deve ser mundial, em todos os momentos e em todos os lugares", explicou.

"Isto é algo que tem de ser iniciado desde a infância, nas escolas, que tem de ser feito mesmo no elevador que leva ao apartamento, ou na rua, quando se vê um homem a empurrar uma mulher, fazendo um gesto para dizer não. O que quer que façamos, vai fazer aquela pequena mudança que a sociedade necessita", concluiu Rafael Dochao Moreno.

Mulheres forçadas a trocar sexo por comida

A crise política, económica e social na Venezuela está a forçar algumas mulheres "a usar o sexo" como mecanismo de sobrevivência, alertou a coordenadora local do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), Cristina Palácios.

"As mulheres estão a ser obrigadas a recorrer a mecanismos negativos tais como o sexo por sobrevivência, a troca de sexo por comida, a fim de sobreviverem, para poderem alimentar os seus filhos", disse.

Cristina Palácios falava em Caracas, durante a conferência de imprensa organizada pela União Europeia (UE).

Segundo a coordenadora da UNFPA, estes mecanismos a que as mulheres venezuelanas recorrem são determinantes para o trabalho da UNPFA: "definem o que temos de fazer, como temos de o fazer, como podemos ajudá-las".

"O facto de vermos cada vez mais raparigas grávidas é um elemento para conhecer a gravidade, porque as gravidezes precoces são um grande fator e determinam que existe violência sexual contra as mulheres e contra as raparigas em particular", frisou Palácios.

"Não dispomos de dados oficiais sobre a taxa de femicídios. Sabemos através da monitorização feita por diferentes organizações da sociedade civil que até agora este ano na Venezuela se registaram 200 femicídios. Este número é impactante", acrescentou Cristina Palácios.


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