Vírus que mata o cancro revela-se tratamento promissor

por RTP
David Araújo - RTP

Uma nova terapia contra o cancro que usa um vírus comum para infetar e destruir células nocivas está a tornar-se uma grande promessa nos primeiros ensaios em humanos, revelaram cientistas britânicos.

Um dos participantes no estudo viu o seu cancro desaparecer enquanto outros viram os tumores diminuir.

O tratamento é uma forma enfraquecida do vírus da constipação – herpes simplex – que foi modificado para matar os tumores.

Serão necessários estudos mais complexos, mas os especialistas afirmam que uma injeção poderá, em última análise, oferecer uma vida mais longa a doentes com cancros mais avançados.

As injeções, dadas diretamente no tumor, atacam o cancro de duas maneiras – invadindo as células cancerosas e fazendo-as explodir, o que ativa o sistema imunitário.

Cerca de 40 pacientes tentaram o tratamento durante o ensaio. Alguns só receberam a injeção do vírus, chamado de RP2. Outros receberam também um outro medicamento contra o cancro – o Nivolumab. Os resultados, que foram apresentados numa conferência médica em Paris, revelam que três em cada nove pacientes que receberam apenas RP2 viram os seus tumores reduzir. E sete em cada 30 que receberam o tratamento combinado também tiveram bons resultados. Os efeitos colaterais, como cansaço, foram ligeiros.

A BBC dá o exemplo de Krzysztof Wojkowski, um construtor de 39 anos residente no oeste de Londres, um dos pacientes que participou no ensaio feito pelo Institute of Cancer Research no Royal Marsden NHS Foundation Trust.

Em 2017 foi-lhe diagnosticado um cancro das glândulas salivares, apesar da cirurgia e de outros tratamentos, viu o seu cancro continuar a crescer.

“Foi-me dito que não restavam opções. Foi devastador, por isso foi muito bom ter tido a oportunidade de participar no ensaio”, afirmou Krzysztof Wojkowski.

“Levei injeções de duas em duas semanas durante cinco semanas que erradicaram completamente o meu cancro. Há dois anos que estou livre de cancro”, acrescentou.

O responsável do estudo considera que as respostas dadas foram “impressionantes” numa série de cancros avançados, como o cancro no esófago e um raro tipo de cancro ocular.


“É raro ver taxas de resposta tão boas nas fases iniciais de ensaios clínicos, uma vez que o objetivo é testar a segurança do tratamento, e envolvem doentes com cancros muito avançados para os quais os atuais tratamentos deixaram de funcionar”, afirmou Kevin Harrington à BBC.

“Estou ansioso por ver se continuamos a ver benefícios à medida que tratamos um número crescente de doentes”.

Não é a primeira vez que os cientistas usam um vírus para combater o cancro.

O NHS aprovou uma terapia baseada no vírus do frio, chamada T-Vec, para o cancro de pele avançado há alguns anos.

Já Marianne Baker, da Cancer Research UK, considera os resultados encorajadores e que podem mudar o curso do tratamento do cancro.

“Os cientistas descobriram que os vírus poderiam ajudar a tratar o cancro há 100 anos atrás, mas tem sido um desafio aproveitá-los de forma segura e eficaz”, sublinhou.

Para Marianne Baker, “esta nova terapia viral mostra-se promissora num teste inicial de pequena escala. Agora são necessários mais estudos para descobrir como funciona”.

“A pesquisa sugere que combinar vários tratamentos é uma estratégia poderosa, e terapias como esta podem-se tornar parte do nosso kit de ferramentas para vencer o cancro”.
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