Visão Global 2017: Felipe Pathé Duarte

por Felipe Pathé Duarte - Professor universitário, Perito em segurança
DR

Personalidade e Acontecimento de 2017
É ingrato seleccionar qual o acontecimento e a figura que mais tenha marcado a política internacional nos últimos 365 dias. Refugio-me, por isso, no 19º Congresso Nacional do Partido Comunista, a 18 de Outubro – um acontecimento que também consagrou mundialmente um líder, Xing Jimping.

Aqui foram apresentados os objectivos estratégicos chineses, e o Presidente reforçou o seu poder interno e externo. Tendo como pano de fundo o centenário da China, em 2050, o Xing Jimping apresentou uma visão para orientar o partido e o país. No seu modelo de desenvolvimento considerou três períodos: 2012-2020 – O período de construção de um país socialista moderno; 2020-2035 – O período de concretização de um país socialista moderno; 2035 a 2050 – O período de modernização de um país socialista moderno.

A China está a entrar na segunda metade do período de construção, em que Xi assegurou segurança alimentar e vestuário para mais de mil milhões de pessoas. Mas, o aspecto mais crítico será no período seguinte, onde se pretende a concretização de uma reforma estrutural, e onde encaixa o programa "One Belt, One Road". Ou seja, segundo Xi Jinping, é em 2050 que a China será líder do mundo. O passo final para ganhar esta corrida começou agora. A sua ambição é recriar este país como o centro da comunidade internacional e da economia mundial – um modelo para outros Estados seguirem. Xi não hesitou em afirmar a posição internacional da China, que é simultaneamente um parceiro responsável na ordem internacional e uma potência revisionista.

A missão histórica é que a China se torne um país socialista modernizado, partindo do rejuvenescimento da sociedade. A estratégia básica passa pela junção do marxismo-leninismo, com o pensamento de Mao Tse Tung, a teoria de Deng Xiaoping e as ideias de desenvolvimento que Xi implementou nos últimos cinco anos.

Xi Jinping tem a perfeita noção daquilo que foi alcançado pela China.
Pela primeira vez, em 5 mil anos, o povo chinês conseguiu atingir algum bem-estar. A conquista de segurança alimentar e vestuário para 1,3 mil milhões de pessoas não tem correspondência na história da humanidade. Xi afirmou, com clareza, que o partido comunista é o responsável por essa conquista, mas também afirmou que essas tarefas ainda não estão concluídas. Afirmou também que a China ainda está na fase inicial do socialismo e que é o maior país em desenvolvimento do mundo.

Xi Jinping sabe a forma como estas conquistas foram alcançadas.
O presidente chinês disse que estes objectivos foram alcançados pela reforma do partido (reduzindo a corrupção, impondo uma disciplina rigorosa e voltando a focar nos objetivos originais do socialismo com características chinesas) e pelo grande rejuvenescimento da nação chinesa.

Foi reafirmado o controlo das forças armadas pelo Partido Comunista Chinês.
No início de Outubro Xi Jinping reestruturou as lideranças militares, com novos oficiais que lhe são completamente leais. O Exército Popular da China tem tido um foco especial por parte da campanha anticorrupção de Xi. Desde 2012 que já foram punidos, por várias formas de corrupção, mais de 13 mil militares, incluindo dois membros da Comissão Militar Central.

Xi Jinping sabe perfeitamente qual o caminho.
Articulou uma visão clara e um road map para o futuro da China. Demonstrou que, até 2035, a China estará orientada para o desenvolvimento. A sua política externa e de segurança será focada na estabilidade política internacional e no garante do fluxo de matérias-primas para a China da Europa, Ásia e África. Depois de 2035, a China será mais assertiva como líder mundial, com as forças armadas adequadas que sustentem essa ambição e esse papel. Nesta fase, Xi Jinping apresentar-se-á como um modelo para outros governos.

Xi Jinping considera os constrangimentos à persecução dos seus objectivos geopolíticos.
Ter um road map e chegar o destino não são sinónimos. Há muitos desenvolvimentos que poderão prejudicar os planos de Xi Jinping – como uma outra guerra na Coreia ou a permanente instabilidade política em Pyongyang. Além disso, as democracias asiáticas vão ser especialmente cautelosas com as pretensões hegemónicas chinesas. E a Índia também poderá desafiar as reivindicações chinesas à liderança asiática. A realização dos objectivos intermediários de Xi, até 2035, requer um período prolongado de estabilidade.

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