Um herói militar gay

Sempre que se ouve falar em discriminação na instituição militar, por razões de orientação sexual, como foi agora o caso no Colégio Militar, apetece recordar a história do Barão Von Steuben. Na verdade, o atual poderio militar norte-americano deve muito a um antigo general prussiano homossexual, reconhecido pela sua coragem e brilhantismo como estratega.

O subdiretor do Colégio Militar confessou, na imprensa, que, perante a demonstração de “afetos homossexuais” naquela escola, opta-se por “falar com o encarregado de educação para que perceba que o filho ‘acabou de perder espaço de convivência interna’ e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares”. Cairam o Carmo e a Trindade. O ministro da Defesa e o PR foram acusados, pelos militares, de exorbitarem as suas competências constitucionais, pela forma como reagiram a essas declarações, o Chefe do Estado Maior do Exército demitiu-se e gerou-se um drama infindo.

Percebe-se que os militares estejam preocupados com a manutenção da Disciplina com “D” maiúsculo, como escreveu o coronel Carlos Matos Gomes, um dos mais ativos nas críticas ao ministro Azeredo Lopes e a Marcelo Rebelo de Sousa, em todo o processo. Não se entende é que seja sempre mais fácil recriminar do que explicar. Explicar, por exemplo, aos bravos camaradas de armas, sejam eles homens feitos ou rapazes do colégio, que no mundo não existem apenas “meninas” e “garanhões”, e que a coragem e a disciplina não se medem pelos níveis de testosterona.

E explicar com exemplos, que obviamente não faltam, na longa história militar. É aqui que entra o Barão Von Steuben. Podiam outros casos ser invocados, mas o de Friedrich Wilhelm Von Steuben é, talvez, o mais notório de um militar homossexual que pouco teria a aprender com quem quer que fosse, em matéria de valentia, disciplina e destreza bélica.

Von Steuben foi um brilhante general prussiano do século XVIII, mal visto pelas monarquias europeias pelas suas propaladas ligações homossexuais. Viveu num tempo em que George Washington dava voltas à cabeça para conseguir organizar as frágeis milícias que combatiam os britânicos na Guerra Revolucionária. E foi ele que, por intermédio de Benjamin Franklin, acabou por “aterrar” em Valley Forge, na Pensilvânia, para, a partir daí, organizar o Exército Continental que conduziria à independência das colónias americanas.

Ao homossexual Von Steuben deveu-se, então, a transformação de uma milícia desorganizada no exército bem treinado, disciplinado e profissional que foi capaz de combater os britânicos com sucesso nas colónias da América do Norte. E a ele se deveram, igualmente, as “Regulations for the Order and Discipline of the Troops of the United States”, que foram, durante anos, a “Bíblia” militar norte-americana. De tal forma que Friedrich Wilhelm Von Steuben é hoje uma figura histórica reconhecida pelos americanos, com estátuas em sua homenagem erguidas em Valley Forge e em Lafayette Park, em Washington, organizando-se, inclusive, anualmente, em setembro, as Steuben Day Parades, em cidades como Nova Iorque ou Chicago.

De modo que aos alunos do Colégio Militar que exercem “bullying” sobre os colegas que demonstram “afetos homossexuais” é que devia ser dada atenção, nomeadamente falando com os seus encarregados de educação para que percebam que os filhos deviam estudar a vida do Barão Von Steuben. Quem sabe assim melhoravam o seu espaço de convivência interna com aqueles que são diferentes deles.

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