Vozes de burro não chegam ao céu

Portugal está na final do Europeu de Futebol.

Chove copiosamente em Madrid. Passa da meia-noite e meia e a luz, por vezes, treme com a fúria da trovoada que ilumina a cidade. Acabei de chegar a casa, depois de fazer reportagem à festa dos portugueses que vivem aqui na capital e assistiram ao jogo Portugal/Gales num restaurante português, a comer frango assado português, regado a cerveja portuguesa, com pastéis de nata de sobremesa e um café, daqueles que só nos sabe assim em Portugal. 


É verdade, já sou uma emigrante com tudo de bom e de mau que a expressão e o sentimento podem acarretar. Bastaram 10 meses. Imaginem o que será estar anos, décadas fora e longe, muito longe de Portugal. Por aqui, desde que começou o Europeu de França, sempre vi entusiasmo, esperança, fé. Lágrimas de orgulho. Respirações contidas antes de um remate, suspiros e asneiras depois de um falhanço, uma alegria infantil, um brilho nos olhos, como os das crianças, sempre que Portugal marcava. Marcava. Não interessa se era nos 90, no prolongamento ou nos penaltis. Não interessa se empatou. Não importa a história de que chegaram às semifinais sem ganhar um jogo. Por que razão um copo tem de estar sempre meio vazio? Por que não está meio cheio? Portugal chegou às semifinais sem nunca perder. Isso sim. Que medíocres e pequeninos conseguimos ser. Apetece-me escrever pouco e com muitas frases feitas. Daquelas que os portugueses adoram. Todas as situações têm um ditado popular…

“Manda quem pode, obedece quem deve.” Ronaldo obrigou Moutinho a marcar, ele é o capitão. Em Portugal: Se não manda é mole, se manda humilha!

“Muito se engana quem julga.” Fernando Santos disse que só regressava a Portugal dia 11 de julho. Em Portugal: a ironia foi total. O selecionador não sabe, decide mal, escreveram muitos.

“A ignorância é o pior de todos os males.” Em Portugal, “a galinha da vizinha é sempre mais gorda do que a minha”, o marido mais trabalhador e o filho mais estudioso que o nosso. “A palavra é prata, o silêncio é ouro.” Tanto se fala de Cristiano Ronaldo. O homem é conhecido e valorizado no mundo todo. É um orgulho estar no Egipto, na Coreia do Sul, no Perú ou na Nova Zelândia e saberem onde é Portugal porque o descobriram através de Cristiano. Até Espanha, com a má imprensa que muitas vezes ataca CR7, valorizou mais o melhor do Mundo e a Seleção portuguesa do que os próprios portugueses. Meus

caros, sempre digo quando faço um direto: só não erra quem não faz! Ele é o melhor e é português. Orgulhem-se, não o destruam.

“Ignorante é aquele que sabe e se faz de tonto.” Se sabemos que não há nada pior do que dizermos mal de nós mesmos. Se até os anúncios de beleza do tempo das nossas mães questionavam “Se eu não gostar de mim, quem gostará”, por que razão continuamos a apostar no “bota-abaixismo”, na “facada nas costas” e na “inveja mesquinha” de quem vence, à custa de suor e lágrimas e ainda move os sentimentos de milhões, eleva o nome de Portugal e dos portugueses. O seu a seu dono e a Seleção de Fernando Santos, de Cristiano, Rui Patrício, Pepe, Bruno Alves, Cédric, William Carvalho, Quaresma, Nani, Adrien, Danilo, Renato Sanches e tantos outros, está na final. Está na final, senhores treinadores de bancada, senhores jornaleiros, senhores críticos e analistas nas redes sociais. Que chatice. Já não podem discorrer sobre as falhas, a falta de golos, o 11 inicial de Fernando Santos. Calma, podem sempre torcer por França ou Alemanha na final, para terem mais assunto.

Timor-Leste voltou a não dormir esta noite. A 14.397,94 km de distância de Lisboa, em Díli, sempre se acreditou em Portugal e nos portugueses.

“Não é com vinagre que se apanham moscas” e não é com mentalidades tacanhas, porque realmente é muito mais fácil dizer mal, do que bem, que se evolui.

Valha-nos que para “palavras loucas (e ocas), orelhas moucas”. Ainda bem que a Seleção portuguesa tem andado surda nesta “Eurocopa”. Quanto a mim, vou festejar como emigrante e viva Portugal.

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