Viúva de agente assassinado. Marina Litvinenko desafia russos a enfrentarem Vladimir Putin

por Rosário Salgueiro - RTP
Marina Litvinenko falou esta quarta-feira à RTP em Londres RTP

À mesma hora que Yulia Navalny discursava no Parlamento Europeu, Marina Litvinenko falava em Londres sobre os perigos do regime de Moscovo. Alexei Navalny e Alexandre Litvinenko, o desertor russo e antigo agente do KGB que morreu em 2006, envenenado, foram, nas últimas décadas os maiores opositores a Putin. As suas viúvas são as vozes mais escutadas fora da Rússia e que, neste momento, desvendam, de forma articulada, as atrocidade do presidente russo.

Na quarta-feira de manhã, perante jornalistas estrangeiros a residir no Reino Unido, a viúva de Litvinenko pediu para que a imprensa e os governos ocidentais não reconheçam as eleições presidenciais russas, que decorrem de 15 a 17 de março, que não digam presidente eleito da Rússia, em resposta à morte de Navalny e de todos os que estão na prisão.

Em entrevista à RTP, Marina Litvinenko recorda que nos primeiros anos deste século o seu marido foi o primeiro a alertar os países do Ocidente para a necessidade de desconfiarem, de não apoiarem e de não fazerem negócios com Putin.

Marina Litvinenko sente por isso uma grande frustração: “Quando falamos de valores democráticos o que parece é que o Ocidente por vezes não valoriza a democracia. A Ucrânia e o povo ucraniano estão a lutar por estes valores da democracia. Se o Ocidente parasse e deixasse de pensar apenas no comércio, no lucro e nos negócios e retornasse a estes valores democráticos poderia haver mudanças (na Rússia)”.
Marina tem estado na luta contra a invasão ucraniana. Desde fevereiro de 2022, a posição de Litvinenko contra Putin parece mais justificada do que nunca. Perguntámos à viúva de Litvinenko se ela acredita que num futuro próximo a oposição russa, no interior e no exterior, conseguirá tirar Putin do poder ou se a opressão e o medo são tão grandes que torna esse objetivo impossível.

A resposta mostra confiança, apesar das dificuldades: “O que vemos nos últimos 24 anos é Putin a destruir sistematicamente a oposição, que não tem representação no parlamento russo. Ali só estão os partidos apoiantes de Putin. Ele destruiu a também a liberdade de expressão, encerrando jornais, televisões e, depois, começou a empurrar pessoas para fora da Rússia. Eu sei que os russos são muito criativos. Quando a mudança acontecer vão reinstalar tudo o que começámos nos anos 90 (do século passado) e a Rússia poderá tornar-se uma democracia. Mas precisamos de uma oportunidade, uma oportunidade de não ter medo. Foi o que Navalny quis demonstrar -  não tenham medo".

"Não podemos funcionar com as regras de Putin. Ele é um presidente à moda antiga. Ele não gosta de tecnologia. Ele desconfia da tecnologia. Na luta ucraniana, por exemplo, há muita tecnologia. Os ucranianos estão a vencer por estarem a usar a tecnologia. É o mesmo que tem de acontecer com a oposição russa. Tem de usar a tecnologia e fazer uma votação alternativa (às presidenciais). Unir as pessoas com mensagens via tecnologias que não sejam descobertas pelos serviços secretos russos e pelas autoridades russas. Assim, as pessoas lá poderão sentir-se um poucos mais seguras, fazendo alguma coisa e não indo presas".

Marina Litvinenko vive no Reino Unido desde 2014. Garante, nesta entrevista, que não teme pela sua vida mesmo tendo visto o marido, Alexander, Sasha para ela, morrer num hospital do norte da capital inglesa, aos 43 anos, semanas depois de beber chá verde com o isótopo radioativo polónio-210 num hotel em Mayfair, em Londres.

Uma década depois, um inquérito concluiu que Vladimir Putin provavelmente ordenou o assassinato do desertor russo e antigo agente dos serviços secretos russos.

Em 2006, Alexander Litvinenko alertava se não se parasse Putin poderíamos ter uma guerra nuclear. Uma ameaça que o líder totalitário russo não se cansa de usar. Marina acredita que esta intimidação é para manter os países ocidentais menos ativos no apoio à Ucrânia.
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