Zelensky apela à criação de "exército Europeu" para se defender da Rússia

por Cristina Sambado - RTP
Wolfgang Rattay - Reuters

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou este sábado à Europa para que "aja para o seu próprio bem" e tenha "as suas próprias forças armadas" para se defender da Rússia, numa altura em que a administração Trump está a pôr em dúvida o envolvimento dos EUA na segurança do Velho Continente.

"Acredito sinceramente que chegou o momento de criar as Forças Armadas da Europa", afirmou Zelensky no seu discurso no segundo dia da Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.

Segundo Zelensky dar esse passo "não é mais difícil" do que aquilo que têm feito os ucranianos para enfrentar a Rússia.

"Não se trata apenas de aumentar as despesas com a defesa. O dinheiro é necessário, mas o dinheiro por si só não impede um ataque inimigo", disse o Presidente ucraniano, insistindo que "não se trata de orçamentos", mas da "defesa do país".
Jornal da Tarde, 15 de fevereiro de 2025

E prosseguiu: "eu acredito na Europa. E vós deveis acreditar. E peço-vos que ajam, por vós próprios, pela Europa, pelos povos da Europa, pelas vossas nações, pelas vossas casas, pelos vossos filhos e pelo nosso futuro comum. Para isso, a Europa tem de se tornar autossuficiente, uma força comum unida, ucraniana e europeia", reiterou, antes de salientar que a nova administração Trump abriu um período de incerteza na frente anti-russa.

"Se não o fizermos, quem é que os pode parar? Sejamos francos: hoje não podemos excluir a possibilidade de os Estados Unidos dizerem `não` à Europa em questões que a ameaçam", disse.

Zelensky questionou também os líderes europeus sobre a preparação para um eventual ataque russo. “Se a Rússia lançar um ataque ou uma operação de falsa bandeira, os vossos exércitos estão preparados?”

O Presidente ucraniano recordou ainda que a Rússia faz centenas de ataques contra o seu país. "Este ano, Moscovo planeia criar 15 novas divisões, chegando a 50 mil soldados. É mais do que os exércitos nacionais da maioria dos países europeus. A Rússia continua a abrir centros de recrutamento todas as semanas. E Putin pode pagar isso, os preços do petróleo continuam a ser altos, para que ele possa continuar a ignorar o mundo".

"Nós temos informações claras que este verão a Rússia planeia enviar tropas para a Bielorrússia, com o pretexto de exercícios de treino. É exatamente assim que eles prepararam as forças antes da invasão em larga escala da Ucrânia, há três anos".
O presidente ucraniano realçou ainda que a Bielorrússia faz "fronteira com três países da NATO" e frisou que "Putin vê a Bielorrússia como outra província da Rússia".

O Presidente ucraniano afirmou também que não iria retirar a adesão da Ucrânia à NATO. “Precisamos de uma diplomacia coordenada, o fim desta guerra deve ser o nosso primeiro sucesso partilhado”.

Zelensky revelou ainda que a Ucrânia nunca aceitaria quaisquer acordos de paz alcançados pelas costas ou sem o envolvimento de Kiev, e da Europa, numa mensagem explícita ao presidente dos EUA, Donald Trump, que se esforça para acabar com a guerra com a Rússia.

Nunca aceitaremos acordos feitos nas nossas costas, sem a nossa participação. Não há decisões sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, não há decisões sobre a Europa sem a Europa”, insistiu, acrescentando que “se formos excluídos das negociações sobre o nosso próprio futuro, todos perdemos”.

Para o chefe de Estado ucraniano é “perigoso” que Trump se encontre Putin antes de o receber. E garante que a Ucrânia não pode “concordar com um cessar-fogo sem garantias reais de segurança”.

O Presidente ucraniano acusou mais uma vez a Rússia de ter atingido o arco da central nuclear de Chernobyl com um ataque de um drone na sexta-feira, um ataque que, segundo ele, mostrou que a Rússia “não quer a paz” e “não está preparada para o diálogo”.

Segundo Zelensky, o Presidente russo Vladimir Putin não pode oferecer quaisquer garantias reais de segurança, não só porque é um mentiroso, mas porque a Rússia, no seu estado atual, precisa da guerra para se manter no poder”.

“O mundo tem de ser protegido contra isto”, continuou o líder ucraniano, afirmando que “Putin mente, é previsível”.

c/Agências
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