Bebé que nasceu de mãe em morte cerebral encontra-se estável

por RTP
A mãe do bebé Salvador estava em morte cerebral desde 26 de dezembro Claudia Daut - Reuters

Nasceu esta quinta-feira, no Hospital de São João, o bebé de uma grávida que estava em morte cerebral. A jovem de 26 anos manteve-se internada até que se atingissem as condições de maturidade do feto para a realização do parto. O bebé Salvador está agora no Serviço de Neonatologia e encontra-se estável.

A cesariana estava agendada apenas para a manhã se sexta-feira mas, devido a um agravamento do estado de saúde da mãe, o bebé acabou por nascer um dia antes, às 31 semanas de gestação.

Catarina, a mãe do bebé Salvador, estava em morte cerebral desde 26 de dezembro.

O Hospital de São João realizou esta quinta-feira uma conferência de imprensa durante a qual explicou o processo dos últimos meses e as razões pelas quais a comissão de ética e os especialistas deste hospital decidiram que o feto era viável.

Um dos médicos da equipa que acompanhou a situação de Catarina avançou que o bebé apresenta “uma evolução favorável dentro do contexto de um bebé prematuro”.

Referiu ainda que o pai da criança “acompanhou e participou em todo o processo ao longo dos 56 dias em que a mãe do Salvador esteve internada em suporte orgânico no serviço de medicina intensiva e está com o filho desde o parto”.

O bebé nasceu com necessidade de suporte ventilatório, o que é “normal em prematuros”, considerou outra das médicas da equipa. Pesa 1.700 gramas, peso que é “adequado à idade gestacional do bebé”.

“É um bebé de potencial risco”, acrescentou, e o pai já foi informado de que será necessário ter atenção diária à evolução do estado do prematuro.

Rui Nunes, presidente da Associação Portuguesa de Bioética, explicou que nestes casos, desde que o feto seja viável e exista um consentimento presumível por parte da mãe, não existe qualquer dúvida de que a gravidez pode prosseguir.

“Estando a mulher grávida, presumindo-se que era uma criança desejada, ou seja, que existia um projeto parental entre mãe e pai, faz todo o sentido que se convirjam os esforços para que este recém-nascido nasça com as melhores condições possíveis e tenha uma vida feliz na medida do possível”, declarou.

Este é o segundo caso deste género em Portugal. O primeiro ocorreu em 2016, no Hospital de São José, quando uma grávida de 15 semanas sofreu um aneurisma que a deixou em morte cerebral.

A mulher foi mantida nessa condição até às 32 semanas de gravidez, altura em que o seu bebé nasceu. Três anos depois, o bebé Lourenço Salvador encontra-se perfeitamente saudável.
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