Demissão Cabrita. SEF considera "excelente notícia" e GNR diz que "peca por tardia"

por Lusa
António Cotrim - Lusa

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e a Guarda Nacional Republicana (GNR) já reagiram à demissão do ministro da Administração Interna. O SEF considera ser uma "uma excelente notícia para o sistema de segurança interna", já a GNR lamenta que “peque por tardia” e que aconteça por questões políticas e eleitorais e não em consequência do trabalho não desenvolvido.

O sindicato que representa os inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) considerou hoje "uma excelente notícia para o sistema de segurança interna" a demissão de Eduardo Cabrita do cargo de ministro da Administração Interna.

"Espero que nunca mais volte a tutelar a Administração Interna, pois enfraqueceu todas as instituições que lhe competia reorganizar e reforçar"
, disse à agência Lusa o presidente do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SCIF-SEF), Acácio Pereira.

O sindicato que representa os inspetores do SEF pediu várias vezes a demissão de Eduardo Cabrita durante o processo em que esteve em discussão a extinção daquele serviço de segurança.

Acácio Pereira disse ainda que Eduardo Cabrita fica para a história como o ministro que quis acabar com o SEF, cuja extinção ficou adiada para maio devido à pandemia de covid-19.
Só "peca por tardia"
Por sua vez, a Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR) defendeu que a demissão do ministro Eduardo Cabrita só "peca por tardia" e lamenta que aconteça por questões políticas e eleitorais e não em consequência do trabalho não desenvolvido.

"Só é pena que esta demissão seja uma demissão por aquilo que foi feito ou não foi feito durante o período em que foi ministro da Administração Interna, mas sim que tenha sido por uma questão política, meramente porque vamos para eleições e por causa do inquérito que está a decorrer por causa do atropelamento do cidadão que faleceu na autoestrada. Isto já era uma atitude que o senhor ministro já devia ter tomado há muito tempo", disse à Lusa César Nogueira, presidente da APG/GNR.

O responsável da associação socioprofissional dos guardas republicanos defendeu que mais do que mudanças de ministros, a Administração Interna precisa de "mudança de políticas" e de investimento, "coisa que este ministro não avançou muito", criticando ainda o facto de se ter tornado "protagonista" de tudo o que envolvia o ministério.

"Esta demissão peca por tardia, sim, mas será nomeado por um período muito curto um novo ministro que não irá fazer nada, porque depois iremos para eleições. Enquanto as políticas da Administração Interna não mudarem o ministro pode ser qualquer um. Aquilo que nós pretendemos é que mudem as políticas da Administração Interna. A demissão do ministro era uma coisa que veio dar jeito ao Governo ainda em funções e possivelmente ao PS, que depois irá para eleições", disse César Nogueira.

O presidente da APG/GNR disse que do sucessor de Eduardo Cabrita espera poder trabalhar em propostas que deem resposta às reivindicações das polícias.

"Foi um trabalho inglório na tutela de Eduardo Cabrita. Andámos quase a passar o tempo, foi o que andámos a fazer. Ter como resultado o subsídio de risco de 69 euros, só por aí diz tudo, andamos com muitas reuniões para pouca coisa. O próximo ministro será a curto prazo, não irá mudar nada, apenas irá fazer cumprir o calendário. Agora estamos focados nas próximas eleições para ver quem irá governar e aí sim, iremos com todas as forças", disse.

Eduardo Cabrita demitiu-se hoje do cargo de ministro da Administração Interna, seis meses depois do acidente mortal provocado pelo carro em que seguia, terminando um mandato marcado por várias polémicas que desgastaram a sua imagem.

O motorista de Eduardo Cabrita foi hoje acusado de um crime de homicídio por negligência no acidente de 18 de junho de 2021 em que foi atropelado na autoestrada A6 um trabalhador que fazia a manutenção da via na zona de Évora. A acusação pelo Ministério Público (MP) precipitou a demissão de Eduardo Cabrita, que já era pedida regularmente por várias forças políticas.

Após mais de cinco meses de silêncio quase total sobre o caso, Eduardo Cabrita deixou passar apenas algumas horas sobre a acusação do MP até à decisão de apresentar a demissão do cargo, hoje anunciada ao final da tarde numa declaração aos jornalistas sem lugar a perguntas.

António Costa disse hoje ter aceitado o pedido de demissão de Eduardo Cabrita do cargo de ministro da Administração Interna. Mais tarde soube-se que a ministra da Justiça, Francisca van Dunem, irá substituir Eduardo Cabrita à frente do Ministério da Administração Interna, acumulando as duas pastas. Van Dunem deverá tomar posse este sábado, às 15h00, no Palácio de Belém.
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