D. Américo Aguiar: "Moralmente a Igreja tem toda a obrigação de pagar a indemnização"

por RTP

Foto: António Pedro Santos - Lusa

O bispo auxiliar de Lisboa considerou esta segunda-feira, em entrevista à RTP, que a Igreja tem o dever moral de pagar indemnizações às vítimas de abusos sexuais no seio da instituição. D. Américo Aguiar lembrou que "o sofrimento não prescreve".

“O papa Francisco relembrou há dias que não chega pedir perdão (…), nós não podemos deixar de acompanhar qualquer pessoa que tenha confiado num agente pastoral, num sacerdote - que deve significar a presença de Cristo vivo - e que tenha significado o diabo, um sofrimento inexplicável”, declarou o bispo ao 360, da RTP3.

“Se alguém for condenado a pagar uma indemnização a uma vítima e não tiver condições para o fazer, eu acho que a Igreja deve substituir imediatamente e cumprir com aquilo que seja a indemnização”, considerou.

“E também nos casos em que ficar claro que a Igreja encobriu ou criou um ambiente propício a que as coisas tivessem acontecido, moralmente a Igreja tem toda a obrigação de pagar a indemnização”.

“Nós não nos podemos alhear desse sofrimento do qual somos também parte”, acrescentou d. Américo Aguiar em relação a este tema.

Em relação aos “cinco ou seis” sacerdotes suspeitos de abusos sexuais a menores e que permanecem no ativo, o bispo avançou que a Comissão Diocesana de Lisboa pediu na passada quinta-feira à Comissão Independente que complementasse a lista de nomes entregues com todas as informações que tenha quanto a cada um deles.

Depois de receber esses dados, a Comissão Diocesana irá recomendar ao patriarca o que deve fazer, sendo uma das possibilidades “o afastamento do exercício”, ou seja, a suspensão, explicou d. Américo Aguiar.
Dioceses devem dar resposta nos próximos "dias ou semanas"
Questionado sobre a posição do presidente da República, que numa entrevista à RTP na semana passada disse estar desiludido com a resposta da Igreja, o bispo auxiliar de Lisboa disse compreender Marcelo Rebelo de Sousa, mas também o presidente da Conferência Episcopal.

“E não estou em contradição”, garantiu, já que Marcelo Rebelo de Sousa “quer celeridade (…) mas quem está dentro, como a diocese, entende que está com a celeridade que é possível”.

“Posso garantir que cada uma das dioceses está a trabalhar com verdade, com seriedade, de maneira a que as vítimas sejam respeitadas. E nós não podemos abdicar disto”, para que “a justiça e a verdade possam finalmente ser repostas”, declarou o responsável.

D. Américo Aguiar disse ainda estar convencido que nos próximos dias ou semanas “todas as dioceses corresponderão a essa urgência e a essa vontade de celeridade que o senhor presidente da República manifestou”.

No dia em que se assinalam os dez anos de pontificado do papa Francisco, o bispo considerou também que este deu continuidade aos passos iniciados por João Paulo II e por Bento XVI no que diz respeito ao combate aos abusos sexuais na Igreja.
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