Comissário europeu da Proteção Civil: “Estamos a lutar contra o tempo”

por RTP
Em entrevista à RTP, o comissário europeu explica que é preciso maior eficácia na resposta europeia às catástrofes. Muhammad Hamed - Reuters

A Comissão Europeia avança com o reforço dos meios de proteção civil e terá aviões próprios para responder aos incêndios. Em entrevista à RTP, o comissário europeu explica que é preciso maior eficácia na resposta europeia às catástrofes e defende que “a prevenção é melhor do que a cura”. Afirma ainda que esta é uma corrida com o tempo, acreditando por isso que o Parlamento Europeu e os Estados-membros serão céleres a aprovar este novo sistema.

A Comissão Europeia vai investir 280 milhões de euros no RescUE, um programa que prevê a aquisição de aviões e outros meios pesados para garantir o apoio imediato a catástrofes que ocorram em qualquer país da União Europeia.

O anúncio surge depois da difícil resposta da Europa aos incêndios em Portugal, quando foram necessários vários dias até que os meios estivessem efetivamente disponibilizados. Em entrevista à RTP, o comissário europeu da Ajuda Humanitária e Gestão de Crises aponta este como um primeiro passo firme para criar uma unidade mais alargada de proteção civil que estará sempre disponível.

Em entrevista ao correspondente da RTP em Bruxelas, Duarte Valente, Christos Stylianides alerta que a “prevenção é a melhor do que a cura” e diz também que a União Europeia está a “lutar contra o tempo”. Por isso mesmo, acredita que o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu serão breves a aprovar a proposta agora apresentada pela Comissão.

RTP: Quais são as principais diferenças entre o plano de salvamento apresentado hoje e o mecanismo anterior.

Christos Stylianides: Tenho orgulho no que atingimos com este sistema atual. Vi em muitos casos a nossa resposta eficiente aos estados-membros. Mas, como costumo sublinhar, temos de elevar o sistema atual para criar respostas europeias coletivas mais eficazes.

Como este novo sistema, em primeiro lugar, podemos criar capacidades europeias próprias, com comando e controlo. Neste caso, quando enfrentamos crises múltiplas na Europeia, podemos prestar assistência em toda a parte e não só na base voluntária do sistema atual.


Mas que significa isso? Mais aviões, por exemplo?

Sim, mais aviões. É tão simples.

Quantos? Tem alguma ideia?

Estamos a avaliar o que precisamos através de estudos científicos. Acho que não seria correto falar sobre isso agora porque temos de ver o que é necessário para aumentarmos a nossa resposta coletiva com os Estados-membros. Mas sem dúvida que precisamos de uma capacidade europeia com comando e controlo.

Em segundo lugar – e esta é uma grande diferença e um valor acrescentado – vamos focar-nos na prevenção e preparação.

Muitos peritos creem que a melhor maneira de combater fogos florestais ou outros desastres naturais é preveni-los.


Eu venho da medicina e sei que a prevenção é melhor do que a cura. Mesmo neste domínio difícil e exigente, a prevenção e a preparação são melhor do que a cura e são o pilar mais importante para enfrentar esta nova e dura realidade das alterações climáticas.

Disse recentemente que o que aconteceu este verão em Portugal, Espanha e na Califórnia é o novo normal. Temos de nos preparar para tragédias como as que aconteceram?

Sem dúvida. O que aconteceu em Portugal, em agosto e outubro, foi um evento trágico. E temos de fazer a diferença para evitar estes fenómenos trágicos no futuro. É por isso que fizemos esta proposta: para prevenir fogos florestais no próximo verão, principalmente no sul da Europa. Estamos a lutar contra o tempo. Estou certo de que o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu estão conscientes da urgência desta questão. Conto com a colaboração deles para que esta proposta seja adotada brevemente.

Em outubro, quando Portugal pediu ajuda ao Mecanismo Europeu de Proteção Civil, os Estados-membros levaram quatro dias a responder. Pode garantir aos portugueses que isto não voltará a acontecer?

É por isso que temos de melhorar o sistema atual. Para estar onde os cidadãos europeus precisam o mais rapidamente possível, de forma imediata e eficaz, para os ajudar num momento crítico. Acredito que o ResCUE estará pronto para vermos esta resposta imediata e eficaz do Sistema Europeu de Resposta Coletiva.
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