Como jornalista, mas também como cidadão, estou constantemente a esclarecer as pessoas mais próximas que muito do que estão a ver nas redes sociais não são "Fake News". Porque de notícia, no verdadeiro sentido de um trabalho sério realizado por jornalistas, essas informações que circulam pela internet nada têm.
opinião
Alexandre Brito
Não há "Fake News". Há aldrabões. E jornalismo. São coisas diferentes
É impressionante como todos, incluindo nós, os próprios jornalistas, permitimos que o termo "Fake News" seja utilizado e banalizado. Não estamos de todo a ajudar a esclarecer o público sobre duas realidades muito diferentes. Uma coisa é jornalismo. Sério, verdadeiro. É certo que os jornalistas erram, mas é sua obrigação evitar esse erro. E, quando acontece, corrigir de forma rápida para esclarecer quem nos vê, ouve ou lê. Outra coisa são informações falsas colocadas online e espalhadas pelas redes sociais com o único objetivo de aldrabar as pessoas. Não são notícias falsas. São puras mentiras, publicadas com o único objetivo de ganhar dinheiro ou manipular.
O que muitas vezes estão a ler, ver ou ouvir, são lamentáveis trabalhos feitos por profissionais da mentira que pretendem ganhar dinheiro à custa da estupidez das redes sociais. Ou profissionais da manipulação que pretendem passar informações falsas de forma a moldar a opinião pública.
Vejam esta reportagem CNN que revela esse mundo da mentira e como, na Macedónia, há quem esteja a ganhar milhares de dólares por mês.
Ao usarmos este termo - Fake News - estamos a validar um trabalho criminoso que tem sido combatido. Pelas próprias redes sociais, com um sucesso relativo, é certo, mas também pelas mais altas instituições democráticas como a Comissão Europeia.
É preciso que também nós, jornalistas, e nós, cidadãos, deixemos cair esta formulação. Se não o fizermos estamos a pactuar com um trabalho sujo que em última instância coloca em causa, e tem colocado, a democracia. Estamos a meter tudo no mesmo saco, e isso é um erro.
É preciso que nós, como cidadãos, estejamos conscientes desta realidade de forma a conseguirmos identificar a mentira e evitar que ela seja espalhada como um vírus pelas redes sociais.
Ao mesmo tempo que devemos identificar as fontes de informação verdadeiras, trabalhadas por jornalistas que são obrigados a cumprir regras deontológicas e legais. Podemos não gostar de todos, estou certo. Mas também aqui temos a obrigação de selecionar os meios de informação aos quais damos mais ou menos valor. Sempre foi assim e sempre será.
Mas deixemos de confundir as duas coisas.