Vladimir Putin ameaça usar todo o "potencial" russo contra entrega de armas à Ucrânia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Vladimir Putin junto ao túmulo do marechal soviético Vasily Chuikov, em Volvogrado Reuters

O Presidente russo aproveitou um discurso em Volgograd para declarar a certeza da vitória na Ucrânia e garantiu que a Rússia está disposta a recorrer a todo o seu arsenal, que inclui armas nucleares, para responder à entrega de armas a Kiev, por parte do Ocidente.

"Não nos iremos deter na utilização de veículos blindados", garantiu Vladimir Putin, lembrando que a Rússia tem “os meios para responder”. "Todos têm de compreender isso", acrescentou.

O Presidente russo falava durante as cerimónias em memória da resistência de Estalinegrado, atual Volgogrado, às forças Nazi durante a Segunda Guerra Mundial, há 80 anos.

Putin aproveitou para fazer um paralelo entre a ofensiva decretada por Adolf Hitler em meados do século XX e o atual envio de tanques Leopard 2 de fabrico alemão para auxiliar Kiev na defesa do seu território da invasão russa.

"Infelizmente, vemos que a ideologia do Nazismo sob a sua forma moderna de manifestação, de novo ameaça diretamente a segurança do nosso país", afirmou.

"Uma e outra vez temos de repelir a agressão do ocidente coletivo. É incrível mas é um facto: estamos novamente sob ameaça dos tanques alemães Leopard com cruzes pintadas", acrescentou o líder do Kremlin perante uma plateia de oficiais e de grupos patriotas juvenis locais.

As forças russas invadiram a Ucrânia há quase um ano, a 24 de fevereiro de 2021, a coberto de uma "operação militar especial" justificada pelo Kremlin com a "desnazificação da Ucrânia" e com a defesa da segurança da Rússia perante a aproximação do Governo de Kiev às instituições ocidentais, como a NATO e a União Europeia.

Nos últimos 11 meses, a maioria dos países europeus e os Estados Unidos têm auxiliado Kiev a resistir à invasão, enviando auxílio militar de importância crescente.
Ameaças
O Kremlin tem alertado diversas vezes através de vários porta-vozes, que tal atitude irá levar a uma "escalada" do conflito e admitindo vir a recorrer à ameaça do uso das suas armas nucleares em "autodefesa".

Esta quinta-feira, Vladimir Putin mostrou-se mais uma vez certo da vitória.

"Quem atrai os países europeus, incluindo a Alemanha, para uma nova guerra com a Rússia, e… espera obter uma vitória sobre a Rússia no campo de batalha, aparentemente não compreende que uma guerra moderna com a Rússia será bastante diferente", alertou.

"Não enviamos os nossos tanques para as suas fronteiras, mas temos os meios para responder e não nos iremos deter na utilização de veículos blindados, todos têm de perceber isso", ameaçou.

Instado pelos jornalistas a aprofundar o significado destas palavras, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, explicou que "à medida que novas armas são fornecidas pelo ocidente coletivo, a Rússia irá alargar o uso do seu potencial para responder, no decurso da operação militar especial", conforme citação da agência de notícias russa TASS.

O Kremlin já prometeu bombardear transportes de tanques Challenger britânicos ou Leopard 2 alemães que sejam encaminhados para a Ucrânia.
A batalha mais sangrenta da II GG
Esta não foi a primeira vez que os responsáveis russos estabeleceram um paralelismo entre a guerra na Ucrânia e a resistência às forças nazi.

A Ucrânia, que fez parte da União Soviética e foi devastada pelas forças alemãs de Hitler, rejeita estas comparações que considera desculpas para uma guerra ao melhor estilo imperialista.

A batalha de Estalinegrado ficou para a História como a mais sangrenta da Segunda Guerra Mundial, com mais de dois milhões de mortos e feridos. A cidade foi arrasada.

A resistência dos habitantes e do Exército Vermelho quebrou o ímpeto invasor alemão, em 1942-3, e o espírito dos defensores foi invocado esta quinta-feira por Putin para explicar porque é que a Rússia irá sair vencedora na Ucrânia.

Estalinegrado tornou-se um símbolo “da natureza indestrutível do nosso povo”, afirmou Putin. O seu discurso recebeu uma ovação de pé.

As cerimónias incluíram a deposição oficial de flores no túmulo do marechal soviético que coordenou a defesa de Estalinegrado e um minuto de silêncio em honra dos mortos na batalha.

Milhares de pessoas encheram as ruas de Volgogrado para assistir à parada da vitória e à passagem de tanques e veículos blindados sobrevoados por aviões caça.
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