Borba. Retomadas operações de resgate

por RTP
Nuno Veiga - Lusa

As operações de resgate para retirar as vítimas da derrocada da estrada entre Borba e Vila Viçosa foram retomadas esta manhã. O aluimento de terras provocou dois mortos e um número ainda indeterminado de desaparecidos.

No local estão a decorrer avaliações técnicas antes de proceder ao resgate das vítimas que caíram dentro de uma pedreira de mármore.

Durante a noite ocorreu mais uma derrocada, o que poderá dificultar ainda mais as operações de resgate.

Proteção Civil, Laboratório de Engenharia Civil, Departamento de Geologia e Minas e Engenharia Militar estão a tentar perceber o que deve ser feito no terreno para as operações de resgate de eventuais vítimas.As duas vítimas mortais, funcionários da empresa que explora a pedreira, estavam numa retroescavadora. Os desaparecidos seguiam em duas viaturas ligeiras.

As autoridades reconhecem o grau de complexidade da operação e adiantam que as operações de socorro poderão demorar semanas.

A parte da pedreira onde ocorreu o deslizamento de terras não tem acesso direto. E o acesso é feito na vertical através de meios mecânicos.

No local, onde foram colocados vários geradores que vão alimentar as bombas de extração de água, estão 84 operacionais apoiados por 39 veículos.

As causas do deslizamento de terra, pedras e mármore, que também provocou a queda de um poste de eletricidade, ainda estão por apurar.
Dificuldades das operações de resgate
O presidente da Câmara de Borba, António Anselmo, realçou a dificuldade dos trabalhos das operações de resgate, sendo necessário garantir "condições de máxima segurança".


"A Câmara fará os impossíveis" para apoiar equipas de resgate, garantiu o autarca, esclarecendo que está de "consciência tranquila".

Já o Comandante Distrital de Operações de Socorro de Évora, José Ribeiro, afirmou que as operações de resgate são muito complexas e poderão prolongar-se por várias semanas.

“São operações muito delicadas, em que cada decisão e cada ação terão de ser bem calculadas, ponderadas e validadas, sob pena de pormos em risco os próprios operacionais que estão no terreno”, frisou José Ribeiro ao num primeiro balanço realizado ao final do dia de segunda-feira.
Jornal alertou há quatro anos
As autoridades já tinham sido alertadas para a falta de segurança do troço da estrada municipal 255, entre Borba e Vila Viçosa. No entanto, a zona nunca foi interditada à circulação.

Em 2014, uma artigo do jornal regional O Campanário alertava para a falta de segurança do troço e avançava que estaria a ser equacionado o encerramento da estrada.

O administrador da Marmetal, uma das empresas extratoras de mármore, assumiu que, apesar dos trabalhos de sustentação dos taludes, havia risco de fracturação das paredes da pedreira.

O artigo do jornal online refere ainda a existência de um estudo do Laboratório Nacional de Engenheira e Geologia que confirmava a perigosidade da situação.

Segunda-feira, em declarações à RTP, Luís Sotto Mayor, administrador da Marmetal, voltou a afirmar que “era uma espécie de tragédia anunciada”.

“A estrada colapsou, numa zona onde não digo previsível, mas que era expectável. Nós já uns há anos tínhamos alertado para essa situação”, afirmou.

Ângelo Sá, ex-presidente da Camara de Borba, diz que esta é uma estrada cheia de perigos e que há muito se temia um acidente.

Em declarações à RTP, o antigo autarca assinala que a estrada era um ponto de passagem para muitos veículos pesados e ligeiros.

Segundo Ângelo Sá, a pedreira onde caiu o troço de estrada já não estava em funcionamento há cerca de dois anos, razão pela qual acumulou água.
Ricardo Ribeiro, da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil, garante que o perigo da estrada estava identificado mas as medidas de prevenção foram insuficientes.


“Não foi a estrada que se aproximou das pedreiras. Foram as pedreiras que se aproximaram da estrada. De forma que a estrada ficou no meio. Isto só por si é uma fragilidade estruturante da própria estrada”, disse o técnico à RTP.

Para Ricardo Ribeiro, a estrada “devia ter sido objeto de uma intervenção ou então de uma interdição”.

“Ainda para mais quando nós sabemos que o perigo estava identificado, porque havia condicionamentos de trânsito”, frisou

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