22 crianças vítimas de violência sexual por mês

por RTP
Imagem de arquivo Reuters

São números agora revelados pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Uma média de 22 crianças por mês foram vítimas de violência sexual. A maior parte no crimes acontece no seio da própria família e as vítimas são sobretudo raparigas entre os oito e 17 anos. A APAV revela também hoje que mais de duas crianças por dia foram vítimas de crime e violência.

Foram 881 crianças e jovens que precisaram de ajuda nos últimos três anos. Dados da APAV, a que a agência Lusa teve acesso, indicam que, em média, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima apoiou 22 crianças todos os meses. Ajudou também 140 pessoas que eram familiares ou amigos das crianças, o que totalizou 10 509 atendimentos.
Vítimas são principalmente meninas

Os dados da Rede Care da APAV são muito claros. A maior parte das vítimas de abusos sexuais são raparigas (80,3%) com idades entre os oito e os 17 anos (66,51%). E são sobretudo residentes nos distritos de Lisboa (303 casos) e do Porto (150).

Mais de metade deste crimes - 54,1% - aconteceu no seio da própria família. Mãe ou pai (19,8%), padrasto ou madrasta (11,7%), avós (5,8%), tios (5,2%), irmãos (2,3%) ou ainda outros familiares (9,3%). Mais de metade dos crimes - 54,1% - aconteceu no seio da própria família

Quando os crimes foram cometidos fora da rede familiar (39,9%), nestes casos, o que os dados da APAV indicam é que os abusadores eram conhecidos das crianças (12,1% dos casos) ou até mesmo colegas ou amigos (5,9%). Em cerca de quatro por cento dos casos era o vizinho. E há também há registo de casos em que o crime foi praticado pelo funcionário escolar (1,8%) ou um funcionário de atividades (1,1%).

Em apenas 6,6 por cento dos casos eram pessoas desconhecidas das crianças ou com outro tipo de relação com o menor (8,2%).
Maior parte dos crimes praticados por homens
Dos dados revelados, o que é possível também verificar é que 62 por cento dos crimes reportados tinham a ver com abuso sexual com uma criança até aos 14 anos.

Há também registo de violações (7,1%), importunação sexual (11,2%), atos sexuais com adolescentes (4,2%), recuros à prostituição de menores (0,7%)  ou pornografia de menores (3,9%).

Na maior parte dos casos, 63,8 por cento, os atos foram praticados de forma continuada e por homens (91,4%).
Quantas crianças foram vítimas de crime por dia?

Nos últimos seis anos a APAV apoiou mais de duas crianças por dia que foram vítimas de crime e de violência.

Entre 2013 e 2018, a associação ajudou 5.628 vítimas no global dos seis anos, o que dá uma média de 938 crianças por ano, 78 por mês e 2,5 por dia.

E 2015 foi o ano com mais vítimas. Foram 1084 crianças e jovens que recorreram à associação.

De acordo com a APAV, desde esse ano que o número tem sido inferior: 826 em 2016 e 810 em 2017. Aumentou novamente em 2018 para 941 vítimas.Entre as 941 crianças e jovens apoiados no ano passado, 389 tinham até dez anos, enquanto as outras 552 tinham idades entre os 11 e os 17 anos

Também nestes casos a maior parte das vítimas são raparigas, uma realidade que se acentuou em 2018, numa relação de um rapaz para cada duas raparigas. A APAV nesse ano apoiou 628 meninas e 312 meninos.

Entre as 941 crianças e jovens apoiados no ano passado, 389 tinham até dez anos, enquanto as outras 552 tinham idades entre os 11 e os 17 anos.

Estas crianças viviam sobretudo em famílias nucleares com filhos (34,8%) ou monoparentais (21,1%), uma tendência verificada ao longo dos seis anos, e em 3.251 casos eram filhos do agressor.

No global, o autor do crime é sobretudo do sexo masculino (83,19%), com uma preponderância para as idades entre os 18 e os 64 anos, e a vitimação foi continuada, sobretudo perpetrada na residência comum (56,78%).

Na maior parte dos casos (44,72%) foi feita denúncia, grande parte delas às comissões de proteção de crianças e jovens.

Relativamente ao tipo de crime, as estatísticas da APAV mostram que, no que diz respeito aos crimes contra pessoas, o abuso sexual de crianças foi o mais assinalado entre 2013 e 2018, enquanto nos casos mais específicos de violência doméstica, os crimes de maus tratos psíquicos (455) e físicos (187) são os que se destacam.

"Dos restantes crimes e formas de violência assinalados, o grande destaque, no que diz respeito aos crimes contra crianças, vai para o crime de bullying, com um total de 301 crimes", lê-se no relatório.

A APAV registou ainda 515 crimes contra crianças em contexto escolar, com um pico de ocorrências (105) em 2015, tendo posteriormente o número vindo a baixar, desde 90 em 2016, 89 em 2017 e 87 em 2018.

C/ Lusa
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