CNE e sindicatos defendem aposta na carreira docente e qualidade das aprendizagens

por Inês Moreira Santos - RTP
Nuno Patrício - RTP

Para o presidente do Conselho Nacional de Educação, é necessário começar a ensinar os alunos de outras formas e apostar "numa outra pedagogia". Perante as conclusões do relatório divulgado esta terça-feira pela própria entidade, que identifica problemas como a falta de professores, dificuldades de aprendizagem e a necessidade de reestruturar os ciclos de ensino, também a Federação Nacional de Educação considera o "Estado da Educação 2022" como um "retrato do sistema educativo", reforçando a necessidade de mais investimento na carreira docente e na "qualidade dos conhecimentos científicos e pedagógicos dos futuros professores". Fenprof e S.TO.P. reagem no mesmo sentido.

O CNE quer "apostar mais numa outra pedagogia, envolvendo os alunos em discussões, havendo mais interação social, havendo mais discussão na sala de aula desde a mais tenra idade".

"Há pessoas que consideram que basta saber matemática ou física (...) para se se ser professor de física. Não é assim", afirmou Domingos Fernandes à Antena 1, lamentando que se debata "tão pouco na sociedade portuguesa esta necessidade de apoiar os professores na sua formação contínua, para que possam transformar o seu trabalho, para o encarar de uma outra forma e para estejam mais abertos a outras formas de organizar como ensinam".

Domingos Fernandes admite que é preciso fazer diferente, para fazer melhor.
O presidente do Conselho Nacional de Educação destacou ainda as conclusões do relatório que apontam para dificuldades dos alunos em pensar de forma complexa e diz acreditar que este é um problema transversal que vai do ensino básico até ao ensino superior.

Os alunos portugueses revelam, segundo o presidente da CNE, "dificuldades nos processos mais complexos de pensamento", na "resolução de problemas" e a nível do "pensamento crítico e do pensamento criativo".

"Isto são, de facto, competências que exigem a mobilização, a integração e a utilização daquilo que chamamos processos mais complexos de pensamento", argumentou.

Os alunos portugueses, quis deixar claro, "são muito bons a reproduzir informação, mas não em pensar sobre essa informação".
Em reação às conclusões divulgadas, o secretário-geral da Federação Nacional de Educação começou por considerar o Estado da Educação como um "trabalho de muita qualidade do Conselho Nacional de Educação e que faz um retrato do sistema educativo português".

As conclusões deste estudo vão ao encontro das reivindicações da FNE, afirmou Pedro Barreiros em entrevista à RTP.

"É necessário maior investimento na profissão docente, é necessário combater o desinvestimento da profissão docente, é necessário e urgente recrutar novos professores tornando a carreira mais atrativa", declarou o responsável da FNE.
No entanto, Pedro Barreiros não deixou de referir os "dados positivos" que considera "importantes", indicados no relatório que será apresentado esta terça-feira. Entre o que "importa valorizar", na ótica da FNE, é o facto de a taxa de escolarização estar a crescer.

"Isso é um dado extremamente positivo e que dá algum alento"
, argumentou.

A taxa de conclusão dos alunos "também é importante", mas como o estudo indica "as aprendizagens, a realização de tarefas complexas, o raciocínio, a criatividade, ficam ainda aquém daquilo que são os objetivos desejados".

Por vezes, explicou o secretário-geral da FNE, "a progressão dos alunos não está relacionada diretamente com aquilo que são as qualidades das aprendizagens e as competências desenvolvidas", sendo necessário também maior investimento nesta área.

Quanto à formação dos professores, Pedro Barreiros considerou que "não pode ser posta em causa a qualidade dos conhecimentos científicos e pedagógicos dos futuros professores".
Prioridade é investir na escola pública e na carreira docente

Para o secretário-geral da Fenprof, a falta de professores é uma consequência da falta de investimento na Educação.

"Há um envelhecimento crescente da profissão", afirmou Mário Nogueira, acrescentando que há também "uma crescente falta de professores".

Além disso, no útlimo ano "a aposentação aumentou 44 por cento" e o ingresso de novos professores só terá aumentado uns dois ou três por cento.
Começando por realçar os dados positivos do estudo do CNE, Filinto Lima felicitou o facto de haver mais alunos a terminar a escolaridade e de haver "mais alunos adultos a ingressar no sistema educativo".

O presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas considera, por seu turno, que "há muita coisa a melhorar, desde logo as condições de trabalho dos professores".

Filinto Lima admite que também concorda com a necessidade de mudar o sistema de passagem dos alunos do primeiro para o segundo ciclo.

A aposta na formação dos professores, concluiu, também "é muito pertinente".
Em Alverca, na escola secundária Gago Coutinho, vários profissionais juntarm-se em protesto pela falta de professores, como alerta o relatório "Estado da Educação 2022". A participar nesta manifestação, o coordenador do S.TO.P. explicou à RTP que a questão do "envelhecimento não afeta só a classe docente" mas também outros profissionais de Educação e das escolas.

André Pestana aponta o dedo às "políticas educativas das últimas décadas" nas quais de "desinvestiu tanto na Escola Pública", tornando "pouco apelativo abraçar estas profissões".

"É preciso que o próximo Governo (...) invista a sério na Escola Pública", declarou André Pestana.
O número de novos professores a chegarem ao ensino é insuficiente para compensar o volume de saídas da profissão. A conclusão consta no relatório “Estado da Educação 2022”, divulgado pelo Conselho Nacional da Educação. “Face à média os países europeus”, adverte a entidade, o contexto português é “preocupante”.

Os dados divulgados no relatório agora conhecido vêm confirmar um aumento da idade dos docentes nos últimos 11 anos: no ano letivo de 2021/2022, quase 60 por cento dos professores tinham 50 anos e perto de 30 mil tinham mais de 60.
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