Capacetes Brancos consideram no Terra Justa em Fafe que regime sírio é "criminoso"

por Lusa

Fafe, Braga, 18 abr (Lusa) - Dois representantes da organização humanitária "Capacetes Brancos" qualificaram hoje, no Terra Justa, em Fafe, o regime sírio como "criminoso" e responsável pelo ataque com armas químicas, no dia 7 de abril, na cidade de Douma.

"O primeiro criminoso é o regime, mas não é o único", disse Assad Hanna, dirigente daquela organização não-governamental síria.

"Quem tem aviões, helicópteros e armas?", questionou, lembrando que "é o regime sírio que tem essa capacidade militar".

Falando em árabe, com posterior tradução em português, numa "conversa de café" moderada pela jornalista Cândida Pinto, realizada no âmbito do Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade - Terra Justa, aquele cidadão sírio, professor de profissão, acrescentou a propósito do ataque químico a Douma:

"Não era a primeira vez que havia ataques com armas químicas, mas desta vez era concentrado e dirigido para matar pessoas".

E contou: "Às 8:00, houve um ataque com gás e armas químicas. A resposta dos Capacetes Brancos foi limitada, porque não sabiam o tipo de gás. Viram pessoas a salivar e com a cor da pele azul". Nesse ataque, exclamou, morreram mais de 40 pessoas, entre as quais 12 crianças.

Os Capacetes Brancos, internacionalmente conhecidos como `White Helmets`, estão a ser homenageados esta quarta-feira, dia de arranque da edição 2018 do Terra Justa.

A organização é constituída por 400 voluntários e estão no terreno em nove províncias da Síria desde o início do conflito, em 2011. Nas suas missões de socorro às vítimas, os `White Helmets` já salvaram 114.000 pessoas, mas já perderam 137 dos seus elementos, em resultado de bombardeamentos.

Assad Hanna estava acompanhado por Nedal Izdden, também de nacionalidade síria e médico-dentista de profissão. Os dois explicaram que a organização é apoiada financeiramente por governos de vários países ocidentais, como o Reino Unidos, Holanda, França, Estado Unidos e Canadá e uma rede internacional de mais de 200.000 doadores, através de um fundo comunitário.

Além das missões humanitárias, a organização tem-se evidenciado no envio de vídeos do conflito que são distribuídos no mundo inteiro por "jornalistas amigos".

Os dois Capacetes Brancos negaram algum tipo de proximidade a uma ou mais fações do conflito, nomeadamente à Al-Qaeda, sublinhando a sua independência e que a sua única preocupação é "fazer o bem", dizendo-se vítimas de uma campanha de difamação do regime de Bashar al-Assad.

"Quem quer parar os Capacetes Brancos são os criminosos que não querem que o mundo saiba o que se passa lá", vincou Assad Hanna, recordando ser a única organização síria humanitária no terreno: "O nosso trabalho não pode parar, porque ninguém nos substitui".

Nedel Izdden indicou, por seu turno, que os Capacetes Brancos não fazem distinção entre as vítimas, em função da religião ou etnia. "Eles não sabem se as vítimas são muçulmanas ou cristãs. Isso é irrelevante. Eles estão lá para ajudar seja quem for", indicou.

Assad Hanna insistiu que o regime sírio provocou mais de meio milhão de vítimas desde o início do conflito e obrigou à deslocação de 10 milhões de pessoas.

"Também há outros grupos a cometer atos criminoso", reforçou Nedel Izdden, aludindo a bombardeamentos de hospitais, escolas e até padarias.

Assad Hanna sinalizara antes que, avesso às várias fações do conflito, "está o povo a sofrer com o ajuste de contas no território sírio", enquanto criticava a comunidade internacional por nada ter feito em sete anos para acabar com "uma guerra entre partes diferentes do mundo".

"Será que esses interesses internacionais são tão importantes que merecem estes rios de sangue?", perguntou, enquanto admitia que o seu povo "já perdeu a fé na comunidade internacional", mas não "a vontade de lutar pela pátria".

O Terra Justa prossegue na quinta-feira, com uma homenagem à organização internacional `Human Rights Watch`.

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