Cavaco e Sócrates empenhados num esforço de coordenação política

por Agência LUSA

Os primeiros 100 dias de coabitação entre o Presidente da República, Cavaco Silva, e o primeiro-ministro, José Sócrates, foram caracterizados por um esforço comum de coordenação política, sobretudo em áreas como a defesa e a política externa.

"Acho que o senhor Presidente da República esteve muito em consonância com as preocupações e com os objectivos do Governo", fazendo "um discurso de esperança" no futuro, com "apelos à responsabilidade individual" e "ao trabalho árduo", assim reagiu o primeiro-ministro à intervenção de posse de Cavaco Silva na Assembleia da República a 09 de Março.

Ao fim de 100 dias, o registo de José Sócrates é o mesmo: as prioridades de Cavaco Silva, sobretudo ao nível das reformas e das políticas sociais, estão "na linha da agenda política do Governo".

Desde a posse até hoje, as relações de Cavaco Silva e de José Sócrates apenas conheceram algum atrito quando o Presidente, no dia 02, vetou a Lei da Paridade, aprovada no Parlamento pelo PS e Bloco de Esquerda.

No entanto, nesse mesmo dia, o primeiro-ministro e secretário- geral do PS emitiu um comunicado a desdramatizar as consequências do veto presidencial.

Apesar do veto, José Sócrates disse ter registado "com agrado" a conclusão que "o senhor Presidente da República comunga das preocupações" do PS e do executivo sobre "o necessário aumento da participação das mulheres na vida política e partilha da convicção de que o legislador está obrigado a promover a igualdade no exercício dos direitos políticos por parte de homens e mulheres".

Quanto aos motivos invocados por Cavaco Silva para usar o veto - o facto de a lei proposta pelo PS ser excessiva e desproporcionado - , Sócrates classificou-os de "instrumentais".

Sobre o clima de relações pessoais entre o Presidente da República e o primeiro-ministro, membros do executivo e colaboradores de Sócrates coincidem na perspectiva de caracterizá-lo como "cordial" - e alguns destes acrescentam também a ideia que "há traços de semelhança ao nível do feitio de ambos".

Dos encontros semanais das quintas-feiras, entre o Presidente e o primeiro-ministro, nada até agora veio a público - atitude que tanto agrada à personalidade de Cavaco Silva, como à de José Sócrates, que, desde que é chefe de Governo, nunca prestou declarações à saída das suas audiências no Palácio de Belém.

Das reuniões entre Cavaco e Sócrates, fontes do Governo apenas adiantam que, por vezes, chegam a prolongar-se por três horas (em vez dos tradicionais 60 minutos dos tempos de Jorge Sampaio) e que José Sócrates regressa a São Bento "bem disposto".

Em termos políticos - e em áreas em que a Constituição da República atribui especiais competências ao chefe de Estado, como a política externa e a defesa -, Cavaco Silva e José Sócrates falaram a uma só voz.

Na questão de Timor-Leste, a decisão de enviar um contingente de 120 homens da GNR para Díli foi concertada entre Belém e São Bento antes de vir a público, como referiu o primeiro-ministro na sua comunicação ao país a 25 de Maio.

Nos 100 dias que leva em Belém, Cavaco Silva recebeu vários sectores sociais, como representantes de sindicatos e de confederações patronais, em protesto contra políticas do Governo, mas nenhuma declaração do Presidente pôs em causa a estratégia do executivo do PS.

"É bem sabido que Portugal vive uma situação de dificuldades nas finanças públicas e todos têm que ser chamados a ajudar para resolver esse problema", disse Cavaco Silva em Pristina, no final da sua visita ao contingente português no Kosovo, em Abril.

Durante essa visita, Cavaco Silva afirmou-se ainda empenhado em levar "à letra e na prática", na área da Defesa e noutras áreas, o conceito de cooperação estratégica com o Governo.

O primeiro-ministro reagiu na mesma linha de simpatia política, quando Cavaco Silva, durante o seu discurso na sessão comemorativa do 25 de Abril, na Assembleia da República, escolheu como prioridade política a questão da inclusão social.

"Não posso estar mais de acordo com o senhor Presidente da República, ao chamar a atenção do país para a necessidade de fazer mais no que respeita à justiça social e relembrar o quanto há para fazer para que Portugal seja um país mais justo, mais solidário e mais igual", declarou José Sócrates.

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