Zelensky quer Portugal na reconstrução da Ucrânia e Montenegro já vê relação "além da guerra"
Durante uma visita de Luís Montenegro a Kiev, o presidente ucraniano salientou que, apesar da distância geográfica, Portugal e a Ucrânia fazem parte da "Europa unida".
Numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro português, Volodymyr Zelensky disse este sábado querer Portugal a participar no esforço de reconstrução do país e salientou que ambos fazem parte da “Europa unida”.
"Apesar da distância que nos separa, distância geográfica, somos parte da Europa unida, é um continente cujas nações definem a história", afirmou o presidente da Ucrânia, após um encontro a dois com Montenegro e, depois, entre as duas delegações alargadas no Palácio Mariinskyi, residência oficial de Zelensky.
O presidente ucraniano defendeu que "a Europa deve continuar a ser livre da loucura de qualquer ditador" se quiser conservar a sua independência.
"A guerra da Rússia contra a Ucrânia sempre foi algo mais do que a guerra pelas terras da Ucrânia e é por isso que a Rússia nunca se satisfará com uma ou outra parte da nossa terra", alertou.
Portugal e a Ucrânia chegaram este sábado a acordo sobre a produção de drones marítimos. Em conferência de imprensa lado a lado com o presidente ucraniano, Luís Montenegro afirmou que "Portugal e a Ucrânia têm, ao nível dos veículos não tripulados, um conhecimento que é hoje a vanguarda do mundo".
Today, Ukraine and Portugal issued a joint statement on establishing a partnership for the production of maritime drones. We signed it together with the Prime Minister of Portugal, who is paying his first visit to Ukraine today. This is one of the most promising areas of our… pic.twitter.com/3TgKDxRQug
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) December 20, 2025
Zelensky, por sua vez, disse que esta “é uma direção muito importante na nossa colaboração para obter resultados e toda a Europa poderá fazer frente aos russos”.
Envio de tropas em contexto de paz
Luís Montenegro também anunciou que “nada obsta” a que Portugal possa enviar militares para a Ucrânia em tempo de paz, deixando claro que os soldados portugueses não serão enviados para Kiev enquanto durar a guerra.
"Nada vai obstar a que militares portugueses possam fazer na Ucrânia o que já estão a fazer aqui ao lado, na Eslováquia, na Roménia, na Letónia, na Lituânia, em tantos outros países onde as nossas Forças Nacionais Destacadas no âmbito da União Europeia, no âmbito da NATO, participam em missões de paz e participam em missões de dissuasão e de segurança", afirmou.
"Hoje, isso não está previsto”, esclareceu Montenegro, afirmando que ao dia de hoje, Portugal tem participação a nível marítimo e aéreo, mas nenhum tipo de empenhamento terrestre na Ucrânia.
"No futuro, tudo estará em aberto ao abrigo daquelas que são as nossas responsabilidades", acrescentou.
Questionado se compreendia a posição portuguesa, o Zelensky disse entender que apenas depois do cessar-fogo se possa falar neste tema. "Concordo com o Luís, é muito cedo para falar nisso", asseverou.
Zelensky agradeceu também o apoio de Portugal ao acordo alcançado no Conselho Europeu que garante um apoio financeiro à Ucrânia de 90 mil de euros nos anos 2026 e 2027, bem como o acolhimento dos ucranianos que residem em Portugal.
Montenegro faz balanço positivo da visita
Em declarações aos jornalistas no final da visita e antes de embarcar no comboio de regresso, o primeiro-ministro fez um balanço positivo da visita que, apesar da curta duração, diz ter sido construtiva.
“Estamos num nível de cooperação já muito intenso, mas teve aqui uma viragem. Juntamos a toda a cooperação militar e apoio económico uma perspetiva de reforço do nosso relacionamento político e económico para os próximos anos, para além da guerra”, disse Luís Montenegro.
Montenegro destacou que os dois países estão também a "trabalhar de forma muito estreita" em áreas como a educação, o setor da energia e o apoio institucional e administrativo, "nomeadamente no que diz respeito ao processo de adesão da Ucrânia à União Europeia".
O primeiro-ministro disse que a Ucrânia está mais próxima da paz, mas aconselhou serenidade.
"O caminho faz-se caminhando, eu sinto que estamos mais perto, mas não quero é dizer que já estamos numa situação de ser irreversível a obtenção de uma paz justa e duradoura, porque ainda não o podemos garantir", considerou, reiterando que não pode haver paz sem a Ucrânia nem sem a União Europeia e admitiu que também os Estados Unidos e a Rússia são decisivos.
Esta foi a primeira visita de Luís Montenegro à Ucrânia, país invadido pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022, desde que lidera o Governo PSD/CDS-PP (abril de 2024).
c/ Lusa