Cotrim Figueiredo teme maioria absoluta do PS

por Lusa
Cotrim de Figueiredo teme uma maioria absoluta do PS nas próximas eleições Manuel de Almeida-Lusa

O presidente da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, pede "sinais de maturidade" a políticos e eleitorado nas próximas eleições, avisando que o PS com uma maioria absoluta será "ainda mais perigoso" em termos de controlo do aparelho do Estado.

A pouco mais de duas semanas da convenção eletiva do partido, o também deputado único liberal considera que não foi a geringonça, criada em 2015, a maior "alteração estrutural do espetro partidário português", mas sim o que aconteceu em 2019, "com o aparecimento de novos partidos, que acaba por fazer à direita aquilo que já tinha sido feito à esquerda", considerou em entrevista a agência Lusa.

"Portanto, maturidade exige-se. Exige-se maturidade aos responsáveis políticos, exige-se maturidade ao eleitorado que vai responder a perguntas mais difíceis do que aquelas que respondia no passado. Não é só escolher um ou outro", considera.

Dar sinais de maturidade sim, mas não de "cinzentismo ou de prudência", pede Cotrim Figueiredo, defendendo que a democracia portuguesa tem de "ser capaz de enfrentar problemas novos, com geometrias partidárias novas e saber encontrar confluência, capacidade de negociar e de comprometer entre forças políticas".

"Uma democracia menos madura, mais populista vota em pessoas, uma democracia mais madura vota em ideias", compara.

Ideias e visão estratégia é algo que, segundo o presidente liberal, falta ao PS, o que o conduziu "a forçar uma crise" em relação ao Orçamento do Estado para 2022, admitindo que ainda hoje não sabe "se isto não foi essencialmente propositado".

"Vai-se para eleições antecipadas em que o PS envergonhadamente pede uma maioria estável e reforçada. Pede uma maioria absoluta e eu apelo aos portugueses para que tenham uma noção de que se o PS já tentou a hegemonia do Estado que tentou com uma maioria relativa, imaginem o que faria com uma maioria absoluta", avisa.

Rejeitando comparações com a maioria absoluta de José Sócrates -- "a Iniciativa Liberal compara pouco pessoas", garante -, o deputado enfatiza que "qualquer maioria absoluta tem uma tentação tremenda de deixar de dialogar", mas esse nem é o ponto principal porque "o papel de uma oposição é tornar-se de tal forma audível que obriga que haja conversa mesmo que não haja negociação".

A Iniciativa Liberal vai realizar a VI Convenção Nacional da Iniciativa Liberal, na qual será eleita a comissão executiva, nos dias 11 e 12 de dezembro, em Lisboa, e até ao momento João Cotrim de Figueiredo é o único candidato.

Figueiredo prefere conversar com Rangel

O presidente da Iniciativa Liberal admitiu ser "mais simples" conversar com Paulo Rangel do que com Rui Rio sobre um entendimento de Governo, mas avisou que será preciso coragem porque em Portugal as reformas "não se farão sem dor".

"As políticas de Paulo Rangel - ele não gosta que eu lhe chame liberal - parecem-me mais liberalizantes. Do ponto de vista do início de conversa, parece-me mais simples", reconheceu.

O deputado liberal não deixou, porém, de manifestar "alguma simpatia pela postura austera e séria" de Rui Rio, embora considerando que nem sempre o tem conseguido demonstrar.

"Qualquer das grandes reformas que Portugal precisa de fazer, não se fará sem dor, não se fará sem um período de transição difícil. E portanto a coragem política e a capacidade de aguentar essa transição é absolutamente crucial para quem queira reformar efetivamente o país", avisou.

Cotrim de Figueiredo disponibilizou-se para se sentar com o futuro líder do PSD - Rio ou Rangel - sobre um entendimento de Governo, excluindo apenas o PS e os partidos à sua esquerda, bem como o Chega, mas alertou que chegar a um acordo depende, por um lado, "da sintonia de ideias com reflexos no programa" do executivo e, por outro, do peso eleitoral.

"Vamos ter um bom resultado no dia 30 de janeiro. Com esse resultado vamos sentar-nos à mesa, esperemos que haja possibilidade de construir uma alternativa ao Partido Socialista, e em função da força que tivermos e do que estiver em cima da mesa, logo veremos o que isso significa em termos de entendimentos políticos. Mas uma coisa nunca faremos: é pôr exigências de cargos antes de sabermos sequer de é que estamos a falar", assegurou.

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