Barragem do Alqueva. 20 anos a encher a albufeira

por RTP
Sara Piteira - RTP

Cumprem-se esta terça-feira 20 anos desde que começou o enchimento da barragem do Alqueva, o maior investimento público alguma vez feito em Portugal. Foram já investidos 2.427 milhões de euros, produz energia, reforçou o abastecimento de água a 200 mil habitantes, rega 130 mil hectares e vai expandir-se para beneficiar mais 20 mil. Projeto polémico desde o início, que colocou debaixo de água uma aldeia, a barragem do Alqueva atingiu pela primeira vez a quota máxima em janeiro de 2010. É o maior lago artificial da Europa.

A ideia de uma barragem no Alentejo foi equacionada há várias décadas. Em 1957, foi elaborado o Plano de Rega do Alentejo que assume a necessidade de construção da barragem do Alqueva. Em 1975, o Conselho de Ministros aprova a realização do projeto da barragem do Alqueva. Portugal tem a exploração hidráulica do troço do Rio Guadiana entre as confluências com o Rio Caia e a ribeira de Cuncos.

As obras preliminares e a comissão do Alqueva datam de 1976. Em 1978, as obras são interrompidas e seguem-se ciclos de avanços e recuos do projeto. Em 1996, o Governo assume "avançar inequivocamente" com o projeto com ou sem financiamento comunitário e é feita a adjudicação da empreitada principal de construção da barragem e da central de Alqueva. Em 97, é consolidado o envolvimento da Comunidade Europeia e das verbas comunitárias.
O dia 8 de fevereiro de 2002 fica para a História do Alentejo. António Guterres, então primeiro-ministro, dava a ordem para que começasse o enchimento da albufeira.

Em 2002, são então fechadas as comportas da barragem e deu-se o início do enchimento da albufeira. Inaugurou-se então o primeiro bloco de rega e começa a mudança dos habitantes da antiga para a nova aldeia da Luz, construída de raiz e inaugurada pelo primeiro-ministro Durão Barroso.

Seguiram-se tempos de uma mudança radical no panomarama, na agricultura e vida no Alentejo.
“Há 20 anos falava-se que não havia água, que nunca iria encher. Era um mito comum. Encheu e encheu rápido”, diz à RTP José Pedro Salema, da EDIA, Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva. E adianta que a água que aqui fica armazenada pode ser gerida durante alguns anos. “É este o poder de regularização que tem”, adiantando que o projeto também inclui a produção de energia a partir do sol, usando centrais fotovoltaicas flutuantes no empreendimento, além da Central Hidroelétrica do Alqueva.

Os ambientalistas tecem ainda críticas. José Paulo Martins, da associação ambientalista Zero, refere à RTP que poderia ter havido uma intervenção para minorar a transformação radical que a albufeira do Alqueva trouxe à paisagem e chama a atenção para o uso de culturas mais gastadoras.

Para a população, por exemplo de Serpa, a água é agora um bem com que podem contar, longe das horas contadas de água há muitos anos.

Há 1100 quilómetros de margens na Albufeira do Alqueva, parte ocupada agora por novos tipos de negócios, por exemplo turísticos.

A 12 de janeiro de 2010, a albufeira atingiu a capacidade máxima, tornando-se o maior lago artificial da Europa, e inicia descargas controladas. Ficam concluídas ligações entre a albufeira "mãe" do Alqueva e cinco albufeiras de abastecimento público de água abrangidas pelo projeto, que passa a poder reforçar o abastecimento a 13 concelhos dos distritos de Beja e Évora, num total de mais de 200 mil habitantes.

Em 2016, a EDIA conclui, nove anos antes da data inicialmente prevista (2025), construção de todas as infraestruturas para regar os 120 mil hectares da primeira fase do projeto. A albufeira do Roxo recebe pela primeira vez água do Alqueva para garantir rega e abastecimento público aos concelhos de Beja e Aljustrel.

Em 2017, o Conselho de Ministros decide "formalmente" avançar com segunda fase do projeto para ampliar o regadio em cerca de 50 mil hectares. Alqueva integra Plano Nacional de Regadios para ampliação do regadio. As obras iniciam-se em 2019.

Em 2021, termina a construção dos primeiros três blocos de rega da segunda fase do projeto para beneficiar mais cerca de 10 mil hectares. Trata-se dos blocos de Évora, Viana do Alentejo e Cuba/Odivelas, que estão em condições de começar a funcionar na campanha de rega de 2022.
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