Associações de apoio às vítimas afirmam que relatório confirma denúncias

por Lusa

Redação, 20 mar (Lusa) -- As associações de apoio às vítimas dos incêndios de outubro de 2017 realçaram o facto de o relatório hoje entregue pela Comissão Técnica Independente (CTI) confirmar as denúncias de "descoordenação total" e de falta de meios.

"Num primeiro momento chegámos a ficar apreensivos" de que se concluísse ter-se tratado de "uma inevitabilidade", de se atribuir a "tragédia" vivida nos dias 14, 15 e 16 de outubro, na qual morreram 48 pessoas, a um "fenómeno da mãe natureza", o que seria "muito irresponsável", disse à Lusa Luís Lagos, da Associação de Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal.

"Teve a sua quota parte, mas não foi só isso. Estávamos no terreno e sentimos que falhou muita coisa. Falhou tudo. Ficámos entregues à nossa sorte", disse, saudando a "atenção" com que se analisou o que aconteceu.

Entre as conclusões do relatório que foi ouvindo na comunicação social, o dirigente associativo notou a de que a fase Charlie se deveria ter prolongado no tempo, dados os avisos de condições climatéricas adversas e de "enorme probabilidade" de ocorrência de um evento como o que veio a ocorrer.

Luís Lagos referiu ainda as falhas nas comunicações e no comando, também apontadas no relatório, sublinhando que não admitir todas as falhas que ocorreram e apontar o dedo "só à mãe natureza" seria criar as condições para a tragédia se repetir.

Para o dirigente da associação, este foi o principal móbil da exigência para que esta análise se fizesse, tanto por esta comissão como pelo investigador Xavier Viegas (que analisou igualmente o incêndio de junho em Pedrógão Grande).

"Além do apuramento de responsabilidades, porque a culpa não pode morrer solteira, estes relatórios criam memória", levando a perceber o que correu mal e o que é preciso fazer para que "uma tragédia destas nunca mais volte a acontecer", afirmou.

Também para Nuno Pereira, do Movimento Associativo de Apoio às Vitimas dos Incêndios de Midões (MAAVIM), "quase não era preciso um relatório" para a conclusão de que falhou a capacidade de "previsão e de programação" para "minimizar a extensão" dos incêndios que mataram 48 pessoas.

"Voltámos à mesma tecla, de falta de meios e de coordenação, de a maior parte do dispositivo estar desativado apesar de já haver avisos", disse, lamentando os "erros enormes" e defendendo ser "urgente um plano" que ordene a floresta, mais do que a "confusão instalada no terreno".

Para Nuno Pereira, quem tem o poder de decisão "parece não ter aprendido nada", como mostra a forma como foram feitas as candidaturas a apoios, que a MAAVIM exige que sejam reabertas por estarem a deixar "milhares de pessoas" de fora, ou ainda como foi passada a informação sobre a limpeza das florestas.

Por querer que as conclusões das comissões criadas na sequência dos incêndios de 2017 tenham consequências e originem medidas concretas, a MAAVIM vai realizar no sábado, em Midões, um encontro com os lesados e a participação de especialistas, e está a recolher assinaturas para que o assunto seja discutido no parlamento, disse.

A comissão técnica independente que analisou os grandes incêndios rurais de 2017 entregou hoje no parlamento o relatório dos fogos de outubro, envolvendo oito distritos das regiões Centro e Norte.

O documento, que atualiza para 48 o número de mortos nesse mês, conclui que falhou a capacidade de "previsão e programação" para "minimizar a extensão" do fogo na região Centro (onde ocorreram as mortes), perante as previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento.

A junção de vários fatores meteorológicos, descreve, constituiu "o maior fenómeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017, com uma média de 10 mil hectares ardidos por hora entre as 16:00 do dia 15 de outubro e as 05:00 do dia 16".

Contudo, acrescenta, a Autoridade Nacional de Proteção Civil pediu um reforço de meios para combater estes incêndios devido às condições meteorológicas, mas não obteve "plena autorização a nível superior", e a atuação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi "limitada" por falhas na rede de comunicações.

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