Dois mortos em aterragem de emergência de avioneta em São João da Caparica

por RTP
Para o local seguiram quatro ambulâncias, uma viatura de apoio e elementos da Polícia Marítima André Kosters - Lusa

Uma aeronave ligeira fez esta quarta-feira uma aterragem de emergência na Praia de São João da Caparica, em Almada. Morreram duas pessoas atingidas pelo aparelho, uma menina de oito anos e um homem de 56. Os dois tripulantes ficaram com termo de identidade e residência e serão ouvidos na quinta-feira pelo Ministério Público.

As duas vítimas mortais foram colhidas pela avioneta, que aterrou de emergência no areal da Praia de São João na Costa de Caparica, confirmou à RTP o comandante Paulo Isabel, da Polícia Marítima.
Os dois tripulantes da avioneta saíram ilesos e foram ouvidos pelas autoridades.

Além das duas vítimas mortais, uma mulher de 45 anos “foi atingida ligeiramente e foi [transportada] para o hospital para ser assistida, mas não teve ferimentos graves, foi atingida num braço”, acrescentou.

A indicação inicial do balanço de vítimas foi dada pelo comandante Pedro Coelho Dias, porta-voz da Autoridade Marítima Nacional (AMN): “Temos a confirmação de que duas pessoas foram colhidas pela avioneta e morreram no local. As vítimas são um homem e uma criança”.

“As autoridades encontram-se no local a recolher elementos de prova” para ajudar a perceber as circunstâncias em que se deu este acidente”, explicava durante a tarde, à RTP, o porta-voz da Autoridade Marítima.

Esta informação foi posteriormente completada: “Além dos elementos a serem recolhidos, os dois pilotos estão no posto da Polícia Marítima para serem ouvidos amanhã (quinta-feira) no tribunal”.

“Tratou-se de uma aterragem de emergência. Pelos relatos de pessoas que observaram o acidente, a aeronave começou a aproximar-se muito lentamente do solo e não se ouvia ruído nenhum, de uma forma silenciosa, o que poderá indiciar que poderá ter havido uma falha no motor e que estaria só a planar”, explicou o comandante Paulo Isabel.
Voo de treino da Aerocondor
Soube-se entretanto que se tratava de um voo de treino, estando a bordo da aeronave um aluno e um instrutor sénior com “elevada experiência e milhares de horas de pilotagem”, de acordo com a informação da própria escola de aviação, a Aerocondor, ou GAir.

Refere a escola que o Cessna 152 foi alugado pela Aerocondor ao aeroclube de Torres Vedras, proprietário do aparelho e responsável pela manutenção. O instrutor, acrescenta o comunicado, tinha 56 anos e “elevada experiência e milhares de horas de pilotagem”.

A escola fez saber que irá colaborar com as autoridades no apuramento das causas do acidente e endereçou os pêsames aos familiares das duas vítimas mortais.
Termo de identidade e residência

Os dois tripulantes da avioneta ficaram com termo de identidade e residência e serão ouvidos na quinta-feira pelo Ministério Público. A informação foi avançada aos jornalistas pelo capitão do Porto de Lisboa.

Ainda de acordo com Paulo Isabel, caberá a uma procuradora ouvir os tripulantes, que já estiveram a ser interrogados pela Polícia Marítima.

Também a Procuradoria-Geral da República confirmou a instauração de um inquérito para apurar as circunstâncias do acidente com a avioneta.
"Em perfeitas condições"
O Aeroclube de Torres Vedras veio entretanto sustentar que a aeronave se encontrava "em perfeitas condições mecânicas, com todas as revisões e certificações exigidas".

Uma avioneta fez uma aterragem de emergência na Praia de São João da Caparica, em Almada. Morreram duas pessoas atingidas pelo aparelho, uma menina de oito anos e um homem de 56.


Em comunicado, a entidade proprietária do Cessna explica que haviam sido feitas todas as revisões e certificações e que a aeronave está coberta com os necessários seguros que cobrem incidentes como o desta quarta-feira.

A avioneta, afirma-se na mesma nota, estava cedida há vários anos à escola GAir, ao abrigo de um protocolo, "pelo que a operação desta aeronave é efetuada sob total responsabilidade da GAir".

O Aeroclube, que lamenta as vítimas mortais, recorda também que já estão a ser feitas peritagens no terreno e que as causas do acidente estão a ser investigadas pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários.
"Falha do motor"
Fonte aeronáutica, citada pela Lusa, adiantou que o piloto da avioneta reportou "falha do motor cerca de cinco minutos após descolar" do Aeródromo Municipal de Cascais.

As comunicações com a torre de controlo do Aeródromo de Cascais, escreve a agência de notícias, indicam que o piloto declarou uma emergência e que ia "aterrar na praia".

A torre de controlo perguntou então em que praia é que o piloto ia aterrar, tendo o mesmo respondido "na Cova do Vapor", localizada na União das freguesias de Caparica e Trafaria.
"O que se deve fazer"

Ouvido pela Lusa, o ex-diretor do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA) Álvaro Neves explicou que a amaragem é a situação normal quando uma aeronave precisa de aterrar de emergência junto a uma praia com pessoas.

Álvaro Neves, atualmente perito da Agência Europeia de Segurança da Aviação, fez questão de sublinhar, todavia, que desconhece os contornos do acidente ocorrido na praia de São João.

Considerando importante conhecer a idade e a experiência do piloto para avaliar o que sucedeu, Álvaro Neves lembra que o procedimento que se ensina nas escolas de aviação é o de amarar sempre que necessária uma aterragem de emergência junto a uma praia com pessoas.

“O que se deve fazer é afastar-se para dentro do mar”, disse, para lembrar outros procedimentos a ter em conta numa amaragem, como abrir a porta antes do impacto. No entender de Álvaro Neves, a aflição do piloto no momento de um incidente pode fazer com que tente aterrar no areal, onde a manobra é mais fácil.

c/ Lusa
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