Comandante dos bombeiros voluntários do Fundão demite-se após escândalo de abusos sexuais

Numa carta à qual a RTP teve acesso, o comandante José Sousa diz ter apresentado a demissão na quinta-feira por considerar que é "o primeiro e último responsável por tudo o que acontece no Corpo de Bombeiros".

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Foto: Jorge Esteves - RTP

Num comunicado à população, o comandante garante que nunca teve conhecimento prévio “de quaisquer atos semelhantes por parte dos arguidos, dentro ou fora da instituição”.

Assim que os casos chegaram ao seu conhecimento, José Sousa diz ter determinado de imediato o apoio integral à vítima e a abertura de um processo disciplinar, “com o objetivo de apurar sem hesitações todos os factos e responsabilidades”.

Enquanto Comandante, sou o primeiro e o último responsável por tudo o que acontece no Corpo de Bombeiros e nunca me exonerarei dessa responsabilidade. É por isso, e por respeito a esta farda, a esta casa e à população que sempre servimos, que, após reunir com o comando, e, ontem, dia 27 de novembro, com todo o corpo ativo, apresentei à Direção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Fundão a minha demissão, com efeitos imediatos”, lê-se na carta.

"Faço-o com tristeza, mas também com a consciência tranquila de quem tudo fez para defender a honra da instituição e o bem-estar de quem dela depende", acrescenta.

A demissão surge depois de a Polícia Judiciária ter comunicado, esta semana, que deteve 11 bombeiros do Fundão por suspeitas de crimes de violação e de coação sexual.

Em comunicado, a PJ adiantou que os crimes terão sido cometidos em dois momentos distintos, dentro do quartel do Fundão e de Soalheira. De acordo com a PJ, a vítima foi um outro bombeiro, com 19 anos, "o qual foi sujeito a atos sexuais violentos, numa duvidosa praxe, pois seriam os seus dois primeiros serviços".

Os 11 bombeiros em causa foram ouvidos em tribunal na terça-feira e ficaram com termo de identidade e residência, depois de o comandante ter considerado que “não havia motivo para os suspender”.

Os bombeiros ficaram também proibidos de contactar ou de se aproximarem da vítima e impedidos de falar com outros arguidos do processo.

A Justiça decidiu ainda que oito dos 11 bombeiros ficam proibidos de entrar no quartel e só podem exercer funções em caso de perigo grave para a população.
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