Bombeiros reafirmam que "houve falhas" no SIRESP

por Carlos Santos Neves - RTP
“Eu já reportei a quem de direito”, frisou, em declarações à agência Lusa, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut Paulo Novais - Lusa

Num relatório remetido ao Governo e conhecido esta terça-feira, os responsáveis pelo Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) afiançam que “não houve interrupção no funcionamento da rede”, nem “houve nenhuma Estação Base que tenha ficado fora de serviço em consequência do incêndio” de Pedrógão Grande. Mas o comandante dos Bombeiros Voluntários daquele concelho do distrito de Leiria contraria esta versão, no que é secundado por homólogos regionais: “Houve falhas”.

“Eu já reportei a quem de direito. Passados dois dias, reportei a quem de direito”, vincou o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, ouvido pela agência Lusa.

Sem querer alargar-se em comentários sobre o relatório de desempenho do SIRESP, agora publicado no portal do Governo, o comandante insistiu na afirmação de que a situação foi reportada “a quem de direito”.

“É lógico que houve falhas", reagiu, por sua vez, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pêra, José Domingues. “Só ao fim de quatro, cinco ou seis insistências é que conseguíamos comunicar com os operacionais ou com o posto de comando”, fez notar.

No mesmo sentido pronunciou-se o comandante dos Bombeiros de Figueiró dos Vinhos, Paulo Nogueira, lembrando que houve alertas para a falta de cobertura da rede em algumas zonas do concelho desde a implementação do SIRESP.

Várias as frentes de incêndio ativas no centro do país. As imagens da tragédia que atingiu Portugal.


De acordo com o documento da empresa responsável pelo Sistema Integrado de Redes, “a informação apresentada permite concluir que não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP, nem houve “nenhuma estação base que tenha ficado fora de serviço em consequência do incêndio” que lavrou em Pedrógão Grande, embora tenham sido registadas “situações de saturação”.

No documento alega-se mesmo que o “desempenho da rede (...) correspondeu e esteve à altura da complexidade do teatro das operações, assegurando as comunicações e a interoperabilidade das forças de emergência e segurança”.

Todavia, a denominada “fita do tempo” de comunicações, um registo da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), aponta para falhas “quase por completo” às primeiras horas do incêndio, “impedindo a ajuda às populações”.
“Caixa negra”
Estes registos, em destaque na imprensa desta terça-feira, nomeadamente nas páginas do Jornal de Notícias e do Público, constam do Sistema de Apoio à Decisão Operacional da ANPC, que, à semelhança da “caixa negra” de um avião, permite reconstituir eventos e traçar uma linha cronológica com as decisões operacionais na resposta ao avançar das chamas.

A “fita do tempo” de Pedrógão Grande chegou a 23 de junho às mãos do primeiro-ministro, António Costa, na sequência do pedido de explicações enviado à Proteção Civil.

O primeiro registo é das 19h45 de sábado. Começaram então os problemas na rede de comunicações. Foram vários os pedidos de ajuda de pessoas cercadas pelo fogo aos quais os comandos operacionais não puderam dar resposta imediata.
“Algumas contradições”
Num primeiro olhar ao relatório de desempenho do SIRESP, a coordenadora do Bloco de Esquerda apontou “algumas contradições”.

“Ou seja, diz que houve sobrecarga. Diz que não houve falhas, mas depois diz que, na verdade, houve sobrecarga e não funcionou. Portanto, enfim, eu acho que convinha a todos lermos os relatórios com alguma calma e eu acho que, infelizmente, não é a primeira vez que o SIRESP tem falhas”, afirmou Catarina Martins.

“Nós já devíamos ter aprendido que precisamos de um sistema de comunicações integralmente público, com responsabilidades públicas, que à frente do negócio das PPP esteja a segurança das populações”, rematou.

Questionado sobre as conclusões do relatório do SIRESP, o Presidente da República optou por remeter-se ao silêncio até ao apuramento de factos no inquérito entretanto anunciado.

“Como imaginarão, eu não vou, neste momento em que arranca um processo de investigação, estar a antecipar qualquer juízo sobre aquilo que será o resultado da investigação. Há-de haver um resultado, esperemos todos que a breve trecho, e nessa altura, se for caso disso, eu terei oportunidade de falar”, sustentou Marcelo Rebelo de Sousa, que não quis também comentar a controvérsia política em torno da calamidade ocorrida no centro do país.

c/ Lusa
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