Empresas cumprem leis mas faltam meios que impeçam propagação do fogo

por Lusa

Lisboa, 20 mar (Lusa) - O relatório da comissão técnica independente revelou que, apesar de as empresas cumprirem as normas de segurança contra incêndios, não há meios que impeçam a propagação das chamas nas áreas comuns, situação que aconselha ser "rapidamente revista e resolvida".

"Os acontecimentos demonstraram que, apesar do cumprimento dos regulamentos de segurança contra incêndios por parte das empresas, não existem infraestruturas, conhecimento ou organização adequadas para a proteção e o combate contra incêndios nas áreas comuns, que impeça, em particular, que os incêndios se propaguem entre edificações, situação que deverá ser rapidamente revista e resolvida", revela o relatório.

Segundo os peritos, não existe igualmente "uma setorização das zonas em função do risco de incêndio das empresas, que deverá ser tida em consideração na implementação de futuras áreas industriais".

O documento revela também que os danos nos edifícios empresariais foram "fortemente" influenciados por áreas "ocupadas com vegetação [matos] no seu interior (e, portanto, não submetidas à legislação em vigor para os espaços florestais)".

Contribuiu, igualmente, o "depósito a céu aberto (...) de cargas importantes de produtos inflamáveis, como madeira e seus derivados, gás, ou derivados de petróleo".

Segundo o relatório, o nível de afetação de infraestruturas empresariais é uma "situação completamente fora do comum" e, à partida, "não expectável por vários motivos", nomeadamente porque têm de respeitar "uma regulamentação exaustiva para prevenção, segurança e extinção contra incêndios".

Os incêndios de outubro terão provocado um prejuízo direto em 521 empresas, no valor de cerca de 275 milhões de euros, e afetado, pelo menos temporariamente, mais de 4.500 postos de trabalho em 30 concelhos das zonas Centro e Norte do país.

Cerca de 80% do total de empresas afetadas pelas chamas concentram-se em seis concelhos - Oliveira de Frades, Oliveira do Hospital, Mira, Cantanhede, Mortágua e Tondela - e representam um prejuízo na ordem dos 223 milhões de euros.

Em relação aos postos de trabalho afetados, o relatório refere que o número de 4.500 está subavaliado porque muitas empresas não indicaram quantos foram afetados, existindo, inclusivamente, concelhos sem esse registo, nomeadamente Oliveira de Hospital -- concelho com maior número de empresas afetadas e segundo em termos de prejuízos - Aveiro e São Pedro do Sul.

Estes seis fogos destruíram 95% (499) do total de empresas registadas, sendo os fogos de Lousã e de Arganil responsáveis por danos em mais de metade das empresas (299).

Os fogos em Quiaios, Vilarinho, Campia, Macieira de Cambra, Côja, Figueiredo e Sabugueiro concelho de Seia) terão afetado 98% do total de postos de trabalho, com os dois primeiros a afetarem cerca de 70% (3.116).

Os peritos referem ainda que haverá "muitas outras empresas" que terão sido afetadas, de forma direta e indireta, nas suas infraestruturas e atividades, mas que "não terão sido recenseadas, por não terem sido identificadas, por não se terem manifestado ou por pertencerem a setores que não foram abrangidos pelas potenciais medidas de compensação pelos prejuízos sofridos".

A comissão técnica independente que analisou os grandes incêndios rurais de 2017 entregou hoje no parlamento o relatório dos fogos de outubro, envolvendo oito distritos das regiões Centro e Norte.

O documento, que atualiza para 48 o número de mortos nesse mês, conclui que falhou a capacidade de "previsão e programação" para "minimizar a extensão" do fogo na região Centro (onde ocorreram as mortes), perante as previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento.

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